domingo, 24 de janeiro de 2016

A SAÚDE EM GARANHUNS

A propósito de uma entrevista do Secretário Adjunto da Saúde de Garanhuns, em resposta a declarações de um médico do Hospital D. Moura, gostaria de comentá-la sem entrar no mérito da questão, não só por não ser especialista no ramo, como por reconhecer que a questão da saúde é um grave problema no Brasil inteiro decorrente de deficiências estruturais muito sérias. A imprensa nacional nos dá notícia do fechamento de hospitais no Rio de Janeiro e de estarrecedora informação do Município do Rio de Janeiro emprestando dinheiro ao Estado do Rio de Janeiro para acudir a combalida saúde naquele Estado.

Ninguém assume nem quer resolver, o terrível problema de saúde pública causado em grande parte pelos acidentes de moto que, pelo menos em nosso Estado, arrebentaram a estrutura de emergência em saúde, ocupando sistematicamente cerca de 60% dos atendimentos dos leitos de emergência, sem contar que a permanência em recuperação dos pacientes acidentados é mais longa do que os pacientes comuns.

Ninguém ousa contrariar a produção e venda de motos, os consertos, a venda de sobressalentes, a geração de empregos e os sonhos de consumo da classe D emergente que, ao conseguir o primeiro emprego, compromete logo o primeiro salário para comprar uma “cinquentinha” com prestações mensais de cem reais. Para isso, foi tida como positiva a implantação da fábrica Shineray em Pernambuco que vai jogar nas ruas todo mês 20.000 motos novas! Positiva pela economia e fatídica pela saúde!

Da mesma forma, ninguém quer gastar com qualificação, reciclagem e treinamento dos motoqueiros e, o que é mais grave, ninguém quer assumir o desgaste político da repressão às transgressões, indisciplinas e verdadeira delinquência de uma boa parte deles.  

Lembro que na campanha política de 2006, Eduardo Campos foi criticado quando prometeu três novos hospitais na Região Metropolitana, considerados pelos opositores como desnecessários; os construiu e estão funcionando com plena capacidade, além de 12 UPA’s, e quase nada aliviou as emergências dos hospitais existentes. Nas cidades de porte médio, as motos viraram sucedâneos do transporte coletivo e dos taxis e até na zona rural substituíram o cavalo para tanger boiada.

Procurem as estatísticas alarmantes do Hospital D. Moura, quanto a acidentados de motos, sem contar os que são transferidos para outros centros hospitalares e os que passam direto para os necrotérios. Conclui-se, na verdade, que o problema de saúde no Brasil é muito mais complexo do que parece, quando se discute apenas aporte de verbas, conduta de servidores da saúde, carência de equipamentos, etc. esquecendo a crescente e assustadora produção de acidentados em escala geométrica (evitáveis, em parte, por providências preventivas).

Lembraria ao prezado Secretário Adjunto da Saúde apenas umas pequenas observações de natureza genérica sem discutir questões de natureza técnica que eu não entendo, a saber:
a)  
    Quando ele diz que “a Secretaria de Saúde de Garanhuns está bem estruturada e atende diariamente, quatro mil pacientes” esquece que esse excepcional atendimento de sua Secretaria representaria um atendimento mensal em torno de 100.000 pessoas que equivaleríam, na prática, a cerca de 80 (oitenta por cento) da população do Município. É apenas uma simples questão aritmética: não acha  um pouco de exagero afirmar que os 36 Postos de Saúde do Município atendem todo mês cerca de 80 (oitenta por cento) da população de Garanhuns? Mesmo admitindo a hipótese absurda de toda população de Garanhuns ser ou estar doente, o que restaria para ser atendido pelos Hospitais Dom Moura, UPAE, Infantil, Perpétuo Socorro e de outros órgãos que também atendem SUS, além de planos de saúde e particulares? Pelos índices estatísticos, significa que cada cidadão de Garanhuns é atendido em rodízio oito vezes por ano nos Postos de Saúde Municipais ?

b)      Quando ele “lembrou que aos sábados as Unidades Municipais de Saúde estão fechadas”, pode-se inferir que essas Unidades funcionam apenas durante os dias úteis? Se verdadeira, essa circunstância faz-me lembrar do meu tempo de Presidente da Cilpe, quando me defrontei com um problema criado por uma Usina de Leite concorrente ao recusar o recebimento de leite dos seus fornecedores, nos fins de semana, sob o pretexto de que não vendiam leite aos consumidores nesse período. Lembrando a famosa tirada do simplório e genial Garrincha, simplesmente perguntei: E COMBINARAM ISSO COM AS VACAS ? Por isso ousaria fazer ao caro Secretario de Saúde Adjunto a mesma pergunta: E COMBINARAM COM OS PACIENTES PARA NÃO ADOECEREM DURANTE OS FINS DE SEMANA? E COMBINARAM, TAMBÉM, COM OS MICRÓBIOS, COM OS BACILOS, COM OS VIRUS PARA NÃO ATACAREM E COM OS INFORTÚNIOS PARA NÃO OCORREREM NESSES PERÍODOS?


Entendo que a população necessita, ainda, de uma melhor informação, sobre o adiamento da implantação da UPA prevista para junho de 2016 e que segundo o prezado Secretário Adjunto Harley Davidson somente ocorrerá em 2017, sem esclarecer as razões técnicas, financeiras ou operacionais dessa protelação.

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