sábado, 2 de maio de 2015

CRISE POLÍTICA OU ECONÔMICA

Há dois dias atrás, li no site da UOL um artigo de eminente Mestra paulista que motivou-me a escrever essa carta, omitindo seu nome, por duas razões: 1. Não tenho qualquer intenção de estabelecer polêmica com quer que seja e 2. Não tenho estatura científica para debater com mestres e doutores, sobre qualquer assunto.

CRISE POLÍTICA OU ECONÔMICA
Professora: Desculpe o atrevimento, pois não tenho mestrado, nem doutorado e apenas VIVERADO. Não conheço a questão através dos livros, mas sim por tê-la vivido. Participei, com militância ativa, de todas as crises vividas no Brasil desde 1945 e sou testemunha e observador da origem e natureza de todas elas. O seu equívoco, mestra, é confundir a natureza das crises ao comparar 1964 com 2015.

Em 64, vivíamos a partição radical do mundo em dois blocos hegemônicos. Só existiam "democratas" de um lado e "comunistas" do outro. A pequena e insignificante (economicamente!) Cuba pagou 50 anos o preço intolerável de pretender-se fora do alcance do maniqueísmo. A questão era exclusivamente de natureza política, tanto que assistimos logo depois a "descoberta pressurosa" da China pelas grandes empresas multinacionais, com um mercado consumidor de mais de um bilhão de habitantes e essa circunstância eliminou, de pronto, qualquer veleidade ideológica.
Ao invés, a crise de 2015 não tem nada de política, ideológica, doutrinária, mas exclusivamente ECONôMICA, até na origem da formação corruptiva que dominou a nação, como um todo e atingindo todos os segmentos da sociedade. A economia nacional foi exaurida por um aparelhamento do Estado nunca visto até então, embora que não existam inocentes. A construção foi coletiva ao longo dos anos e pretende-se, até, a justificar a corrupção mediante conceitos ideológicos.

Costumo dizer, Mestra, no meu jeito hilário e pouco científico de dizer as coisas, que assistimos TODO O MUNDO ROUBANDO TODO O MUNDO E CHAMANDO OS OUTROS DE LADRÃO. É o jeitinho brasileiro de tirar vantagem de tudo e, para isso, é fundamental que a corrupção seja generalizada, democratizada e, até, institucionalizada. Uma discussão séria foi transformada no deboche de quem roubou mais, quem rouba há mais tempo, quem se livra do peso da justiça por ter os mais caros advogados deste país e a adoção do despudorado princípio do rouba mas faz. Ademar de Barros e Maluf passaram a figurar como grandes exemplos da esperteza e da sabedoria a serem seguidos.
O filósofo (!) e ex-Presidente americano Reagan diria com toda a propriedade, aos nossos dirigentes, “isso é Economia, seus estúpidos” que uma má administração causou à Nação. A sociedade brasileira foi corrompida INSTITUCIONALMENTE e se a impunidade e a leniência persistirem, não restará pedra sobre pedra. Existe na sociedade brasileira, uma volúpia pela transgressão e que, não corrigida, resultará em um grande desastre. É aquela velha história: os meus corruptos são presos políticos e os corruptos dos outros são ladrões mesmo! Não dá para sustentar qualquer laivo ideológico, lembrando sempre que o exercício da DEMOCRACIA é muito difícil.

Não quero ser enfadonho, mas assistimos todos os dias: a) pessoas reclamando da sujeira da cidade e jogando lixo no leito das ruas e conduzindo seus mimosos cachorrinhos para cagar nas calçadas; b) reclamando do trânsito e estacionando seu carros em locais proibidos ou avançando os sinais; c) movimentos para criação de leis para proteger os animais que puxam carroças e pouco estão se lixando com o sofrimento dos humanos burros sem-rabo; d) bancos cobrando juros de l6% ao mês, numa inflação de 8,5% ao ano e pagando aos investidores populares menos de 1% ao mês;  e) gente reclamando direitos de cidadania e furando fila nos mercados, cinemas, bancos, elevadores e agridem quando recebem qualquer reclamação; f) profissionais de todas as categorias reclamando remuneração decente e prestando serviços de péssima qualidade; g) as carteiradas expostas pelas chamadas “autoridades” para fugirem ao respeito à Lei; e h) reclamam do patrimonialismo e nepotismo que os parlamentares e executivos adotam no exercício do mandato mas, ao que se saiba, todos são eleitos e nenhum nomeado.
A coisa chega a ser surrealista! No Recife, a Avenida Boa Viagem tem uma ciclovia ao longo dos seus 8 (oito) quilômetros de extensão. Pois bem, desafio que não se encontre, a qualquer hora do dia ou da noite, ciclistas trafegando na pista de “cooper” do calçadão atropelando os caminhantes. Cheguei a pensar que já tinha visto tudo, até encontrar por mais de uma vez, caminhantes fazendo “cooper” nas ciclovias! E, como se não bastasse e não existissem pistas privativas para caminhantes e bicicletas, encontrei um caminhante fazendo “cooper” (acreditem ou não!) na pista dos carros. Se não reformarmos essa sociedade corrompida, sedimentando o primordial axioma democrático do respeito à lei, não teremos possibilidade de criarmos uma Nação decente.

Tergiversei mas afirmo, professora, que capitalismo nunca foi ideologia política que possa justificar a presente crise, haja vista a sua convivência fraternal nos diferentes regimes políticos ao longo  do tempo e das nações. Sei que vou ser amaldiçoado até o fim de meus dias, mas se a senhora pesquisar vai constatar o que assisti ao longo tempo em que vivi: Em todas as crises nacionais, de 1945 para cá, quem foi para as ruas e para os calabouços morrer e serem torturados foram os ESTUDANTES, LÍDERES CAMPONESES, MILITANTES PARTIDÁRIOS, JORNALISTAS, INTELECTUAIS, LÍDERES RELIGIOSOS e não há registro de sindicalistas urbanos vitimados. Não existe remédio para curar os que, depois de visitar o paraíso, conhecem o doce encanto da burguesia.                  

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