CRISE
POLÍTICA OU ECONÔMICA
Professora:
Desculpe o atrevimento, pois não tenho mestrado, nem doutorado e apenas
VIVERADO. Não conheço a questão através dos livros, mas sim por tê-la vivido.
Participei, com militância ativa, de todas as crises vividas no Brasil desde
1945 e sou testemunha e observador da origem e natureza de todas elas. O seu
equívoco, mestra, é confundir a natureza das crises ao comparar 1964 com 2015.
Em 64,
vivíamos a partição radical do mundo em dois blocos hegemônicos. Só existiam
"democratas" de um lado e "comunistas" do outro. A pequena
e insignificante (economicamente!) Cuba pagou 50 anos o preço intolerável de
pretender-se fora do alcance do maniqueísmo. A questão era exclusivamente de
natureza política, tanto que assistimos logo depois a "descoberta
pressurosa" da China pelas grandes empresas multinacionais, com um mercado
consumidor de mais de um bilhão de habitantes e essa circunstância eliminou, de
pronto, qualquer veleidade ideológica.
Ao invés, a
crise de 2015 não tem nada de política, ideológica, doutrinária, mas
exclusivamente ECONôMICA, até na origem da formação corruptiva que dominou a
nação, como um todo e atingindo todos os segmentos da sociedade. A economia
nacional foi exaurida por um aparelhamento do Estado nunca visto até então,
embora que não existam inocentes. A construção foi coletiva ao longo dos anos e
pretende-se, até, a justificar a corrupção mediante conceitos ideológicos.
Costumo
dizer, Mestra, no meu jeito hilário e pouco científico de dizer as coisas, que
assistimos TODO O MUNDO ROUBANDO TODO O MUNDO E CHAMANDO OS OUTROS DE LADRÃO. É
o jeitinho brasileiro de tirar vantagem de tudo e, para isso, é fundamental que
a corrupção seja generalizada, democratizada e, até, institucionalizada. Uma
discussão séria foi transformada no deboche de quem roubou mais, quem rouba há
mais tempo, quem se livra do peso da justiça por ter os mais caros advogados
deste país e a adoção do despudorado princípio do rouba mas faz. Ademar de
Barros e Maluf passaram a figurar como grandes exemplos da esperteza e da
sabedoria a serem seguidos.
O filósofo (!)
e ex-Presidente americano Reagan diria com toda a propriedade, aos nossos
dirigentes, “isso é Economia, seus estúpidos” que uma má administração causou à
Nação. A sociedade brasileira foi corrompida INSTITUCIONALMENTE e se a
impunidade e a leniência persistirem, não restará pedra sobre pedra. Existe na
sociedade brasileira, uma volúpia pela transgressão e que, não corrigida,
resultará em um grande desastre. É aquela velha história: os meus corruptos são
presos políticos e os corruptos dos outros são ladrões mesmo! Não dá para
sustentar qualquer laivo ideológico, lembrando sempre que o exercício da
DEMOCRACIA é muito difícil.
Não quero
ser enfadonho, mas assistimos todos os dias: a) pessoas reclamando da sujeira
da cidade e jogando lixo no leito das ruas e conduzindo seus mimosos
cachorrinhos para cagar nas calçadas; b) reclamando do trânsito e estacionando
seu carros em locais proibidos ou avançando os sinais; c) movimentos para
criação de leis para proteger os animais que puxam carroças e pouco estão se
lixando com o sofrimento dos humanos burros sem-rabo; d) bancos cobrando juros
de l6% ao mês, numa inflação de 8,5% ao ano e pagando aos investidores populares
menos de 1% ao mês; e) gente reclamando
direitos de cidadania e furando fila nos mercados, cinemas, bancos, elevadores
e agridem quando recebem qualquer reclamação; f) profissionais de todas as
categorias reclamando remuneração decente e prestando serviços de péssima
qualidade; g) as carteiradas expostas pelas chamadas “autoridades” para fugirem
ao respeito à Lei; e h) reclamam do patrimonialismo e nepotismo que os
parlamentares e executivos adotam no exercício do mandato mas, ao que se saiba,
todos são eleitos e nenhum nomeado.
A coisa
chega a ser surrealista! No Recife, a Avenida Boa Viagem tem uma ciclovia ao
longo dos seus 8 (oito) quilômetros de extensão. Pois bem, desafio que não se
encontre, a qualquer hora do dia ou da noite, ciclistas trafegando na pista de “cooper”
do calçadão atropelando os caminhantes. Cheguei a pensar que já tinha visto
tudo, até encontrar por mais de uma vez, caminhantes fazendo “cooper” nas
ciclovias! E, como se não bastasse e não existissem pistas privativas para
caminhantes e bicicletas, encontrei um caminhante fazendo “cooper” (acreditem
ou não!) na pista dos carros. Se não reformarmos essa sociedade corrompida,
sedimentando o primordial axioma democrático do respeito à lei, não teremos
possibilidade de criarmos uma Nação decente.
Tergiversei
mas afirmo, professora, que capitalismo nunca foi ideologia política que possa
justificar a presente crise, haja vista a sua convivência fraternal nos
diferentes regimes políticos ao longo do
tempo e das nações. Sei que vou ser amaldiçoado até o fim de meus dias, mas se
a senhora pesquisar vai constatar o que assisti ao longo tempo em que vivi: Em
todas as crises nacionais, de 1945 para cá, quem foi para as ruas e para os
calabouços morrer e serem torturados foram os ESTUDANTES, LÍDERES CAMPONESES, MILITANTES
PARTIDÁRIOS, JORNALISTAS, INTELECTUAIS, LÍDERES RELIGIOSOS e não há registro de
sindicalistas urbanos vitimados. Não existe remédio para curar os que, depois
de visitar o paraíso, conhecem o doce encanto da burguesia.
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