sábado, 18 de abril de 2015

AINDA A TRAGÉDIA DOS EXAMES

Os comentários despertados pela crônica que publiquei no Facebook, “Porque Hoje é Sábado”, me levou à outras reflexões no sentido de que a medicina avançou muito nas descobertas científicas, na tecnologia dos novos equipamentos, na descoberta de medicamentos milagrosos, na engenhosidade de procedimentos. Mas, ao inverso, piorou muito na desumanização da carreira médica, na frieza da relação médico/paciente, na panaceia dos planos de saúde hoje transformados em um imenso SUS, no desprezo à marcação das consultas travestidas em “segundo à ordem de chegada”.

Para complementar, cito os incríveis e até inevitáveis efeitos colaterais que todos esses procedimentos estão causando pelo mundo afora, não só de natureza científica como pelas repercussões humanistas.
Para não destoar do inusitado das minhas ocorrências de vida, um belo dia percebo, assustado, um caroço no peito de tamanho já regular. Como é natural, entrei em pânico e fiz o que me pareceu instintivo: procurei desesperado o meu querido primo e amigo Prof. Eduardo Miranda, mestre e chefe de clínica oncológica respeitável e respeitado.

Abriu uma ficha com todos os dados e referências à minha saúde, histórico e antecedência médica, uso eventual de medicamentos e fez o esperado: uma palpação cuidadosa do meu peito, claro que menos incômoda que as verificações prostáticas....Constatada a existência de nódulo acentuado, tomou uma providência que, no primeiro momento, me pareceu inevitável: a requisição de uma MAMOGRAFIA.
Sem pensar muito e na aflição que sentia, dirigi-me à uma clínica especializada que tem o nome de um antigo companheiro de pensão de estudantes, já falecido e hoje dirigido por uma filha sua. Encaminhei a requisição no balcão de atendimento e aguardei disciplinadamente o preenchimento da burocracia necessária e fui encaminhado para a sala de espera.

Aí caiu a ficha e imaginem o meu vexame. Olhei para um lado e para o outro e todas as “esperantes” eram mulheres, o que me deixava como o pretenso último varão sobre a terra. Um espécime do gênero masculino fazendo uma mamografia que, praticamente, é reservada às mulheres em virtude da elevada incidência do mal.
Aí começo a encabular, diante dos olhares furtivos que as pacientes começavam a trocar diante do inusitado da ocasião. Faziam um risinho discreto e desconfiado, demonstrando uma surpresa que não devia existir diante da constatação de milhares de participantes nas paradas gays que estão acontecendo no Brasil inteiro.

Imaginava o que elas deveriam estar pensando:
o que essa bicha velha e amostrada está querendo provar ?” ; “esse cara acha pouco a concorrência que sofremos e ainda vem aumentar a  desigualdade de gêneros ?”; a mamografia dele é de peito ou de seio ?”.

A verdade é que passei um constrangimento desgraçado, até que me chamaram para a execução do procedimento. Após feito o exame e de certa forma aliviado, atravessei a sala de espera, às carreiras, e fui aguardar na recepção o resultado e a entrega da maldita mamografia.
Mais tranquilo depois de bisbilhotar o resultado que acusava a benignidade do nódulo, corri para o consultório de Eduardo e exibi triunfante a MAMOGRAFIA, ao final, salvadora! O meu caro Eduardo examina com muito cuidado o exame e, intrigado, até certo ponto, me reinquire sobre os medicamentos que estava usando e foi aí a grande surpresa: havia esquecido e, na minha angústia, esqueci de referir-me a um  tal de Aldactone que também estava tomando.

Ele foi peremptório: rasgue essa porcaria de exame, jogue fora o remédio que lhe restar, avise à sua cardiologista e suma daqui, disparando uma estrepitosa gargalhada. 
Até hoje, acho que riu porque não passou o que passei!

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