terça-feira, 20 de janeiro de 2015

MAIS HISTÓRIAS DE SEBASTIÃO MOURA


Como falei anteriormente, João Borrego, compadre e amigo de Sebastião, era o personagem predileto para a criação de suas histórias. Aí vão mais duas que provam bem a prodigiosa capacidade criativa dele:

1.    CARRO NOVO DE JOÃO BORREGO

O compadre João Borrego durante muitos anos usou um carro Ford 29, que dirigia razoavelmente e o mantinha sempre “apontado” para o seu serviço. O Fordeco lhe servia bem, atendia com perfeição suas necessidades de deslocamento para a Fazenda, São Bento do Una e Garanhuns. Por mais que insistissem ele não admitia trocá-lo pelas modernidades dos novos carros que estavam surgindo.

Depois da 2ª. Guerra Mundial, surgiram os primeiros carros de capota de aço, modernos, cheios de inovações e facilidades que, de início, não seduziram o seu espírito conservador. A sua resistência terminou quando um dia, diante da insistência de amigos e vencido pela curiosidade, procurou uma loja de automóveis para melhor examinar a novidade.

Instado pelo vendedor, sentou no carro (uma coupê Ford azul 1947 que usou durante muito tempo e lembro ainda) para verificar o conforto, a facilidade de operação e, sobretudo, a segurança. Enquanto isso, o vendedor na ânsia de vender-lhe o carro, não parava de exaltar as suas maravilhas, os acolchoados confortáveis, a segurança assegurada pelas capotas, o pouco ruído do motor, a facilidade da mudança das marchas, enfim tudo o que as novas tecnologias aperfeiçoaram.

Pela insistência do vendedor para que Seu João colocasse em funcionamento o carro para experimentá-lo, ele procurou o comando do motor de partida, acostumado que era com o seu acionamento em um pequeno pedal junto ao acelerador do seu Ford 29 e, como é natural, não o encontrando reclamou.

O vendedor mostrou-lhe então uma das facilidades mais notáveis do carro novo e que hoje, como todos sabem, é acionada na própria chave do veículo.

Seu João, isso é um carro moderno, feito para sua comodidade. A partida é dada por esse botãozinho aqui no tabeliê do carro. Veja como é mais simples.

Seu João retrucou na hora:

Mais simples o que, moço ! Americano só faz coisa pra complicar a vida da gente.

Ao mesmo tempo em que falava, com um esforço enorme LEVANTOU A PERNA COM A AJUDA DAS DUAS MÃOS PARA “PISAR” E ACIONAR O BOTÃOZINHO DO TABELIÊ !


2.    A  PANE  DO  CARRO  NOVO

João Borrego terminou vencido pelas razões apresentadas e     comprou um carro novo. Lembro dele ainda. Uma coupê Ford novinha, modelo 1947 de cor azul escura, que usou durante muitos anos e ele terminou acostumando com a novidade.
Um belo dia, voltando da feira de São Bento, o carro deu uma pane e como não entendia nada do novo carro, o jeito foi, pacientemente, esperar passar alguém que pudesse socorrê-lo. Enquanto aguardava o presumível socorro, teve necessidade de urinar, dirigiu-se ao matinho da beira da estrada e serviu-se, esquecendo, entretanto, a braguilha aberta.

Como era dia de feira e o movimento da estrada era grande, não demorou a aparecer um caminhão de feira cheio de mercadorias e gente sentada em cima, ali compreendendo mulheres e crianças e, providencialmente, o motorista conhecendo seu João, tranquilizou-o logo encostando o caminhão no acostamento e desceu para ajudá-lo.  
Abriu o capô do carro, debruçou-se sobre o motor, e começou a inspecionar distribuidor, carburador, velas, bobina e demais componentes buscando o provável defeito enquanto Seu João do outro lado do carro aguardava o diagnóstico. O motorista enquanto procedia a sua vistoria, olhando para defronte percebeu o descuido de seu João e avisa em voz baixa: Seu João, a braguilha está aberta, Seu João!”

Ele retruca na hora, sem baixar o tom de voz: E ONDE DIABO É A BRAGUILHA DESSA PESTE QUE EU NÃO SEI !”


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