sábado, 28 de fevereiro de 2015

BIBÍ (A CRIAÇÃO DE UM NOTÁVEL ARTISTA)


Ao notar a divulgação da programação do cinema divulgada através dos diversos blogues, imaginei como é difícil para os jovens de menos de 70 anos imaginarem uma vida sem os meios de comunicação de que dispomos atualmente.

Sem jornais diários regulares, sem revistas, sem emissoras de rádio, sem telefones e muito menos televisão, sem carros de som, enfim eram poucos os meios de divulgação além da tradição oral. Exigia-se muito engenho e arte para fazer chegar à população as notícias de interesse geral.

Os sínos das igrejas eram um bom recurso e bastante utilizado para anunciar a morte de alguém. Mediante a solicitação das famílias pesarosas, o sacristão começava a soar o “dobre de finados” (com características próprias) que despertava a curiosidade de todos para saber quem era o defunto.

Da mesma forma, eram utilizados para avisarem os horários da aproximação e do início das missas (por isso mesmo denominados de “CHAMADAS PRA MISSA”). Quando a cerimônia religiosa extrapolava a competência do vigário e exigia sua direção pelo próprio bispo, ele tinha que se deslocar devidamente paramentado do Palácio do Bispo até a Catedral (ainda bem que a distância era curta) e – acreditem ou não – os sinos repicavam durante toda a caminhada do “Senhor Bispo”.

Para suprir a necessidade de aviso dos falecimentos, ainda existiam as gráficas especializadas que eram convocadas às pressas para imprimir os convites para o velório. Como primeira providência, impressos os convites, começava um trabalho intenso para individualizar, com escrita manual, os seus destinatários e com a preocupação de não omitir as pessoas mais importantes para a família. Aí então, se arrumava um punhado de gente para distribuí-los de casa em casa, dentro de um prazo muito curto. Pensem na trabalheira!

As gráficas foram muito utilizadas para imprimir a programação semanal do cinema e eram distribuídos profusamente pelas residências, lojas e de mão em mão. É provável que alguns amigos do Face ainda tenham arquivados alguns exemplares deles.

O serviço de alto-falantes colocados nos postes da Av. Santo Antônio, com o som emitido por um estúdio instalado no Edifício Tomaz Maia – ali na esquina com a Rua 13 de Maio – foi uma grande novidade e de muito sucesso. O responsável era Sebastião da Antena (sua família honrada ainda permanece na nossa terra), como era conhecido por dirigir também uma oficina de rádio-técnico, especialidade que começava a surgir.

Aí o serviço passou a irradiar notícias, recados, avisos e músicas e foi um sucesso na época. Algumas dedicatórias das músicas eram simplesmente inusitadas: “DE ALGUÉM PARA ALGUÉM OUÇA A AVE MARIA INTERPRETADA POR AUGUSTO CALHEIROS”. Era uma beleza !

Foi ocupando esse vácuo que o engenho e a arte de alguns artistas natos conseguiram suprir, com sucesso, a comunicação referente à programação do cinema.

É provável que poucos ainda lembrem dele, mas existiu uma outra figura  do meu tempo de adolescente que me faz raciocinar quanto à sua qualidade artística e imaginação criadora.         

Bibí como era conhecido (nunca soube seu nome real) trabalhava para o Cine-Teatro Glória e quando iam ser apresentados alguns filmes de grande repercussão, ele era requisitado para fazer a encenação adequada, compatível com a história, que ele cumpria com extrema competência.

Ele se fantasiava de acordo com os personagens dos filmes para caracterizar com a maior perfeição e utilizava alguns apetrechos que julgava como necessários para garantir a qualidade e a fidelidade do seu trabalho. Com um clarim anunciando a sua passagem, ele percorria todas as ruas centrais da cidade, travestido como caubói americano, ou legionário romano, ou pirata.

Encarava seu trabalho com a máxima seriedade, não dava uma palavra, com feição carregada, não dava atenção às inevitáveis provocações, comportando-se como se estivesse filmando em Holywood. Deve-se ressaltar que a sua grande performance era  o anúncio da Paixão de Cristo e certeza de bilheteria certa.

Desfilava de tanga, com coroa de espinhos e aparentes fios de sangue escorridos pelo rosto, expressão de sofrimento figurando a dor que sentia, cruz nas costas, um auxiliar chicoteando as suas costas e a população assistia respeitosamente a sua encenação e, por vezes, o aplaudiam.

Exemplo extraordinário de nossa cultura popular e a consagração de um grande artista que foi varrido da memória da nossa Garanhuns.

 

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