A MORTE DE
CÍCERO
Um belo
dia corre a notícia na cidade que haviam matado Cícero, lavador de carros na
cidade e ele, mesmo socorrido no hospital, não resistira e já estava no
necrotério (na pedra) do Hospital D. Moura. A divulgação foi rápida e a
primeira pessoa avisada foi exatamente o pai de nosso Cícero que, prontamente e
com toda diligência, cuidou logo de passar numa mortuária e comprar um caixão e
dirigiu-se ao hospital para tirar o falecido da chamada “pedra”, como ainda se
chama o leito mortuário em todos os hospitais.
Somente
com a chegada do pai de Cícero no Hospital é que se constatou que se tratava do
outro CÍCERO que o substituíra lavando carros na Avenida e não o seu filho
Cícero. Voltou com o caixão para devolvê-lo à Mortuária e, como é natural,
aliviado com a inexistência da morte do seu filho.
À essa altura,
conseguiram avisar o nosso Cícero de sua propalada morte que, desesperado, correu
para o Hospital ao encontro do pai e esclarecer as razões do equívoco. Depois disso
resolvido, foi avisado de que, possivelmente, sua esposa , Irene, já poderia ser ter sabido da história uma vez
que a notícia corria rápida na cidade, e aí tratou de correr a pés desesperado,
para a sua residência a fim de evitar o dissabor para sua família.
Acontece que
a caminhada do Hospital Dom Moura até sua casa no bairro da Liberdade é de uma
distância razoável e a notícia infausta de que Cícero estaria morto na “pedra”
do hospital já chegara ao conhecimento de Irene que, também desesperada, correu
a pés no sentido inverso da Liberdade para o hospital em busca do cadáver do
falecido.
Imaginem a
ansiedade de Cícero e o desespero de Irene que terminou os levando a um inevitável
encontro no meio do trajeto. Irene, ao avistar o “fantasma” de seu marido,
perdeu os sentidos e desabou no chão em plena rua e, quando desperta, deu um trabalho
danado para ser convencida da realidade dos fatos. Enfim, aleluia !, tudo
esclarecido.
Porém o
mais inusitado é o desfecho e a referência na vida de Cícero ao longo de todos
os anos decorridos. Meu filho Pedro Leonardo, que conhece a reação dele,
aproveita qualquer novo auditório para solicitar que ele conte a sua história.
E ele
nunca consegue chegar ao fim do relato pois, toda vez que é solicitado, não
consegue atingir o desfecho por DESABAR EM CHORO CONVULSIVO! Deve ser a única
pessoa no mundo – merecendo um Prêmio Guiness - que consegue prantear a sua própria
morte antecipadamente!
Muito boa esta história, assim como todas deste Blog! Dr. Ivan, se o senhor me permite uma opinião, esses excelentes textos caberiam muito bem em um livro de contos. Pode ter certeza que eu seria um dos primeiros compradores e indubitavelmente iria também prestigiá-lo na noite de autógrafos do lançamento do livro.
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