É SABIDO QUE TODO VELHO CADA DIA
DORME MENOS E COCHILA MAIS e essa é uma das minhas condenações. A vigília
insone sempre proporciona tempo bastante para pensar e recordar muito as coisas
que marcaram nossa vida. As lembranças chegam aos borbotões, boas e ruins, da
saudosa juventude e da curtida maturidade. Algumas vaidades inúteis e poucos
orgulhos merecidos Dissabores e alegrias, derrotas e vitórias satisfatórias,
fatos jocosos e incidentes decepcionantes, mas, no final, o caleidoscópio rola
sem fim!
Atiçadas pelo noticiário logo às
primeiras horas da madrugada na procura das novidades da Internet, para o que,
ligo sôfregamente o computador e começo a peregrinação da caça às informações
trazidas do nosso mundinho atraente e cheio de surpresas. Quase sempre muita
notícia ruim que nos agride pelo inusitado das ocorrências, sobretudo, nos
arredores da política. Quando se pensa que atingimos o fim da picada,
observamos quanto ainda está longe o nosso horizonte final.
A barbaridade dos fatos, o
comportamento despudorado dos homens públicos, a insensatez das decisões
governamentais, a postura indiferente dos parlamentares cujo egoísmo ultrapassa
qualquer limite de bom senso, leva-nos à reflexão de que se imaginam pairar em
outras galáxias, descompromissados com a sorte da Nação e da miséria dos
duzentos milhões de brasileiros, cujo único pecado foi votar neles.
Sempre nos espreitam as ocorrências
dos colégios que freqüentei e a sucessão despretensiosa da formação de grandes
companheiros e amigos, bem como das figuras excelentes de grandes mestres que
nos transmitiram lições que permanecem durante toda nossa vida. Observando a
indignidade que caracteriza a grande maioria dos nossos dirigentes, lembrei-me
de uma figura exemplar de Mestre e de uma de suas clássicas reprimendas.
Ainda no Diocesano de Garanhuns,
cursando o ginasial, tive, entre outros bons, um professor do porte de Dr.
Antônio Tenório da Fonseca. Por longos anos, não tive notícias dele e de sua
família que lamento muito. Sério,
primoroso em sua didática, respeitável e respeitado, invariável em seu terno e
gravata, paletó de três botões sempre abotoados, exigente e elegante no seu
trato com os alunos. Isso não impedia que alguns alunos, por vezes rebeldes e
indisciplinados merecessem de vez em quando uma austera chamada à ordem.
Dirigia-se ao indisciplinado e sem levantar a voz, dizia:
“Meu filho, você está
abusando do direito de ser sem-vergonha.”
Lembrei-me do Prof. Tenório e de como
seria oportuna a sua intervenção nos dias de hoje, quando leio sobre o episódio
acerca do comportamento de um impúdico Ministro Geddel, confessando que usou o
cargo para defender seu interesse pessoal mesmo que se chocando com uma decisão
técnica de um órgão como o IPHAN, e que,
para tanto, enfrentasse um seu colega de Ministério e o ameaçando de
recorrer ao próprio Presidente da República.
Do mesmo modo, um medíocre Ministro
Callero que, ao ser pressionado, comportou-se como menino contrariado, ao invés
de, como Ministro da República fazer valer o parecer técnico do órgão que lhe
era subordinado e que entendia como correto para o interesse público, preferiu
o caminho pusilânime da rendição, deposição das armas e queixas à Polícia
Federal. Só faltou ir à Delegacia mais próxima, consignar um B.O. e depois ir
reclamar ao seu irmão mais velho!
Mais triste ainda um vacilante
Presidente, dizendo em nota oficial que (sic) : ”sugeriu a participação da AGU para solucionar dúvidas entre órgãos da
administração” quando nada disso aconteceu e sim uma decisão do IPHAN nacional, sobreposto hierarquicamente
ao IPHAN baiano, apoiada pelo Ministro da Pasta competente. Se algum conflito
existiu, foi decorrente da interferência INDEVIDA do Sr. Geddel em defesa de
seu interesse pessoal (dono confesso de um apartamento no prédio embargado) e
não tem absolutamente NADA A VER com
o interesse público.
Diante do ensinamento que recebi do Prof.
Tenório em minha juventude, a ilação foi inevitável: Tem muita gente em nossa
maltratada Nação que está abusando do DIREITO DE SER SEM-VERGONHA!
P.S – Já tinha redigido esse texto,
quando chegou a notícia de que o Geddel (ufa, até que enfim...) entregou o
cargo que ocupava sem qualquer pudor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é construtivo.