domingo, 15 de fevereiro de 2015

OS BELOS ESCRITOS DE ZÉBATATINHA


Em nossa família, não costumamos fazer cartões com santinhos por ocasião de falecimento de algum de nós. Na morte do querido velho, utilizamos a sua última foto com mais de 90 anos que colocamos num cartão e em baixo transcrevemos um texto de sua autoria, constante de uma das mensagens que escrevia, anualmente, para nossa mãe Carminha, a cada aniversário de seu casamento. Essa mensagem revela, com toda propriedade, a sua verdadeira obsessão pela união familiar:

“Riam-se de nós os que não sabem como é bom amar sinceramente. Riam-se enquanto nós sentimos como tem sido bom o caminho que percorremos juntos como viajores contentes e alegres cantando a aleluia da felicidade e ansiosos que Deus concedesse aos outros os mesmo sentimentos e a mesma sensibilidade em relação à instituição da família.”

Depois que cegou, ditou um poema em que refere sua vida, seus alumbramentos, suas evocações, seus amores e seu encanto por Arcoverde e Garanhuns, sua terra natal:
 
“Vi da Serra da Andorinha, na linda manhã, o sol nascer

Vi a lua surgir das águas bordando de prata a superfície do mar

E o poeta dizer: o mar beijando a areia e a areia beijando o mar

Vi, no silêncio da noite, a curva do rio refletindo o luar

Vi, muitas vezes, o pôr do sol em Arcoverde

Vi a esperança e o amor nascendo no olhar de namorados

Vi a ternura no olhar da mãe velando o filho a dormir, sorrir, sonhando

Vi a caravana do beduíno no deserto, andando, andando

Vi a beleza da vida dando alegria de viver

Vi, do Magano, a neve brincando de vestir minha amada Garanhuns

Vi, sentindo a felicidade de pai, os filhos diplomados

Vi a casa do homem feliz que vendia ilusões

E hoje, no fim da jornada, de mãos vazias

Sentindo a saudade com forte emoção

Tenho a mente cansada e os olhos imersos em plena escuridão”

Respeitado o ditado original e sem correções.

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