terça-feira, 29 de novembro de 2016

A MORTE DA ESPERANÇA

Diante da mixórdia do quadro politico que vivemos hoje no Brasil, assusta-nos o desencanto, a desilusão, a descrença, o desânimo, e o pessimismo que se evidenciam nas manifestações que assistimos pelos noticiários da imprensa e das redes sociais.

O que mais impressiona é que o quadro formado traz um forte sentimento de perda da ESPERANÇA que se apodera da população como se estivéssemos num beco sem saída e na inteira dependência do aparecimento de Salvadores da Pátria, Messiânicos e “Sassás Mutemas” da vida. Isso é ruim, muito ruim, causado sobretudo pelas distorções criadas pela farsa dos fictícios embates ideológicos; pela intentada desqualificação das instituições democráticas e pelo ataque sistemático à qualquer medida profilática no sentido de restabelecer a dignidade tão desfigurada na gestão pública da Nação.

Vou me intrometer e provocar os que, por vezes, gastam mal seu tempo lendo os disparates que eventualmente escrevo e vou falar demais. Sou um eterno e irrecuperável OTIMISTA, por ter vivido todas as crises do país desde 1945 (Redemocratização após o Estado Novo Getulista) e observado que, invariavelmente, sempre surgem soluções harmônicas  que, ao final, sem quebra de paradigmas e da dignidade, encontram a saída para reunificação da Nação.

Da mesma forma que, nas eventuais divergências familiares uma intervenção firme do patriarca resolve a questão e pacifica a comunidade familiar, nos conflitos políticos o empenho, muito diálogo civilizado através de lideranças decentes (ainda existem, por mais difícil que pareça e é só procurar) trará com certeza à luzinha no fim do túnel. Não será, nunca, com a divisão da Nação em nós e eles; coxinhas e mortadelas; heróis nacionais e golpistas; e conforme consagrado durante toda a ditadura militar, patriotas e subversivos!

Aqui cabe um pequeno parêntese: Fui tão inexpressivo durante a ditadura que nunca mereci o enquadramento de subversivo ou corrupto, a despeito de meus notórios comprometimentos políticos. Devo ter sido uma porcaria...

Foi assim em 1945, com o afastamento de Getúlio e as eleições gerais em 1947; em 1950 a volta de Getúlio pelo voto popular; em 1954 com o suicídio de Getúlio e a pronta manifestação do General Lott ao abortar a sedição de Café Filho e Lacerda e assegurar as eleições livres que elegeram Juscelino; em 1961, a renúncia tresloucada de Jânio que gerou um ensaio de insubordinação militar frustrada pelo arranjo da solução parlamentarista que apenas adiou a Ditatura Militar para 1964, com a sua  consequente destruição de vidas, de carreiras e de sentimentos; em 1979, com a solução de uma anistia que deixou sequelas até hoje; em 1988, com a nova Constituição; em 1992, com o “impeachment” de Collor e a solução institucional da assunção de Itamar dentro das regras democráticas e sem a menor agitação; em 2002 a eleição de um homem do povo, retirante da miséria nordestina em contrariedade às oligarquias, com o apoio maciço e alegre da Nação, mas que se viu frustrada com a sua infeliz sucessão e a  tolerância diante da corrupção desenfreada ao converter os seus bandidos julgados, condenados e presos em heróis nacionais; e agora, em 2016, o “impeachment” de Dilma e a assunção de Temer, rigorosamente dentro dos ditames institucionais das regras democráticas, que os seus opositores só aceitam quando lhes são favoráveis. 

Democracia de Ocasião e de Conveniência!

Sou o homem do copo sempre MEIO CHEIO, pois tenho consciência de que a democracia nunca foi fácil, é dura, difícil, exige tolerância às divergências, busca de entendimentos, respeito ao contraditório, civismo e, acima de tudo, não misturar questões políticas com pessoais (olha em que deu a “misturada” que Geddel tentou), conforme aprendi com meus mestres de Política, Arraes e meu velho pai Zébatatinha.

Milito há mais de 70 anos; não tenho inimigos e sim adversários políticos; sempre fui e sou aliado fiel e não servo dos governos a que servi com minhas limitações naturais e muita honra: Arraes, Eduardo, João Lyra e Paulo. Quando, eventualmente, me senti desconfortável, botei o chapéu na cabeça e fui embora com o respeito cabível.

Tenho absoluta consciência de que sem o aperfeiçoamento da sociedade não chegaremos a porto seguro algum. Precisamos fazer a mesma auto-crítica que exigimos dos governantes que erraram.

Passamos a vida inteira reclamando que cadeia no Brasil era só para preto, pobre e prostituta e, de repente, estamos assistindo os maiores empresários do país e seus comparsas doleiros, operadores e políticos julgados, condenado, presos, devolvendo valores expressivos aos cofres públicos. Ao invés de aplaudir, ficamos reclamando lamuriosamente que ainda falta gente, que a condenação é seletiva e está faltando outros políticos na cadeia.

Será que estão com pena dos financiadores das  patifarias e cúmplices dos políticos desonestos, que se constituem na imensa maioria dos condenados e presos?

Claro que o foco inicial voltou-se para o Partido dominante, sobretudo quando ele não tomou a lição do chamado Mensalão e buscou a solução maluca dos “presos políticos” imaginando que estariam acima do bem e do mal, pelo que, terminaram desaguando no Petrolão e a bi-condenação de gente como Pedro Correia e Zé Dirceu.

Agora, de uma coisa podem ter certeza. Se não derrubarmos o indigno Foro Privilegiado, daqui a dez anos ainda não veremos condenação dos felizardos que se encontram homiziados no STF, através da maldita   jabuticaba.

O Parlamento é indigno e composto de titulares que já foram considerados por Lula como 300 “picaretas” e pelo ex-Ministro Cid Gomes como 400 “achacadores” ? É sim, mas na verdade o Congresso Nacional é um retrato em preto e branco do nosso corpo social. Somos todos nós que estamos ali espelhados com a imagem de todos nós que somos responsáveis por suas eleições. Não tem ninguém nomeado. Somos nós que estamos ali representados e – no fundo - foi isso que nos revoltou diante das diatribes praticadas como quando Bolsonaro homenageou um torturador e Eduardo da Fonte colocou um garoto de 14 anos - civilmente incapaz - para representá-los na votação.

Reclamamos da limpeza das ruas, mas todos os dias levamos nossos mimosos cachorrinhos para cagar na rua; reclamamos de ciclovias protegidas mas duvido que não encontrem, a qualquer hora, as bicicletas desafiadoramente atropelando os pedestres nos calçadões e já vi (pasmem) pedestres fazendo cooper nas ciclovias; reclamamos dos privilégios mas furamos filas toda hora; detestamos engarrafamentos no trânsito e protestamos contra a falta de fiscalização, mas paramos sempre em estacionamentos proibidos e ainda reclamamos quando somos multados; condenamos a corrupção, mas não perdemos oportunidade    de distribuir “gratificações” para nos livrarmos das multas ou damos “carteiradas” para obter vantagens;  e vamos por aí a fora.

Reclamar a quem: ao Papa Francisco ou à Mãe do Guarda da Esquina?

Estamos lutando por um país melhor para nossos descendentes e o nosso Brasil é ainda muito jovem, tem um longo caminho a percorrer e não pode esquecer que as grandes transgressões, começam com os pequenos delitos: É fundamental que respeitemos às regras democráticas e às suas instituições mesmo que também cometam erros; Vamos cumprir as obrigações e deveres que nos cabem, além de cobrar os direitos e  as vantagens que também merecemos. Se cumprirmos bem a nossa parte, daremos uma grande contribuição para o melhoramento do corpo social por inteiro.

Mais importante que tudo, não permitamos que os maus DESTRUAM  A  NOSSA  ESPERANÇA.

E chegará o dia em que se criará uma nova concepção, inversa à preconizada por Ruy: O BRASILEIRO TERÁ VERGONHA DE SER DESONESTO!


             

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