Por volta dos anos 40, Garanhuns tinha o seu desordeiro contumaz e sempre reconhecido como tal. Era uma época em que até os desordeiros tinham o seu lirismo e referência na vida da cidade. Não lembro o seu verdadeiro nome, mas era conhecido com o apelido de “TURRICA”, negro esguio e serelepe, tomador de cachaça que adorava brigar com a Polícia e filho de Dona Toinha uma clássica lavadeira de muitas famílias, comadre de minha mãe Maria e muito respeitada na comunidade, já que a sociedade dependia dessa forte corrente da cadeia produtiva de serviços (a desgraça foi o surgimento das miseráveis maquinas de lavar!). Tinha um irmão – seu verdadeiro contraponto e antítese – Otávio, uma lapa de negro de perto de dois metros de altura, pesando uns 100 quilos que tinha por profissão os labores na Tipografia Garanhuns do famoso jornalista Dario Rego e por sua ousadia ao assumir na época a condição de homossexual, era chamado “Bicha Tipógrafa”. Brabo e pacato, ao mesmo tempo, era uma espécie de Madame Satã da época que não admitia qualquer desacato e quem quiser que o desafiasse para ver o resultado.
INCIDENTE DE TURRICA
COM SEU MARANHÃO
O fato é
que um belo dia Turrica, alí em torno do hoje chamado Braz, fez um mal-feito
qualquer e, em represália, “Seu” Maranhão, figura rotunda e barriguda, detentor
de um cargo existente na época com muita autoridade de Fiscal de Jogos, mandou
prender Turrica dando ordens a Zezinho Jardim, pai do nosso querido primo e
advogado Luis Afonso Jardim, que era então soldado de polícia: “Zezinho,
prenda esse moleque e meta no xadrez, pra ele aprender a respeitar uma
autoridade”. Naquele tempo não tinha essa história de algemas, nem de
buques. O preso era conduzido pela força da autoridade e acompanhado a pé até a
cadeia sob o olhar curioso do povo nas calçadas para vê-los passar. Zezinho,
apesar de franzino era muito valente, nunca foi de brincadeira, tratou logo de
dar voz de prisão e avisar desde logo a Turrica: “Turrica comigo você vai e sabe
disso. Se brincar, estouro suas pernas”. Turrica se entregou e foi logo avisando: “Seu Zezinho, fique sem cuidado que
eu vou, mas no dia em que me soltar, vou meter uma doze polegadas no bucho de
Seu Maranhão que vai correr gordura dele até o Pau Pombo”. Mal
começaram a subida até a cadeia, e Seu Maranhão gritou pra Zezinho: “Ô Zezinho,
pensando bem solte esse pobre. Isso é um pobre Zezinho, não perca tempo”.
Cabra valente, “Seu” Maranhão!
INCIDENTE DE
“TURRICA” COM O CABO JESUINO
Ainda
TURRICA: Na mesma época, existia no destacamento policial de Garanhuns o Cabo
Jesuino, gordo, pesadão, já de razoável idade e bastante conhecido na cidade. É
importante saber que a Cadeia Pública era situada na chamada Rua da Linha (acima da Praça Guadalajara),
vizinha ao atual Colégio Estadual e imaginem a subida enorme da avenida Santo
Antonio até lá. Numa das desordens de Turrica, o Cabo Jesuíno deu-lhe voz de
prisão e, como de costume, iniciaram a caminhada até à cadeia com o povo assistindo da beira da calçada, sendo de notar que Turrica comportou-se de forma disciplinada. Não se sabe até hoje
a razão, mas o fato é que na altura da Praça Dom Moura, Turrica volta-se para o
Cabo Jesuíno e diz com toda ênfase: “Quer
saber de uma coisa Cabo? Eu não vou mais não.” O Cabo Jesuíno, surpreendido
pela decisão do preso, retruca-lhe na bucha: “Como é a história, moleque. O que
é está dizendo?” Respondeu-lhe Turrica: “É isso o que o senhor está ouvindo. Não vou
mais!” E aí vem a famosa decisão do Cabo Jesuíno: “MAS TURRICA, PORQUE NÃO AVISOU
LOGO LÁ EMBAIXO, PORQUE AÍ A GENTE NÃO TINHA PRECISADO SUBIR UMA LADEIRA DANADA
DESSAS?
KKKKKKKK. Não sei quem tinha as melhores tiradas: Turrica ou os policiais.
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