Estavam lá os filhos do homenageado: Adisa e
esposo (meu querido amigo Zeca de Bolinha), Pedro Jorge, Emília e esposo (nosso
Givaldo), Alexssandra e a lamentável ausência de Celso Benigno, meu querido
irmão por livre escolha e afeto.
Enquanto esperávamos o início do evento,
comecei a olhar em volta e relembrar os meus tempos de menino em São Pedro. Estrada
de terra, muita poeira e a distância parecia enorme. Pra quem não sabe, a vila
de São Pedro foi, durante muitos anos, uma estação de inverno (ou de verão ?)para
o povo de Garanhuns, uma vez que a sua temperatura ambiente era sempre alguns
gráus mais alta do que o inclemente frio do inverno de Garanhuns. Resultava em
refúgio para algumas famílias que se “abrigavam” algum tempo em São Pedro para
escapar do frio.
Não fugindo a regra , meu Pai Bida e Mãe
Maria, alugavam uma casa lá na vila e lá íamos nós curtir um clima mais ameno
durante um bom período, suportando melhor os inevitáveis banhos frios; as
inéditas e deslumbrantes excursões pela zona rural junto com novos amigos; a
proximidade com os leites tomados no pé da vaca; a degustação de queijos
frescos e (há que maravilha e cada vez mais rara!) uma bela coalhada escorrida
adoçada com rapadura ralada bem fininha.
A proximidade da “Fazenda São Paulo”, bem
pertinho da Vila, pertencente a tio Francisquinho e tia Olívia que antes de
morrerem a partilharam em vida com os seus filhos e que também, indo para lá,
cumpriam o roteiro da estação de inverno
fugindo do frio da cidade.
A garantia do desfrute dos meninos era a
Mercearia de Seu Galdino, que não deixava faltar os confeitos, pirulitos, e as
gasosas Fratelli Vita – sabores limão e maçã – para atender a todos os gostos.
A família de Seu Galdino e Dona Maricota era referência na Vila, e seus filhos Zé
Galdino e Iracy que estudavam em Garanhuns e, se não falha a memória, Zé
Galdino estudava na mesma turma de meu querido primo e compadre Waldemar Branco.
Aproveitando a oportunidade e, mesmo correndo
o perigo de tergiversar, lembro um incidente maravilhoso ocorrido naquela
Fazenda São Paulo, com todos nós já maduros, casados e pretensamente
responsáveis, Num domingo de Carnaval, tomamos conhecimento que Vanildo
(querido primo-irmão) por conta do falecimento de um parente de Gilda, sua
mulher, refugiara-se na fazenda para não brincar o Carnaval - única coisa que o
tirava do sério e o tornava até estroina e perdulário.
Por coincidência, naquele ano vieram passar o
carnaval comigo Paulo Coxinha e sua mulher Jacira e ficaram hospedados na minha
casa e até meu compadre e primo Luiz Jardim, recém liberado da sua
convalescência do enfarte (já contei essa história) apareceu para se integrar na
folia. Não queríamos correr o risco de levar Luiz conosco, mas ele foi
inflexível: “Não adianta, se vocês não me levarem, vou sozinho e se cair morto na
rua não tem quem me acuda. É pior!”.
O resultado foi uma deliberação unânime:
deveríamos ir buscar Vanildo e trazê-lo na marra para participar do Carnaval
conosco, e marchamos para a fazenda em São Pedro a fim de resgatá-lo para a
folia. Para quem conhece, sabe que ela tinha um pátio fronteiro enorme e a
porteira de acesso era muito distante da casa grande. Quando abrimos a porteira , ele que estava na
varanda da casa, apercebeu-se de nossa presença, pulou a grade da varanda e
correu disparado para a catinga bem próxima onde se internou.
Corremos no seu encalço e nos deu um trabalho
desgraçado para alcançá-lo. Depois de muita luta e todos esbaforidos,
conseguimos arrastá-lo para o jipe em que estávamos. Sacudimos ele na traseira
do jipe junto com Luiz, e como eu estava no volante, arranquei rapidamente para
ele não poder escapulir mais uma vez. O diabo é que quando passamos na porteira
de saída, ele deu um suspiro de alívio e exclamou: “Eita, eu tava morrendo de medo
que vocês não me pegassem” e caiu na farra.
No alvoroço dos meus pensamentos foi
inevitável, até pelas circunstâncias do evento, a memória das campanhas
políticas de então que quase sempre eram marcadas pelo meu antagonismo com
Amílcar. Poucas vezes estivemos juntos no mesmo palanque mas, mesmo assim, as
nossas relações pessoais e familiares nunca foram perturbadas. Em 1963 fiquei
ao lado de Amílcar, mesmo contrariando uma “pretensa” candidatura que se
afirmava governista, e fomos vitoriosos.
No exercício do mandato fez uma viagem aos
Estados Unidos e lá do Estado de Winsconsin, mandou-me um cartão postal em que
dizia mais ou menos assim: “Você fez tanta força para eu subir que
veja onde vim parar”. Esse postal foi guardado durante todos esses anos
por Dulce (guardou tão bem guardado que não consigo encontrá-lo) e toda vez que
se encontravam era uma divertida simulação de disputa pelo postal entre Amílcar,
querendo-o de volta e Dulce insistindo pela sua posse como testemunho da nossa
carreira política em comum.
De qualquer forma, foi um dia feliz para mim participar
da inauguração do importante benefício para São Pedro, ao mesmo tempo em que me
permiti aprofundar as saudades e reminiscências de tanto tempo que passou.
Arre! Quanta saudade!
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