Em nossa
família, não costumamos fazer cartões com santinhos por ocasião de falecimento
de algum de nós. Na morte do querido velho, utilizamos a sua última foto com
mais de 90 anos que colocamos num cartão e em baixo transcrevemos um texto de
sua autoria, constante de uma das mensagens que escrevia, anualmente, para
nossa mãe Carminha, a cada aniversário de seu casamento. Essa mensagem revela,
com toda propriedade, a sua verdadeira obsessão pela união familiar:
“Riam-se de nós os que não sabem como é bom amar sinceramente.
Riam-se enquanto nós sentimos como tem sido bom o caminho que percorremos
juntos como viajores contentes e alegres cantando a aleluia da felicidade e
ansiosos que Deus concedesse aos outros os mesmo sentimentos e a mesma sensibilidade
em relação à instituição da família.”
Depois que
cegou, ditou um poema em que refere sua vida, seus alumbramentos, suas
evocações, seus amores e seu encanto por Arcoverde e Garanhuns, sua terra
natal:
“Vi da Serra da Andorinha, na linda manhã, o sol nascer
Vi a lua surgir das águas bordando de prata a superfície do mar
E o poeta dizer: o mar beijando a areia e a areia beijando o mar
Vi, no silêncio da noite, a curva do rio refletindo o luar
Vi, muitas vezes, o pôr do sol em Arcoverde
Vi a esperança e o amor nascendo no olhar de namorados
Vi a ternura no olhar da mãe velando o filho a dormir, sorrir,
sonhando
Vi a caravana do beduíno no deserto, andando, andando
Vi a beleza da vida dando alegria de viver
Vi, do Magano, a neve brincando de vestir minha amada Garanhuns
Vi, sentindo a felicidade de pai, os filhos diplomados
Vi a casa do homem feliz que vendia ilusões
E hoje, no fim da jornada, de mãos vazias
Sentindo a saudade com forte emoção
Tenho a mente cansada e os olhos imersos em plena escuridão”
Respeitado o
ditado original e sem correções.
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