Ao notar a divulgação da programação do
cinema divulgada através dos diversos blogues, imaginei como é difícil para os
jovens de menos de 70 anos imaginarem uma vida sem os meios de comunicação de
que dispomos atualmente.
Sem jornais diários regulares, sem revistas,
sem emissoras de rádio, sem telefones e muito menos televisão, sem carros de
som, enfim eram poucos os meios de divulgação além da tradição oral. Exigia-se
muito engenho e arte para fazer chegar à população as notícias de interesse
geral.
Os sínos das igrejas eram um bom recurso e
bastante utilizado para anunciar a morte de alguém. Mediante a solicitação das
famílias pesarosas, o sacristão começava a soar o “dobre de finados” (com
características próprias) que despertava a curiosidade de todos para saber quem
era o defunto.
Da mesma forma, eram utilizados para avisarem
os horários da aproximação e do início das missas (por isso mesmo denominados
de “CHAMADAS PRA MISSA”). Quando a cerimônia religiosa extrapolava a
competência do vigário e exigia sua direção pelo próprio bispo, ele tinha que
se deslocar devidamente paramentado do Palácio do Bispo até a Catedral (ainda
bem que a distância era curta) e – acreditem ou não – os sinos repicavam
durante toda a caminhada do “Senhor Bispo”.
Para suprir a necessidade de aviso dos
falecimentos, ainda existiam as gráficas especializadas que eram convocadas às
pressas para imprimir os convites para o velório. Como primeira providência, impressos
os convites, começava um trabalho intenso para individualizar, com escrita
manual, os seus destinatários e com a preocupação de não omitir as pessoas mais
importantes para a família. Aí então, se arrumava um punhado de gente para
distribuí-los de casa em casa, dentro de um prazo muito curto. Pensem na trabalheira!
As gráficas foram muito utilizadas para
imprimir a programação semanal do cinema e eram distribuídos profusamente pelas
residências, lojas e de mão em mão. É provável que alguns amigos do Face ainda
tenham arquivados alguns exemplares deles.
O serviço de alto-falantes colocados nos
postes da Av. Santo Antônio, com o som emitido por um estúdio instalado no
Edifício Tomaz Maia – ali na esquina com a Rua 13 de Maio – foi uma grande
novidade e de muito sucesso. O responsável era Sebastião da Antena (sua família
honrada ainda permanece na nossa terra), como era conhecido por dirigir também
uma oficina de rádio-técnico, especialidade que começava a surgir.
Aí o serviço passou a irradiar notícias,
recados, avisos e músicas e foi um sucesso na época. Algumas dedicatórias das
músicas eram simplesmente inusitadas: “DE ALGUÉM PARA ALGUÉM OUÇA A AVE MARIA
INTERPRETADA POR AUGUSTO CALHEIROS”. Era uma beleza !
Foi ocupando esse vácuo que o engenho e a
arte de alguns artistas natos conseguiram suprir, com sucesso, a comunicação
referente à programação do cinema.
É provável que poucos ainda lembrem dele, mas
existiu uma outra figura do meu tempo de
adolescente que me faz raciocinar quanto à sua qualidade artística e imaginação
criadora.
Bibí como era conhecido (nunca soube seu nome
real) trabalhava para o Cine-Teatro Glória e quando iam ser apresentados alguns
filmes de grande repercussão, ele era requisitado para fazer a encenação
adequada, compatível com a história, que ele cumpria com extrema competência.
Ele se fantasiava de acordo com os
personagens dos filmes para caracterizar com a maior perfeição e utilizava
alguns apetrechos que julgava como necessários para garantir a qualidade e a
fidelidade do seu trabalho. Com um clarim anunciando a sua passagem, ele
percorria todas as ruas centrais da cidade, travestido como caubói americano,
ou legionário romano, ou pirata.
Encarava seu trabalho com a máxima seriedade,
não dava uma palavra, com feição carregada, não dava atenção às inevitáveis
provocações, comportando-se como se estivesse filmando em Holywood. Deve-se
ressaltar que a sua grande performance era
o anúncio da Paixão de Cristo e certeza de bilheteria certa.
Desfilava de tanga, com coroa de espinhos e
aparentes fios de sangue escorridos pelo rosto, expressão de sofrimento
figurando a dor que sentia, cruz nas costas, um auxiliar chicoteando as suas
costas e a população assistia respeitosamente a sua encenação e, por vezes, o
aplaudiam.
Exemplo extraordinário de nossa cultura
popular e a consagração de um grande artista que foi varrido da memória da
nossa Garanhuns.
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