domingo, 21 de fevereiro de 2016

COMPLEXO DE BRUGUELOS

Todos sabem e, às vezes por experiência própria, conhecem bem a vida dos filhotes de passarinho.  Enquanto não alçam voo próprio, permanecem amontoados no ninho à espera da ave-mãe para se alimentarem e, por consequência, sobreviverem. A rotina é exasperante com os bruguelos ansiosos, bicos abertos voltados para o céu, à espera da provedora que lhes trará o alimento salvador que ela, previdente, trará em suas próprias entranhas e o regurgitará diretamente no bico do filhote faminto. Impassíveis, nada fazem a não ser o piado insistente e lamurioso. E triste é a fatalidade que muitas vezes acontece pela morte, acidente ou prisão da ave-mãe que, dessa forma, fica impedida de socorrer os filhotes carentes, e disso resultando a morte inevitável dos desvalidos dependentes.

Quando reflito sobre a desdita dos filhotes que sucumbem por uma espera frustrada da ave-mãe, é inevitável estabelecer-se um paralelo com a nossa querida Garanhuns, sempre à  eterna e passiva espera dos benefícios carreados pelos incertos benfeitores, sem que suas próprias lideranças promovam e criem iniciativas imprescindíveis para a alavancagem do seu desenvolvimento.

Não assumimos ações propositivas; não planejamos; não concebemos projetos; não discutimos ações; não debatemos alternativas; não buscamos novas formas de produção; não garimpamos parcerias; não fomos capazes, sequer, de provocar um investimento do Governo Federal no comando de um conterrâneo durante oito anos; e quando o Município perde posição, ficamos reclamando dos outros por não terem cumprido um papel que era de nossa responsabilidade.

Até hoje não conseguimos, sequer, identificar a vocação de desenvolvimento para nossa terra, limitando-nos a uma crítica não fundamentada sobre a ausência de indústrias, esquecendo as mal sucedidas experiências anteriores. Será que nossas lideranças ainda acreditam que empresas virão instalar-se em Garanhuns, sem que tenham assegurado apoio institucional e condições favoráveis de mercado consumidor, logística de distribuição, matéria prima e mão de obra qualificada? Será que os exemplos exitosos não foram suficientes para alargar a cabeça dos nossas lideranças?

Eduardo Campos entendia que a vocação de Garanhuns seria dirigida para os polos de turismo e educacional e eu exemplifico: os maiores sucessos nessa área que não foram trazidos de fora, mas sim criados pela iniciativa de nossas lideranças: na área cultural, como força geradora, o passo inicial promovido por Souto Dourado em 1968/72, através da criação do Centro Cultural de Garanhuns; na área universitária que abriga hoje centenas de professores, doutores e milhares de alunos, a genetriz foi a inspiração de Amílcar Valença com a fundação da Faculdade de Administração de Garanhuns, em 1977, que gerou a AESGA; na área turística, a criação do Festival de Inverno por iniciativa de Ivo Amaral que ganhou força e  situa-se atualmente como um dos maiores festivais do  Brasil.

Sou do tempo em que Garanhuns disputava com Caruarú a primazia entre os municípios do Estado e era um páreo duro! Era um grande centro educacional, com três colégios centenários que atraiam estudantes do Ceará a Alagoas.  Inaugurou a primeira Rádio Emissora do interior, com alta qualidade técnica e cultural, incorporada à Rede Jornal do Comércio, com sua pouco modesta afirmação de “Pernambuco Falando Para o Mundo”. Primeiro Bispado do interior, somente muitos anos depois seguido por Caruarú, Palmares, Nazaré da Mata, Pesqueira e Afogados da Ingazeira.

O Terminal Ferroviário mais importante do interior do Estado da Great Western of Brazil Railway Co. (GWBR) desde 1887, assegurando expressiva distribuição e coleta de mercadorias na grande região do Agreste. Cinco grandes usinas de compra, beneficiamento, distribuição e exportação de cereais: Manoel Pedro da Cunha, Schenker Barbosa, Pinto Alves e as multi nacionais Sanbra e Anderson Clayton. As montanhas de fardos de algodão, sacos de café, feijão, milho e mamona extravasavam dos armazéns ocupando até as calçadas das usinas. Inúmeras fazendas produzindo café fino, tipo exportação, que era exibido nas vitrinas da Europa, com a recomendação e o rótulo de “Café de Garanhuns”.

Uma vida cultural intensa com publicação e edição de livros, revistas e jornais, alcançando o feito extraordinário de possuir um jornal diário em circulação, o “Garanhuns Diário”, fruto do pioneirismo do grande Dario Rego. Um grupo teatral amador, o “Grêmio Polymáthico de Garanhuns”, constituído por notáveis artistas amadores e com frequentes programações. Duas instituições expressivas para formação de menores carentes: a Fazenda Santa Rosa e o Abrigo Bom Pastor, que atraíam adolescentes de todo o Estado.

Até quando surgem as reclamações, elas são fora de foco. Quando acontece um acidente no sistema de bombeamento ou na adutora que acarreta deficiência temporária do abastecimento dagua, com toda razão é natural que surjam as reclamações, mas de pronto exacerbadas pelo exagero de acusar os governos por inoperância, esquecendo que foi o Governo de Eduardo Campos que, com dois anos e quatro meses de mandato, arrancou Garanhuns de um RACIONAMENTO DE TRINTA ANOS e ignorando que, mesmo no auge da seca que vem assolando o Estado, nossa cidade foi uma das pouquíssimas que mantiveram abastecimento dágua durante 24 horas.

Em contraponto e para certificar o que afirmo, somos relapsos para fazer a parte que nos toca: no Governo de Arraes foi construída a barragem da Cajarana e no Governo de Eduardo Campos foi implantada a adutora para abastecimento de São Pedro, tornando a vila independente do ramal da cidade. Felicidade completa, mas ninguém foi às ruas para protestar quando os predatórios tomateiros de Camocim, com suas plantações à montante da barragem, poluíram a barragem com agro-tóxicos e a SECARAM TOTALMENTE, deixando a vila sem abastecimento, sendo necessário restabelecer o ramal desativado da cidade. Está lá para quem quiser ver! E ainda surgiram lideranças políticas irresponsáveis que na época preparavam Festivais do Tomate.... com todas as pompas e foguetórios! E ainda bem que a barragem secou antes de começar a mortandade de gente intoxicada!

Recentemente, extinguiu-se um festival bem sucedido e já consolidado em oito edições, como comprovam as informações oficiais da edilidade, decisão que resultou em significativos prejuízos para o Município (do hoteleiro ao pipoqueiro, até aos cofres municipais) e, nem por força do prejuízo individual esboçou-se a menor reação. Não fora a manifestação individual de milhares de pessoas através das redes sociais e tudo correria sob o olhar tolerante da sociedade organizada.

Atualmente, ao invés de disputar a primazia, Garanhuns desespera-se na luta para não sair da lista dos dez maiores municípios do Estado, uma vez que já foi ultrapassado por Vitória de Sto. Antão, Ipojuca, Cabo, Olinda, Jaboatão, Paulista, Caruarú, Petrolina e temos no nosso encalço Goiana, Igarassú, Gravatá e Serra Talhada. Continuamos, entretanto, com os bicos abertos voltados para o ar, esperando que alguma fada madrinha venha nos socorrer. Aceitamos ser coadjuvantes, sem assumir o protagonismo que seria de nossa obrigação. Quando é que vamos entender que o dever e a iniciativa são nossas e não dos outros?

Essa ideia entrou em minhas reflexões, comparando-a com a passividade de Garanhuns diante dos malefícios que se cometem, constantemente, para seu prejuízo, sem que se levante uma reação da sociedade organizada (desorganizada?) da nossa terra. Nem quando arrostam prejuízos irreparáveis em suas próprias atividades, tomam qualquer iniciativa para reverter os procedimentos daninhos. Os exemplos são costumeiros, aberrantes, em sucessão enfadonha, sem que se levante uma voz ou mobilização, sequer, de reação, protesto ou revolta. Manifesta-se somente num enfadonho “piado de bruguelos famintos”, lamuriento e sem fim do QUE JÁ ERA e do QUE ACABOU...e o lamento pela ausência da ave-mãe que nunca chega com a comida!






quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A QUESTÃO DA CAIXA PRETA

Decididamente, meu caro amigo Izaías, estou preocupado com sua incontinência verbal, pois quanto mais fala mais comete deslizes. Em recente entrevista na Rádio Jornal, conforme noticiário repercutido nos blogs da cidade, abordou uma questão muito séria que envolve a Câmara de Vereadores acerca de uma pretensa caixa preta existente, denunciada pelo Vereador Alcindo Correia e contestada pelo seu Presidente, Vereador Gersinho Filho, sem esquecer que Alcindo avisou que após o Carnaval iria denunciar e abrir a tal “caixa preta”.

Conforme divulga o blog de Carlos Eugênio, “o Prefeito Izaías Régis (PTB) deixou claro que não vai se envolver na confusão gerada na Câmara de Vereadores de Garanhuns por conta das declarações do vereador Alcindo Correia (PSDC), que revelou não concordar com os serviços de reforma que vêm sendo realizados no prédio do Poder Legislativo Municipal e prometeu fazer revelações após o período carnavalesco, ação ainda não concretizada. 

NÃO VEJO E NEM QUERO VER! PORQUE NÃO ENTRO NA SEARA DOS PARLAMENTARES, POIS SÃO TODOS MEUS AMIGOS!”. Foi com essa posição que Régis respondeu ao questionamento do jornalista Eduardo Peixoto, durante entrevista na Rádio Jornal sobre o polêmico tema. Apesar de se mostrar alheio a polêmica, o Prefeito fez questão de avaliar a situação como “Cidadão de Garanhuns” e considerou desnecessária a confusão, haja vista NÃO VER, ATÉ O MOMENTO, QUALQUER PROBLEMA NA CÂMARA DE VEREADORES E NÃO ACREDITAR “NESSE NEGÓCIO DE CAIXA PRETA”, pontuou Izaías.”

Veja, caro amigo, quanta contradição você comete. Para começo de conversa, afirma que não vai se envolver na confusão gerada por conta das declarações do Vereador Alcindo, pois todos são seus amigos e na mesma hora diz não acreditar nesse negócio de Caixa Preta, ou seja, DESACREDITA a afirmação de Alcindo. Antes de mais nada, esquece que é o Prefeito, supremo mandatário do Município, e que não deve fazer declarações desse tipo, dizendo e se desdizendo ao mesmo tempo, sem qualquer justificativa séria.

Essa desculpa também de alegar que não entra na questão “POR SEREM TODOS SEUS AMIGOS” não pode ser justificativa, uma vez que se trata de uma questão séria denunciada por um Vereador e não uma rifa entre amigos. É uma denúncia grave e eu admitiria até a desculpa se alegasse a questão da autonomia dos poderes, desaconselhando  institucionalmente sua interferência, mas não a fragilidade de uma leniência frouxa em que, pelo acumpliciamento da amizade todos se salvariam. Nós estamos tratando da coisa pública que exige tratamento sério e não evasivas.

Meu caro Izaías, D. Helder já dizia que : “o povo sabe....” e não admite ser tratado como um bando de imbecis. A questão está colocada e exige uma resposta clara, sem sofismas e sem fuga do seu foco: OU A SUA CRENÇA É VERDADEIRA, NÃO EXISTE CAIXA PRETA E ALCINDO FEZ CHANTAGEM COM AMEAÇAS À MESA DIRETORA DA CASA ou, ao inverso, SUA CRENÇA NÃO PROCEDE E ALCINDO ESTÁ NA OBRIGAÇÃO INARREDÁVEL DE ABRIR A TÃO FALADA CAIXA PRETA.

Sem quaisquer ilações cavilosas ou insinuações maldosas, pois não sou de fazer acusações sem fundamento, reclamo que o grande foco da questão ainda não foi considerado, abordado e muito menos esclarecido: Por quais razões, um prédio novo com apenas cinco anos de uso, está a exigir uma “reforma” ao custo inicial de quase SEISCENTOS MIL REAIS? Dentro do quadro de crise nacional, a situação do prédio está tão degradada a ponto de exigir prioridade para essa “reforma”?  Se a prioridade não é tanta, porque não se dá um melhor destino a tão expressivo recurso? Se houvesse um acordo do bem, entre o Prefeito e a Câmara, não teria sido suficiente para investir produtivamente essa verba, capaz até de bancar DOIS Festivais de Jazz com excepcional retorno econômico e cultural ao Município? 

O Brasil inteiro está assustado com uma onda avassaladora de corrupção que parece dominar todos os setores da sociedade, e todo agente público tem o dever de esclarecer de forma transparente toda e qualquer dúvida levantada. Não existe outra saída, resolvam a questão pois o povo está cansado e, se por acaso você negar-se ao esclarecimento eu respeito pois somos amigos, mas não aceito que mande preposto me responder. 



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

AOS AMIGOS DE GARANHUNS


Devo uma satisfação aos meus amigos diante de críticas que, de repente e forma descabida, tentam me desqualificar politicamente usando argumentos de natureza eleitoral. A grande acusação é que jamais ganhei uma eleição, sofri três derrotas eleitorais, levando pisa feia numa delas. Negam-me, por isso, ter condições de dar lições de política a quem quer que seja.
Pela primeira vez, vou usar de empáfia e contar minha história de vida, que me orgulha muito e muitos dos que me acusam, dificilmente, conseguiriam igualar. Na minha visão, as derrotas eleitorais que sofri não me diminuem e sim enaltecem.
Para quem não sabe, sempre me considerei ruim de votos e só fui candidato durante a ditadura, quando poucos ousavam ser e muitos dos que hoje posam de “democratas”, mudavam de calçada para não me cumprimentar, fugindo de mim como o diabo da cruz. Mas entendia que era preciso resistir e resisti, disputando duas eleições para deputado e uma para Prefeito (1974 a 1978) sabendo que ia perder. Para quem acha que ter votos é mérito político, deve ter Tiririca como grande líder nacional. Para mim foi coerência, cumpri o meu dever de cidadania... e ganhei politicamente! Quando a normalidade democrática foi restabelecida, senti-me dispensado e nunca mais admiti disputar cargo eletivo algum, ou seja, a exatos 37 anos!
Servi com muita honra aos três governos de Arraes, dois de Eduardo Campos e ocupando cargos de destaque nas administrações. Recebi confiança e nunca a deslustrei. Do mesmo modo, sirvo ao Governo de Paulo Câmara e me sinto honrado. Não vou entrar em discussões opinativas, mas todos logo irão constatar que, dentro do quadro de crise instalada no país, são muito poucos os Estados que continuam equilibrados, pagando em dia os seus servidores e tiveram a sorte de ter um governador previdente como o nosso.
Gozo o respeito de lideranças de todo o Estado, nisso incluindo colegas de trabalho, deputados, prefeitos, vereadores, companheiros de Partido, lideranças comunitárias e familiares dos governadores já falecidos e de jornalistas do mais alto nível incluindo alguns que são amigos pessoais (cito Evaldo Costa, Inaldo Sampaio, Ivan Maurício, Jodeval Duarte, Homero Fonseca, João Rego, Aldo Paes Barreto, Ítalo Rocha, Ricardo Carvalho, José Adalberto Ribeiro, Ruy Sarinho, José Nivaldo Júnior, Magno Martins, Edvaldo Morais na imprensa da Capital, com destaque ainda para os de nossa terra, como Ronaldo Cesar, Gláucio  Costa, Carlos Eugênio, Gidi Santos, Kitty Alves, Selma Melo, Marcos Cardoso e Fernando Rodolfo, entre outros). Tenho um diploma emoldurado na parede em minha casa, do Instituto Miguel Arraes a mim conferido “por sua destacada atuação no Governo do Estado de Pernambuco”.
Sempre fui aliado amigo e fiel, mas nunca vassalo, e divergi muitas vezes para preservar os meus princípios, inclusive no episódio da candidatura de Antônio João, com quem Isaías se aliou para garantir o apoio do PSB à sua candidatura, depois de fazer um dos mais empolgados discursos contra a “candidatura estrangeira”.
Quando me senti desconfortável, depois de cinco anos de trabalho árduo chegando a responder durante um ano pela Presidência da instituição, RENUNCIEI A TRÊS ANOS DE MANDATO DE DIRETOR DA ARPE que me restavam, pedi minha exoneração, botei o chapéu na cabeça e sem alarde fui embora para casa. Sem depreciar ninguém, quantas pessoas seriam capazes de igual comportamento?
Fui vereador em duas legislaturas, com muito orgulho, inclusive em 1968/1972 sem remuneração. Restam apenas dois sobreviventes de bancada: os companheiros Antônio Edson e Paulo Faustino como testemunhas de minha atuação, além dos arquivos da Casa que registram o nosso desempenho e - posso assegurar - não existiam caixas pretas naquela época. Restaurada a democracia, surgiu uma legislação ressarcindo todos os prejudicados pelos atos discricionários da ditadura. Poucos sabem que, mesmo sem recriminar companheiros que receberam esse ressarcimento legal, NUNCA SEQUER REQUERÍ o benefício a que tinha direito. Quantas pessoas conhecem ou têm notícia de outro beneficiário com igual desprendimento?
Cometem uma injustiça quando me acusam de não conseguir benefícios para Garanhuns e obrigam-me a explicar às novas gerações e contar ao povo da minha terra que fui, com muito orgulho, o Coordenador do Programa de Eletrificação Rural nos dois governos de Arraes, que resultou no maior programa de eletrificação rural da América Latina e, para não ser prolixo, bastaria este fato para comprovar o meu trabalho.
Busquem a informação para verificar que no final do Governo, Garanhuns detinha um percentual acima de 80% de sua zona rural eletrificada, bem como os municípios do seu entorno. Quem tiver dúvida, percorra a nossa zona rural e peça o testemunho dos moradores e lideranças de Riacho da Espera, Papa terra, Roncaria, Cruzes, Cachoeirinha, Tiririca, Jardim, Mimosinho, Várzea Comprida, Mochila de Baixo e Mochila de Cima, Baixa da Telha, Escorregão, Castainho, Sapucaia, Inhumas e muitos outros, e perguntem se ainda recordam a presença de Ivan Rodrigues nas suas casas e nas constantes inaugurações. O povo não esquece e se não for suficiente para os incrédulos, procurem o testemunho dos antigos servidores da Celpe em Garanhuns.
Durante os governos municipais de Bartolomeu e Silvino, Garanhuns não tinha deputados como representantes. Quem quiser consulte os dois ex-Prefeitos sobre a constante colaboração de Ivan Rodrigues com os seus governos e na luta pela obtenção dos benefícios. Falar é fácil e distribuir aleivosias mais fácil ainda, sobretudo quando não faltam os mestres de obras feitas para requerer paternidade dos benefícios, tão logo elas são anunciadas. Ivan Rodrigues NUNCA REIVINDICOU PATERNIDADE de qualquer obra em governo algum a que serviu.
O patrimônio que possuo foi conquistado quando fora do serviço público. Não tenho a confortável previdência pública e apenas uma aposentadoria de INSS, conquistada em atividade privada, que mal dá para pagar meu plano de saúde e de minha mulher em face custo por nossa idade avançada, mas não me arrependo, pois meu saudoso pai, o velho Zé Batatinha me ensinou que: “No dia em que tiver de ser escravo, não quero nem saber o nome do  dono, pois tenho que lutar contra a escravidão e não contra o meu senhor”.
As benesses nunca me seduziram, o poder não me embriaga, nunca recebi galardões nem comendas e nem as solicitei, não aspiro elogios fáceis que não me sensibilizam, não me atingem julgamentos apressados e levianos, nunca reivindiquei favorecimentos pessoais e minha única preocupação é a absoluta compatibilidade que preciso manter com meu travesseiro, quando coloco minha cabeça sobre ele e repouso serenamente, a cada dia vencido.

Obrigado, amigos, pela atenção!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O INFERNO ASTRAL DE ISAÍAS

Parece que a visita ao berço da civilização latina não lhe fez bem, pois o nosso Prefeito Isaías continua cometendo infelizes deslizes verbais. Aproveitou-se do sério ritual de sua apresentação de contas do exercício de 2015 à Câmara de Vereadores, para fazer acusações apressadas e não comprovadas ao Governo do Estado.
Ao esquecer da sua responsabilidade de legítimo e supremo mandatário do Município, sem o menor comedimento da liturgia do cargo e sem a menor cautela de comprovação, acusa de forma leviana, sem nominar responsáveis:

O Governo do Estado mandou a Assistência Social esconder uma ambulância e (disse) peça a ambulância ao Município. Como se o Município tivesse mais dinheiro que o Governo do Estado. Mande esconder a ambulância, peça ao Município”, relatou o Prefeito de Garanhuns, durante discurso na abertura do ano Legislativo da Câmara de Vereadores, realizada no auditório da AESGA, na última segunda-feira, dia 1º. Segundo Régis uma assistente social do Hospital Dom Moura teria lhe repassado a informação.” (Fonte: Blog de Carlos Eugênio)

Meu caro Isaías: A dignidade do cargo que você ocupa, não lhe permite a liberdade de prestar-se à condição de delator, sem apontar os agentes responsáveis pelo cumprimento da ordem e pela obediência à maluca determinação. O Governo (segundo a sabedoria popular, Governo é muita gente!) do Estado é impessoal, caro amigo, e você teria a obrigação e o dever institucional de nominar não só o autor desse desabrido comando, como da assistente social que lhe informou e do subordinado que a executou se é que aconteceu. E tudo isso obedecendo à liturgia do cargo que ocupa (parece até que você não entendeu ainda!) através dos instrumentos institucionais que devem presidir a relação entre as diferentes esferas do poder.

A cooperação entre os Poderes e a solidariedade entre os cidadãos para melhor atender à população, é apanágio inarredável para o aperfeiçoamento das instituições e a consecução do bem comum. Não deixe sua denúncia no vazio, nem na expectativa da abertura de caixas pretas. Sua responsabilidade impõe que não deixe sua acusação no ar, sem indicar os autores da ilicitude, para não se transformar em mera especulação sem qualquer base fática ou comprovação. Inclusive para contribuir para um competente inquérito administrativo com o objetivo de identificar o(s) autor(es) da ilicitude cometida.

Até que fiquei feliz com a sua acertada decisão de desistir do equivocado alargamento da Av. Ruy Barbosa, mas volto a me preocupar com uma possível embriaguez de poder que parece lhe encantar. Vou ser bem didático. O exercício da política exige uma busca permanente dos pontos de convergência, respeitando as possíveis divergências que eventualmente ocorrem entre os Poderes e todas as suas esferas e alçadas. Por maiores que sejam ou pareçam ser os ocasionais desentendimentos, não se pode perder de vista que o objetivo maior das governanças é o bem comum, mesmo que, por vezes, essa postura possa ser estranha a quem tem sua mente bitolada por estreitas visões do processo político.   

Reconheço que não é fácil e muitas vezes a gente se perde no tormentoso caminho da coerência, mas temos a obrigação de persistir, considerando que a trilha da democracia é a mais árdua vereda a seguir. Pertencemos a um país jovem com espasmos periódicos de exercício democrático e, como você sabe e viveu muito bem, estamos atravessando o mais longo período de prática democrática que o Brasil conheceu.  Exige de todos nós que, acima dos interesses pessoais e da luta pelo poder, não percamos de vista o interesse maior do bem comum, tendo como objeto o povo brasileiro, sem esquecer que sua grande maioria é composta de gente carente dos mais elementares direitos da cidadania.

Esse tipo de discussão não tem a menor importância para a imensa maioria da população. O necessitado quer a ambulância para lhe socorrer, pouco lhe importando a quem pertence o veículo. Quer o remédio receitado para melhorar sua saúde ou, até, para salvar sua vida que é preciosa para si e os seus familiares.  Quer o exame laboratorial para identificar o mal que lhe aflige e poder curá-lo, sem tornar-se devedor do “generoso” doador. È obrigação do Estado, bem como do Município, prestar o benefício sem deixar o assistido como escravo do favor, da mesma forma que o sedento não pode ser devedor do carro-pipa que lhe levou uma lata dagua, nem o pobre submisso à escola pública que educou seus filhos.

Cuidado amigo, que essa incontinência verbal com acusações apressadas está lhe conduzindo à areias movediças que são fáceis de acessar, mas muito difícil de se livrar. Não se deve acusar quando não se pode provar.




terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

FAZENDA SANTA ROSA

Poucos dias atrás, no Facebook, mantive um bom e respeitoso debate com Luciclaudio Góes e, como sempre me acontece, busco na memória referências familiares de antigamente. Foi inevitável a lembrança do meu grande amigo Zé Neto (José Neto de Lima para os estranhos) que foi uma figura marcante na história de Garanhuns, sempre ligado à Fazenda Santa Rosa, como assim a chamávamos.

Zé Neto, ex-aluno da instituição, chegou à condição de seu Diretor e notabilizou-se, sem favor e sem demérito dos demais, como o maior gestor da história da Fazenda Santa Rosa. Hoje reconhecida como Fazenda Esperança, por conta de oportuna doação promovida pelo Governo de Joaquim Francisco à Diocese de Pesqueira, abriga uma unidade da instituição mantida pela Igreja Católica para recuperação de afligidos por vícios. Na época era administrada pela Secretaria de Agricultura do Estado e conhecida como FAZENDA SANTA ROSA, não obstante o pomposo nome de Estação Experimental e Aprendizado Agrícola Santa Rosa, resumido como E.E.A.A. Santa Rosa.

Dava gosto visitar e ver funcionar - era francamente aberta aos visitantes - a organização da Fazenda e o nível de preparação dos seus alunos. Na sua imensa maioria oriunda das classes mais modestas, dispunha de uma equipe de professores, residentes na própria Fazenda, que dedicavam tempo integral na formação educacional no primeiro grau e profissional dos seus alunos em instalações primorosas, embora humildes.

Salas de aula saudáveis, dormitórios e alojamentos modestos, mas decentes, para os alunos em regime de internato. Tudo limpo e arrumadinho, a cargo dos próprios alunos, dando e aprendendo lições de cidadania que hoje nos faz falta. Aqui cabe uma observação: Tenho uma neta que estudou medicina em Cuba na Escuela Latino-Americana de Ciências Médicas (ELAM) durante seis anos e meio e ela era responsável, com mais cinco colegas, pela limpeza e arrumação do seu alojamento. E a fiscalização era severa. Aqui, quem pensar nisso hoje, é acusado de pregar trabalho escravo..... 

Equipamentos, instrumentos agrícolas, material técnico e plantações disponíveis para o ensino profissional comandado por agrônomos e zootecnistas. Boas técnicas agrícolas eram disseminadas e manejo animal recomendado. Milhares de jovens passaram por suas bancas e as vagas eram disputadas por outros tantos.

Nos desfiles cívicos em Garanhuns, sua presença era realçada pela ordem, pelo fardamento branco sempre impecável, pela excepcional qualidade de sua banda, pela cadência de sua marcha, e, invariavelmente, lá estava Zé Neto de terno e gravata acompanhando os seus “meninos” durante todo o percurso, como se fora o maravilhoso regente de uma afinada orquestra. Exatamente como Padre Adelmar fez durante toda sua vida com os pixotes do “Gymnasio”.

Alguns devem se lembrar, ainda, dos desfiles da Fazenda Santa Rosa e do respeito que todos nós tínhamos à instituição. É provável que ainda existam ex-alunos remanescentes que poderiam melhor comprovar e fotos que possam documentar tão notável existência. Seria injusto que perdêssemos a memória de quem fez tanto bem à nossa terra através da socialização de muitas gerações de adolescentes em todo o Agreste Meridional.

Não me perguntem, pois não tenho explicações, mas jogaram a Fazenda Santa Rosa em um  terrível, lento e inexorável abandono e, sem percepção nem protestos, conseguiram destruir tão magnífica iniciativa. Quando a Fazenda Esperança assumiu, estava quase em ruínas! Inexplicável, mas de forma sub-reptícia, em omissão dirigida, afundaram um dos mais notáveis modelos de assistência ao menor, que faria inveja, ainda hoje, às sofisticadas e complexas experiências e propostas emanadas dos congressos, seminários, centros de estudos e etc., de composição multi-disciplinar, que se repetem exaustivamente ao longo dos anos e só fazem garantir o movimento financeiro dos grandes centros de convenção e dos luxuosos hotéis cinco estrelas.

Mais uma vez, sem busca de culpados, verifica-se que a moda é muito antiga – tornou-se um vezo cultural ! – “AS COISAS BELAS, DIGNAS E EFICIENTES SÃO DESTRUIDAS EM GARANHUNS, SEM O MENOR PROTESTO OU REAÇÃO DA NOSSA SOCIEDADE ORGANIZADA”. 

Em qualquer outro lugar do mundo, o povo iria às ruas marcar seu protesto, bater panelas e consignar sua revolta diante de tamanhas iniquidades. Em Garanhuns, o povo assiste e aceita resignadamente todo o malefício praticado. E depois, reclama-se a quem?