Para complementar, cito os incríveis e até
inevitáveis efeitos colaterais que todos esses procedimentos estão causando
pelo mundo afora, não só de natureza científica como pelas repercussões humanistas.
Para não destoar do inusitado das minhas
ocorrências de vida, um belo dia percebo, assustado, um caroço no peito de
tamanho já regular. Como é natural, entrei em pânico e fiz o que me pareceu instintivo:
procurei desesperado o meu querido primo e amigo Prof. Eduardo Miranda, mestre
e chefe de clínica oncológica respeitável e respeitado.
Abriu uma ficha com todos os dados e
referências à minha saúde, histórico e antecedência médica, uso eventual de
medicamentos e fez o esperado: uma palpação cuidadosa do meu peito, claro que
menos incômoda que as verificações prostáticas....Constatada a existência de
nódulo acentuado, tomou uma providência que, no primeiro momento, me pareceu
inevitável: a requisição de uma MAMOGRAFIA.
Sem pensar muito e na aflição que sentia,
dirigi-me à uma clínica especializada que tem o nome de um antigo companheiro
de pensão de estudantes, já falecido e hoje dirigido por uma filha sua.
Encaminhei a requisição no balcão de atendimento e aguardei disciplinadamente o
preenchimento da burocracia necessária e fui encaminhado para a sala de espera.
Aí caiu a ficha e imaginem o meu vexame.
Olhei para um lado e para o outro e todas as “esperantes” eram mulheres, o que
me deixava como o pretenso último varão sobre a terra. Um espécime do gênero
masculino fazendo uma mamografia que, praticamente, é reservada às mulheres em
virtude da elevada incidência do mal.
Aí começo a encabular, diante dos olhares furtivos
que as pacientes começavam a trocar diante do inusitado da ocasião. Faziam um
risinho discreto e desconfiado, demonstrando uma surpresa que não devia existir
diante da constatação de milhares de participantes nas paradas gays que estão
acontecendo no Brasil inteiro.
Imaginava o que elas deveriam estar pensando:
“o que essa bicha velha e amostrada está
querendo provar ?” ; “esse cara acha pouco a concorrência que sofremos
e ainda vem aumentar a desigualdade de
gêneros ?”; “a mamografia dele é de peito ou de seio ?”.
A verdade é que passei um constrangimento
desgraçado, até que me chamaram para a execução do procedimento. Após feito o
exame e de certa forma aliviado, atravessei a sala de espera, às carreiras, e
fui aguardar na recepção o resultado e a entrega da maldita mamografia.
Mais tranquilo depois de bisbilhotar o
resultado que acusava a benignidade do nódulo, corri para o consultório de
Eduardo e exibi triunfante a MAMOGRAFIA, ao final, salvadora! O meu caro
Eduardo examina com muito cuidado o exame e, intrigado, até certo ponto, me
reinquire sobre os medicamentos que estava usando e foi aí a grande surpresa:
havia esquecido e, na minha angústia, esqueci de referir-me a um tal de Aldactone que também estava tomando.
Ele foi peremptório: rasgue essa porcaria de
exame, jogue fora o remédio que lhe restar, avise à sua cardiologista e suma
daqui, disparando uma estrepitosa gargalhada.
Até hoje, acho que riu porque não
passou o que passei!
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