O investimento na construção das estradas é
altíssimo e sem a menor consideração de custos quando se destinam à construção
de rótulas, inserções, trevos, viadutos e túneis para garantir a circulação
tranqüila dos veículos individuais. Mas não é esse o mesmo tratamento quando se
pretende assegurar a travessia de pedestres com segurança.
Porque somente depois de mortes registradas
de pedestres e da notícia da população desesperada tocando fogo em pneus para
impedir o trânsito dos automóveis (insuportável incômodo para os afortunados
proprietários dos veículos unitários) e reivindicando ingenuamente construção das famigeradas passarelas como
única alternativa que lhes resta, é que se procuram os paliativos para acalmar
a população desesperada.
Essas reclamadas passarelas obedecem à uma
lógica perversa, na medida em que exigem do pedestre um esforço exagerado para
subir intermináveis escadarias ou rampas, enquanto não se exige nada dos
veículos que têm tração motora e poderiam ultrapassar rampas adequadas e suaves
sem o menor esforço dos seus condutores. Os pedestres atravessariam a rés do
chão e os veículos fariam uma pequena aceleração para vencer as lombadas
protetoras dos pedestres.
Neguem se puder, que a lógica de construção
das passarelas ingenuamente solicitadas pelos pedestres sofredores, além de
perversa é DESUMANA na medida em que é simplesmente INACESSÍVEL aos mais
necessitados como os deficientes, gestantes, idosos, cadeirantes, etc. que, por
falta de alternativas, continuam compulsoriamente condenados a cruzar as pistas “atropelando” os veículos
em trânsito.
Recentemente participei de uma audiência
pública na Câmara de Vereadores de Garanhuns cujo objeto era a reivindicação de
uma passarela para a travessia da estrada em acesso ao Bairro de Manoel Chéu.
Até agora nada foi atendido e a própria Polícia Federal noticiou na hora que já
registraram 10 (dez) mortos no local (!).
E AÍ GENTE, A VIDA DAS PESSOAS NÃO VALE NADA?
Pergunta-se, então: Para garantir-se o
direito de circulação dos pedestres é indispensável sacrificá-los com esforços
que são incapazes de executar? É justo obrigar os mais necessitados e
vulneráveis por falta de condições físicas para utilizar as famigeradas
passarelas, a atravessar as pistas “atropelando” os veículos com elevado risco
de morte? Será que os pedestres tidos como inválidos são cidadãos de enésima
categoria e não merecem a proteção do Poder Público? Por que se exige do
pedestre esforço sobre-humano para atravessar as pistas numa altura superior a
cinco metros (limites de segurança dos veículos de carga!) quando, ao inverso,
se exigiria dos veículos tracionados por motores apenas pouco mais de dois metros
para proteger a travessia das pessoas à rés-do-chão? Por que todo projeto de
implantação de estradas considera, desde logo, a construção de rótulas, anéis
de retornos, trevos, viadutos, etc. para garantir a rápida movimentação dos
veículos a custo altíssimo e não antecipam as pequenas lombadas que permitiriam
aos pedestres cruzar as estradas em segurança e sem maiores esforços? Por que
as despesas são irrelevantes quando se trata de agilizar as manobras e o
tráfego de veículos auto-motores, e tidas como insuportáveis quando reclamam
igual tratamento providências bem mais simples e baratas para facilitar a
movimentação dos pedestres?
Os
maiores e mais tristes exemplos de PASSARELAS PERVERSAS estão no Recife:
a)
na passarela perversa da BR-232 que pretensamente atenderia aos pacientes
debilitados do Hospital Pelópidas Silveira e não tem um só desses pacientes que
possa usá-la!
b)
na passarela perversa na BR-101, no trecho mais congestionado em frente ao Hospital
das Clínicas, em que “inventaram” um elevador que nunca funciona, o que obriga
os deficientes a atravessarem a via atropelando os veículos!
c)
na passarela perversa da Avenida Sul que liga o Terminal Integrado do Largo da
Paz ao Metrô. Pense na altura e na distância que os usuários têm de percorrer!
d)
na passarela perversa e faraônica que inventaram na transposição da
Imbiribeira, ligando o terminal do Metrô à Estação de Passageiros do Aeroporto,
a um custo de VINTE E SETE MILHÕES DE REAIS (!), e um trajeto de CERCA DE 400
METROS (!) que a inviabiliza para pedestres, na medida em que os obriga a
caminhar toda essa distância para se permitir atravessar os 24 metros da
avenida. E tudo isso (pasmem) para, ao final, cobrarem pedágio!
Sem demagogia barata: Só porque é COISA DE POBRE ?
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