domingo, 30 de novembro de 2014

OS ANOS RESTANTES DE LUIS JARDIM


Meu querido compadre e primo Luis Jardim, filho do Capitão José Jardim e tia Santa, por conseguinte irmão de Carminha, Zezinho (pai de Luis Afonso Jardim), Eulina (mãe de dois bem-querer, Tereza Cristina e Virgínia), Zezinha, Suzete. Pai, em primeiro casamento, de Esdras e Iara. Boêmio por vocação e prazer. Funcionário irrepreensível da Secretaria de Agricultura do Estado (Tesoureiro, num tempo em que não existia rede bancária e tudo era in cash. Imaginem a responsabilidade dos tesoureiros!). De segunda à sexta, servidor exemplar, cumpridor de suas obrigações sem qualquer referência desabonadora em sua ficha funcional, porém de sexta à noite até a noite de domingo, ninguém podia contar com ele pra nada. E, no Carnaval então, chegava em Garanhuns, se incorporava ao Cacareco e daí em diante eram três dias e quatro noites emendadas sem trégua e descanso.

Até que um belo dia chega a notícia: Luis Jardim teve um enfarto e estava internado no Hospital Português, com extremo  risco de vida. Nessa época, ainda não existiam os maravilhosos recursos médicos na cardiologia e a terapia determinava um repouso absoluto e uma manipulação como de cristal entre algodões. Seu cardiologista era Dr. Jarbas Malta seu amigo e irmão de José Malta, agrônomo do Estado e colega de trabalho de Luis.

Por conta disso, o trabalho do médico era de grande dedicação. Com tanto empenho e zelo, terminou Luis Jardim recebendo alta do Hospital indo pra casa depois de quase dois meses de internamento. Primeira providência foi uma festa de arromba em sua casa nos moldes que sempre fazia.

A família se apavorou e denunciou o seu comportamento ao Dr. Jarbas que mandou chamá-lo e passou-lhe um carão exemplar: Seu Luiz, você enlouqueceu? Sem vacilar, Luiz respondeu: “Você não me deu alta ? Aguarde o próximo enfarte e, se der tempo me socorram, se não, me enterrem e continuem a vida”. E concluiu ainda: “Jarbas, EU QUERO UM ANO DA VIDA QUE GOSTO  E NÃO QUERO DEZ DA VIDA QUE VOCÊ ME QUER DAR !”.

Sobreviveu ainda quatorze anos e terminou morrendo numa quarta-feira de cinzas, prosaicamente em um hospital, quando, na verdade merecia igual sorte de Quincas Berro D'Água ou Vadinho.

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