A Nação
inteira assiste, estarrecida, o noticiário sobre a corrupção que toma conta,
diariamente, dos meios de comunicação do país. A reincidência é de uma
frequência assustadora e a sua difusão reiterada revela uma abrangência enorme,
envolvendo a maioria das instituições brasileiras, em todas as esferas e
alçadas do poder. Sucedem-se denúncias, indiciamentos e prisões chanceladas
pelo Ministério Público e Poder Judiciário, que revelam a existência de
instituições ainda não contaminadas pela praga que assola a Nação mas, ao mesmo
tempo, indica uma capilaridade preocupante da corrupção.
Após o
episódio do chamado “Mensalão” que condenou e prendeu 23 criminosos, na
Operação Lava Jato – sem contar com a apuração em curso do ocorrido no Metrô de
São Paulo e outras instituições públicas - já foram investigados, denunciados e
indiciados mais de trinta figurões das empreiteiras, funcionários, Diretores e
Ex-Diretores da Petrobrás e alguns deles presos com habeas-corpus denegado pelo
Supremo.
Já se
informa que isso é apenas o começo, pois as delações premiadas devem gerar a denúncia algumas dezenas de
suspeitos, inclusive políticos de todas as
origens, e o mais assustador é a generalização da corrupção, quando se desvia o
foco do problema para uma desavergonhada discussão sobre quem tenha roubado
mais ou menos, quando a GRANDE QUESTÃO é o combate sem tréguas a toda a
corrupção, venha de onde vier. Fica muito claro que essa tolerância ante o
crime tem raízes profundas na cultura dominante de uma sociedade, que tem como
objetivo tirar sempre vantagem em tudo e o consumo desbragado das coisas
secundárias.
Revela-se
como um corpo social doente, psicopata, com cartolas de clubes capazes de proteger
bandos criminosos travestidos de torcida organizada e de pessoas dispostas a
exaltar os linchamentos e ainda discutir se seriam justos ou injustos, de acordo
com o julgamento de uma turba descontrolada e selvagem.
De pessoas
que consideram mais importante cuidar de suas unhas do que zelar pela segurança
de crianças que lhes são confiadas e de pais mais preocupados com as suas
obrigações profissionais do que a formação dos seus filhos, levando-as à morte. Com
uma terrível sedução imposta por todos os meios de comunicação, desde a
infância, pelas roupas de “grife” em que não discute a qualidade e sim a marca da
etiqueta.
De uma
grande parcela da população que esquece os mais comezinhos princípios e valores
sadios de ascensão social para dedicar-se a gastos supérfluos para assistir os
BBB’s da vida! E o pior, com uma imprensa que pretende ser a formadora de
opinião da nação brasileira, anunciando nas suas manchetes em letras garrafais
que: “LINCHARAM UMA INOCENTE” como se houvesse diferença no caso de culpa.
A manchete
carrega, em si mesma, um pré-julgamento doentio, desumano, anti-cristão que
denuncia a existência de uma sociedade seguramente depravada por valores
materiais que contrariam qualquer regra de convivência social digna. É por isso
que assistimos, a despeito de uma farisaica condenação à corrupção, todo o
mundo roubando todo o mundo e chamando os outros de ladrão (vide bancos,
supermercados, operadores de telefonia, farmácias, cartões de crédito, etc.,
etc. etc.).
Percebe-se a
generalização da prática de pequenos delitos que são a gênese dos grandes
crimes. Ninguém respeita as infrações de trânsito, mas reclamam quando os
outros a cometem; condena-se o recebimento de propinas que não existiriam se
não fosse a existência dos corruptores; fura-se até as filas preferenciais dos
deficientes sob os mais indigentes pretextos; condenam a má limpeza das
cidades, mas são os primeiros a jogar lixo nas ruas; abdicando de suas
responsabilidades, os pais jogam as crianças nas escolas com uma esfarrapada pretensão
de dar-lhes Educação, quando na verdade a Escola dá apenas Instrução e, daí em
diante, haja gente grosseira e mal educada.
Tudo isso
nos leva à conclusão inarredável de que nunca conseguiremos uma Nação mais
justa, solidária, igualitária e decente se não aperfeiçoarmos a sociedade que
nós estamos construindo, sobretudo quando considerarmos que qualquer segmento
extraído desse corpo social carregará, inevitavelmente, as mesmas mazelas e
deformações da sua genetriz. Costumo repetir a comparação grosseira: Ninguém
conseguirá extrair um mosteiro de noviças dentro de um bordel!
Sei que é
muito difícil, mas observei nos últimos tempos algumas definições que me animam
e me levam ainda a acreditar na humanidade, e espero, até morrer. Ninguém nasce
mau e depravado. Somos todos responsáveis por toda a miséria que nos cerca!
Li
recentemente uma entrevista do grande humanista e Presidente do Uruguai, José
(Pepe) Mujica, referindo-se a sua apaixonada militância política na mocidade,
afirmou com a singeleza e verdade que lhe caracteriza, que:
“QUANDO A GENTE É JOVEM ACREDITA QUE PODE MUDAR O MUNDO, MAS HOJE
ME SATISFAÇO QUANDO CONSIGO DAR UMA MELHORADAZINHA NO MEU BAIRRO”
Gosto muito
de aprender com a população e um dia fui surpreendido por um popular que me
disse:
“DOTÔ, QUANDO A GENTE QUER LIMPAR NOSSA CIDADE COMEÇA LOGO A
VARRER NOSSA CALÇADA”.
Que tal
começar fazendo, cada um, a sua parte ? Seria
de bom tamanho e começaria a dar uma melhoradazinha na sociedade em que vivemos
e compartilhamos!
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