Diante da mixórdia do quadro politico que vivemos hoje no
Brasil, assusta-nos o desencanto, a desilusão, a descrença, o desânimo, e o
pessimismo que se evidenciam nas manifestações que assistimos pelos noticiários
da imprensa e das redes sociais.
O que mais impressiona é que o quadro formado traz um forte
sentimento de perda da ESPERANÇA que se apodera da população como se
estivéssemos num beco sem saída e na inteira dependência do aparecimento de
Salvadores da Pátria, Messiânicos e “Sassás Mutemas” da vida. Isso é ruim,
muito ruim, causado sobretudo pelas distorções criadas pela farsa dos fictícios
embates ideológicos; pela intentada desqualificação das instituições
democráticas e pelo ataque sistemático à qualquer medida profilática no sentido
de restabelecer a dignidade tão desfigurada na gestão pública da Nação.
Vou me intrometer e provocar os que, por vezes, gastam mal seu
tempo lendo os disparates que eventualmente escrevo e vou falar demais. Sou um
eterno e irrecuperável OTIMISTA, por ter vivido todas as crises do país desde
1945 (Redemocratização após o Estado Novo Getulista) e observado que,
invariavelmente, sempre surgem soluções harmônicas que, ao final, sem quebra de paradigmas e da
dignidade, encontram a saída para reunificação da Nação.
Da mesma forma que, nas eventuais divergências familiares uma
intervenção firme do patriarca resolve a questão e pacifica a comunidade
familiar, nos conflitos políticos o empenho, muito diálogo civilizado através
de lideranças decentes (ainda existem, por mais difícil que pareça e é só
procurar) trará com certeza à luzinha no fim do túnel. Não será, nunca, com a
divisão da Nação em nós e eles; coxinhas e mortadelas; heróis nacionais e golpistas;
e conforme consagrado durante toda a ditadura militar, patriotas e subversivos!
Aqui cabe um pequeno parêntese: Fui tão inexpressivo durante
a ditadura que nunca mereci o enquadramento de subversivo ou corrupto, a
despeito de meus notórios comprometimentos políticos. Devo ter sido uma
porcaria...
Foi assim em 1945, com o afastamento de Getúlio e as eleições
gerais em 1947; em 1950 a volta de Getúlio pelo voto popular; em 1954 com o
suicídio de Getúlio e a pronta manifestação do General Lott ao abortar a
sedição de Café Filho e Lacerda e assegurar as eleições livres que elegeram
Juscelino; em 1961, a renúncia tresloucada de Jânio que gerou um ensaio de
insubordinação militar frustrada pelo arranjo da solução parlamentarista que
apenas adiou a Ditatura Militar para 1964, com a sua consequente destruição de vidas, de carreiras
e de sentimentos; em 1979, com a solução de uma anistia que deixou sequelas até
hoje; em 1988, com a nova Constituição; em 1992, com o “impeachment” de Collor
e a solução institucional da assunção de Itamar dentro das regras democráticas
e sem a menor agitação; em 2002 a eleição de um homem do povo, retirante da
miséria nordestina em contrariedade às oligarquias, com o apoio maciço e alegre
da Nação, mas que se viu frustrada com a sua infeliz sucessão e a tolerância diante da corrupção desenfreada ao
converter os seus bandidos julgados, condenados e presos em heróis nacionais; e
agora, em 2016, o “impeachment” de Dilma e a assunção de Temer, rigorosamente
dentro dos ditames institucionais das regras democráticas, que os seus
opositores só aceitam quando lhes são favoráveis.
Democracia de Ocasião e de
Conveniência!
Sou o homem do copo
sempre MEIO CHEIO, pois tenho consciência de que a democracia nunca foi fácil,
é dura, difícil, exige tolerância às divergências, busca de entendimentos,
respeito ao contraditório, civismo e, acima de tudo, não misturar questões
políticas com pessoais (olha em que deu a “misturada” que Geddel tentou),
conforme aprendi com meus mestres de Política, Arraes e meu velho pai
Zébatatinha.
Milito há mais de 70 anos; não tenho inimigos e sim
adversários políticos; sempre fui e sou aliado fiel e não servo dos governos a
que servi com minhas limitações naturais e muita honra: Arraes, Eduardo, João
Lyra e Paulo. Quando, eventualmente, me senti desconfortável, botei o chapéu na
cabeça e fui embora com o respeito cabível.
Tenho absoluta consciência de que sem o aperfeiçoamento da
sociedade não chegaremos a porto seguro algum. Precisamos fazer a mesma
auto-crítica que exigimos dos governantes que erraram.
Passamos a vida inteira reclamando que cadeia no Brasil era
só para preto, pobre e prostituta e, de repente, estamos assistindo os maiores
empresários do país e seus comparsas doleiros, operadores e políticos julgados,
condenado, presos, devolvendo valores expressivos aos cofres públicos. Ao invés
de aplaudir, ficamos reclamando lamuriosamente que ainda falta gente, que a
condenação é seletiva e está faltando outros políticos na cadeia.
Será que estão com pena dos financiadores das patifarias e cúmplices dos políticos desonestos, que se constituem na imensa
maioria dos condenados e presos?
Claro que o foco inicial voltou-se para o Partido dominante,
sobretudo quando ele não tomou a lição do chamado Mensalão e buscou a solução
maluca dos “presos políticos” imaginando que estariam acima do bem e do mal, pelo
que, terminaram desaguando no Petrolão e a bi-condenação de gente como Pedro
Correia e Zé Dirceu.
Agora, de uma coisa podem ter certeza. Se não derrubarmos o indigno
Foro Privilegiado, daqui a dez anos ainda não veremos condenação dos felizardos
que se encontram homiziados no STF, através da maldita jabuticaba.
O Parlamento é indigno e composto de titulares que já foram
considerados por Lula como 300 “picaretas” e pelo ex-Ministro Cid Gomes como
400 “achacadores” ? É sim, mas na verdade o Congresso Nacional é um retrato em
preto e branco do nosso corpo social. Somos todos nós que estamos ali
espelhados com a imagem de todos nós que somos responsáveis por suas eleições.
Não tem ninguém nomeado. Somos nós que estamos ali representados e – no fundo -
foi isso que nos revoltou diante das diatribes praticadas como quando Bolsonaro
homenageou um torturador e Eduardo da Fonte colocou um garoto de 14 anos - civilmente
incapaz - para representá-los na votação.
Reclamamos da limpeza das ruas, mas todos os dias levamos
nossos mimosos cachorrinhos para cagar na rua; reclamamos de ciclovias
protegidas mas duvido que não encontrem, a qualquer hora, as bicicletas
desafiadoramente atropelando os pedestres nos calçadões e já vi (pasmem)
pedestres fazendo cooper nas ciclovias; reclamamos dos privilégios mas furamos
filas toda hora; detestamos engarrafamentos no trânsito e protestamos contra a
falta de fiscalização, mas paramos sempre em estacionamentos proibidos e ainda
reclamamos quando somos multados; condenamos a corrupção, mas não perdemos
oportunidade de distribuir “gratificações” para nos
livrarmos das multas ou damos “carteiradas” para obter vantagens; e vamos por aí a fora.
Reclamar a quem: ao Papa Francisco ou à Mãe do Guarda da
Esquina?
Estamos lutando por um país melhor para nossos descendentes e
o nosso Brasil é ainda muito jovem, tem um longo caminho a percorrer e não pode
esquecer que as grandes transgressões, começam com os pequenos delitos: É
fundamental que respeitemos às regras democráticas e às suas instituições mesmo
que também cometam erros; Vamos cumprir as obrigações e deveres que nos cabem,
além de cobrar os direitos e as vantagens
que também merecemos. Se cumprirmos bem a nossa parte, daremos uma grande
contribuição para o melhoramento do corpo social por inteiro.
Mais importante
que tudo, não permitamos que os maus DESTRUAM A
NOSSA ESPERANÇA.
E chegará o dia em que se criará uma nova concepção, inversa à
preconizada por Ruy: O BRASILEIRO TERÁ VERGONHA DE SER DESONESTO!