Todos sabem e, às vezes por
experiência própria, conhecem bem a vida dos filhotes de passarinho. Enquanto não alçam voo próprio, permanecem
amontoados no ninho à espera da ave-mãe para se alimentarem e, por consequência,
sobreviverem. A rotina é exasperante com os bruguelos ansiosos, bicos abertos
voltados para o céu, à espera da provedora que lhes trará o alimento salvador
que ela, previdente, trará em suas próprias entranhas e o regurgitará
diretamente no bico do filhote faminto. Impassíveis, nada fazem a não ser o
piado insistente e lamurioso. E triste é a fatalidade que muitas vezes acontece
pela morte, acidente ou prisão da ave-mãe que, dessa forma, fica impedida de
socorrer os filhotes carentes, e disso resultando a morte inevitável dos
desvalidos dependentes.
Quando reflito sobre a desdita
dos filhotes que sucumbem por uma espera frustrada da ave-mãe, é inevitável
estabelecer-se um paralelo com a nossa querida Garanhuns, sempre à eterna e passiva espera dos benefícios carreados
pelos incertos benfeitores, sem que suas próprias lideranças promovam e criem
iniciativas imprescindíveis para a alavancagem do seu desenvolvimento.
Não assumimos ações propositivas;
não planejamos; não concebemos projetos; não discutimos ações; não debatemos
alternativas; não buscamos novas formas de produção; não garimpamos parcerias;
não fomos capazes, sequer, de provocar um investimento do Governo Federal no
comando de um conterrâneo durante oito anos; e quando o Município perde
posição, ficamos reclamando dos outros por não terem cumprido um papel que era
de nossa responsabilidade.
Até hoje não conseguimos, sequer,
identificar a vocação de desenvolvimento para nossa terra, limitando-nos a uma
crítica não fundamentada sobre a ausência de indústrias, esquecendo as mal
sucedidas experiências anteriores. Será que nossas lideranças ainda acreditam
que empresas virão instalar-se em Garanhuns, sem que tenham assegurado apoio
institucional e condições favoráveis de mercado consumidor, logística de
distribuição, matéria prima e mão de obra qualificada? Será que os exemplos
exitosos não foram suficientes para alargar a cabeça dos nossas lideranças?
Eduardo Campos entendia que a
vocação de Garanhuns seria dirigida para os polos de turismo e educacional e eu
exemplifico: os maiores sucessos nessa área que não foram trazidos de fora, mas
sim criados pela iniciativa de nossas lideranças: na área cultural, como força
geradora, o passo inicial promovido por Souto Dourado em 1968/72, através da
criação do Centro Cultural de Garanhuns; na área universitária que abriga hoje
centenas de professores, doutores e milhares de alunos, a genetriz foi a
inspiração de Amílcar Valença com a fundação da Faculdade de Administração de
Garanhuns, em 1977, que gerou a AESGA; na área turística, a criação do Festival
de Inverno por iniciativa de Ivo Amaral que ganhou força e situa-se atualmente como um dos maiores
festivais do Brasil.
Sou do tempo em que Garanhuns
disputava com Caruarú a primazia entre os municípios do Estado e era um páreo
duro! Era um grande centro educacional, com três colégios centenários que
atraiam estudantes do Ceará a Alagoas.
Inaugurou a primeira Rádio Emissora do interior, com alta qualidade
técnica e cultural, incorporada à Rede Jornal do Comércio, com sua pouco
modesta afirmação de “Pernambuco Falando Para o Mundo”. Primeiro Bispado do
interior, somente muitos anos depois seguido por Caruarú, Palmares, Nazaré da
Mata, Pesqueira e Afogados da Ingazeira.
O Terminal Ferroviário mais
importante do interior do Estado da Great Western of Brazil Railway Co. (GWBR)
desde 1887, assegurando expressiva distribuição e coleta de mercadorias na
grande região do Agreste. Cinco grandes usinas de compra, beneficiamento,
distribuição e exportação de cereais: Manoel Pedro da Cunha, Schenker Barbosa,
Pinto Alves e as multi nacionais Sanbra e Anderson Clayton. As montanhas de
fardos de algodão, sacos de café, feijão, milho e mamona extravasavam dos
armazéns ocupando até as calçadas das usinas. Inúmeras fazendas produzindo café
fino, tipo exportação, que era exibido nas vitrinas da Europa, com a
recomendação e o rótulo de “Café de Garanhuns”.
Uma vida cultural intensa com
publicação e edição de livros, revistas e jornais, alcançando o feito
extraordinário de possuir um jornal diário em circulação, o “Garanhuns Diário”,
fruto do pioneirismo do grande Dario Rego. Um grupo teatral amador, o “Grêmio
Polymáthico de Garanhuns”, constituído por notáveis artistas amadores e com
frequentes programações. Duas instituições expressivas para formação de menores
carentes: a Fazenda Santa Rosa e o Abrigo Bom Pastor, que atraíam adolescentes
de todo o Estado.
Até quando surgem as reclamações,
elas são fora de foco. Quando acontece um acidente no sistema de bombeamento ou
na adutora que acarreta deficiência temporária do abastecimento dagua, com toda
razão é natural que surjam as reclamações, mas de pronto exacerbadas pelo
exagero de acusar os governos por inoperância, esquecendo que foi o Governo de
Eduardo Campos que, com dois anos e quatro meses de mandato, arrancou Garanhuns
de um RACIONAMENTO DE TRINTA ANOS e ignorando que, mesmo no auge da seca que
vem assolando o Estado, nossa cidade foi uma das pouquíssimas que mantiveram
abastecimento dágua durante 24 horas.
Em contraponto e para certificar
o que afirmo, somos relapsos para fazer a parte que nos toca: no Governo de
Arraes foi construída a barragem da Cajarana e no Governo de Eduardo Campos foi
implantada a adutora para abastecimento de São Pedro, tornando a vila
independente do ramal da cidade. Felicidade completa, mas ninguém foi às ruas
para protestar quando os predatórios tomateiros de Camocim, com suas plantações
à montante da barragem, poluíram a barragem com agro-tóxicos e a SECARAM
TOTALMENTE, deixando a vila sem abastecimento, sendo necessário
restabelecer o ramal desativado da cidade. Está lá para quem quiser ver! E
ainda surgiram lideranças políticas irresponsáveis que na época preparavam
Festivais do Tomate.... com todas as pompas e foguetórios! E ainda bem que a
barragem secou antes de começar a mortandade de gente intoxicada!
Recentemente, extinguiu-se um
festival bem sucedido e já consolidado em oito edições, como comprovam as
informações oficiais da edilidade, decisão que resultou em significativos
prejuízos para o Município (do hoteleiro ao pipoqueiro, até aos cofres
municipais) e, nem por força do prejuízo individual esboçou-se a menor reação.
Não fora a manifestação individual de milhares de pessoas através das redes
sociais e tudo correria sob o olhar tolerante da sociedade organizada.
Atualmente, ao invés de disputar
a primazia, Garanhuns desespera-se na luta para não sair da lista dos dez
maiores municípios do Estado, uma vez que já foi ultrapassado por Vitória de
Sto. Antão, Ipojuca, Cabo, Olinda, Jaboatão, Paulista, Caruarú, Petrolina e
temos no nosso encalço Goiana, Igarassú, Gravatá e Serra Talhada. Continuamos,
entretanto, com os bicos abertos voltados para o ar, esperando que alguma fada
madrinha venha nos socorrer. Aceitamos ser coadjuvantes, sem assumir o
protagonismo que seria de nossa obrigação. Quando é que vamos entender que o
dever e a iniciativa são nossas e não dos outros?
Essa ideia entrou em minhas
reflexões, comparando-a com a passividade de Garanhuns diante dos malefícios
que se cometem, constantemente, para seu prejuízo, sem que se levante uma
reação da sociedade organizada (desorganizada?) da nossa terra. Nem quando
arrostam prejuízos irreparáveis em suas próprias atividades, tomam qualquer
iniciativa para reverter os procedimentos daninhos. Os exemplos são
costumeiros, aberrantes, em sucessão enfadonha, sem que se levante uma voz ou
mobilização, sequer, de reação, protesto ou revolta. Manifesta-se somente num
enfadonho “piado de bruguelos famintos”, lamuriento e sem fim do QUE JÁ ERA e
do QUE ACABOU...e o lamento pela ausência da ave-mãe que nunca chega com a
comida!
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