quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A LÓGICA PERVERSA DAS PASSARELAS

 Ainda com relação ao transporte coletivo, como se explica o tratamento dado aos pedestres que, por força de sua necessidade de locomoção, precisam atravessar as vias expressas, duplicadas ou não, que estão sendo construídas em toda a Nação. Todos os dias os meios de comunicação noticiam os atropelamentos, mortes e acidentes de todos os tipos, decorrentes da ausência de uma alternativa segura para a travessia de pedestres nestas estradas.

O investimento na construção das estradas é altíssimo e sem a menor consideração de custos quando se destinam à construção de rótulas, inserções, trevos, viadutos e túneis para garantir a circulação tranqüila dos veículos individuais. Mas não é esse o mesmo tratamento quando se pretende assegurar a travessia de pedestres com segurança.

Porque somente depois de mortes registradas de pedestres e da notícia da população desesperada tocando fogo em pneus para impedir o trânsito dos automóveis (insuportável incômodo para os afortunados proprietários dos veículos unitários) e reivindicando ingenuamente  construção das famigeradas passarelas como única alternativa que lhes resta, é que se procuram os paliativos para acalmar a população desesperada.

Essas reclamadas passarelas obedecem à uma lógica perversa, na medida em que exigem do pedestre um esforço exagerado para subir intermináveis escadarias ou rampas, enquanto não se exige nada dos veículos que têm tração motora e poderiam ultrapassar rampas adequadas e suaves sem o menor esforço dos seus condutores. Os pedestres atravessariam a rés do chão e os veículos fariam uma pequena aceleração para vencer as lombadas protetoras dos pedestres.

Neguem se puder, que a lógica de construção das passarelas ingenuamente solicitadas pelos pedestres sofredores, além de perversa é DESUMANA na medida em que é simplesmente INACESSÍVEL aos mais necessitados como os deficientes, gestantes, idosos, cadeirantes, etc. que, por falta de alternativas, continuam compulsoriamente condenados  a cruzar as pistas “atropelando” os veículos em trânsito.

Recentemente participei de uma audiência pública na Câmara de Vereadores de Garanhuns cujo objeto era a reivindicação de uma passarela para a travessia da estrada em acesso ao Bairro de Manoel Chéu. Até agora nada foi atendido e a própria Polícia Federal noticiou na hora que já registraram 10 (dez) mortos no local (!).

E AÍ GENTE, A VIDA DAS PESSOAS NÃO VALE NADA?

Pergunta-se, então: Para garantir-se o direito de circulação dos pedestres é indispensável sacrificá-los com esforços que são incapazes de executar? É justo obrigar os mais necessitados e vulneráveis por falta de condições físicas para utilizar as famigeradas passarelas, a atravessar as pistas “atropelando” os veículos com elevado risco de morte? Será que os pedestres tidos como inválidos são cidadãos de enésima categoria e não merecem a proteção do Poder Público? Por que se exige do pedestre esforço sobre-humano para atravessar as pistas numa altura superior a cinco metros (limites de segurança dos veículos de carga!) quando, ao inverso, se exigiria dos veículos tracionados por motores apenas pouco mais de dois metros para proteger a travessia das pessoas à rés-do-chão? Por que todo projeto de implantação de estradas considera, desde logo, a construção de rótulas, anéis de retornos, trevos, viadutos, etc. para garantir a rápida movimentação dos veículos a custo altíssimo e não antecipam as pequenas lombadas que permitiriam aos pedestres cruzar as estradas em segurança e sem maiores esforços? Por que as despesas são irrelevantes quando se trata de agilizar as manobras e o tráfego de veículos auto-motores, e tidas como insuportáveis quando reclamam igual tratamento providências bem mais simples e baratas para facilitar a movimentação dos pedestres?

Os maiores e mais tristes exemplos de PASSARELAS PERVERSAS estão no Recife:

a) na passarela perversa da BR-232 que pretensamente atenderia aos pacientes debilitados do Hospital Pelópidas Silveira e não tem um só desses pacientes que possa usá-la!

b) na passarela perversa na BR-101, no trecho mais congestionado em frente ao Hospital das Clínicas, em que “inventaram” um elevador que nunca funciona, o que obriga os deficientes a atravessarem a via atropelando os veículos!

c) na passarela perversa da Avenida Sul que liga o Terminal Integrado do Largo da Paz ao Metrô. Pense na altura e na distância que os usuários têm de percorrer!

d) na passarela perversa e faraônica que inventaram na transposição da Imbiribeira, ligando o terminal do Metrô à Estação de Passageiros do Aeroporto, a um custo de VINTE E SETE MILHÕES DE REAIS (!), e um trajeto de CERCA DE 400 METROS (!) que a inviabiliza para pedestres, na medida em que os obriga a caminhar toda essa distância para se permitir atravessar os 24 metros da avenida. E tudo isso (pasmem) para, ao final, cobrarem pedágio!

Sem demagogia barata: Só porque é COISA DE POBRE ?

 

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