A propósito de uma entrevista do
Secretário Adjunto da Saúde de Garanhuns, em resposta a declarações de um
médico do Hospital D. Moura, gostaria de comentá-la sem entrar no mérito da
questão, não só por não ser especialista no ramo, como por reconhecer que a
questão da saúde é um grave problema no Brasil inteiro decorrente de
deficiências estruturais muito sérias. A imprensa nacional nos dá notícia do
fechamento de hospitais no Rio de Janeiro e de estarrecedora informação do
Município do Rio de Janeiro emprestando dinheiro ao Estado do Rio de Janeiro
para acudir a combalida saúde naquele Estado.
Ninguém assume nem quer resolver,
o terrível problema de saúde pública causado em grande parte pelos acidentes de
moto que, pelo menos em nosso Estado, arrebentaram a estrutura de emergência em
saúde, ocupando sistematicamente cerca de 60% dos atendimentos dos leitos de
emergência, sem contar que a permanência em recuperação dos pacientes
acidentados é mais longa do que os pacientes comuns.
Ninguém ousa contrariar a produção
e venda de motos, os consertos, a venda de sobressalentes, a geração de
empregos e os sonhos de consumo da classe D emergente que, ao conseguir o
primeiro emprego, compromete logo o primeiro salário para comprar uma
“cinquentinha” com prestações mensais de cem reais. Para isso, foi tida como
positiva a implantação da fábrica Shineray em Pernambuco que vai jogar nas ruas
todo mês 20.000 motos novas! Positiva pela economia e fatídica pela saúde!
Da mesma forma, ninguém quer
gastar com qualificação, reciclagem e treinamento dos motoqueiros e, o que é
mais grave, ninguém quer assumir o desgaste político da repressão às
transgressões, indisciplinas e verdadeira delinquência de uma boa parte
deles.
Lembro que na campanha política
de 2006, Eduardo Campos foi criticado quando prometeu três novos hospitais na
Região Metropolitana, considerados pelos opositores como desnecessários; os
construiu e estão funcionando com plena capacidade, além de 12 UPA’s, e quase
nada aliviou as emergências dos hospitais existentes. Nas cidades de porte
médio, as motos viraram sucedâneos do transporte coletivo e dos taxis e até na
zona rural substituíram o cavalo para tanger boiada.
Procurem as estatísticas
alarmantes do Hospital D. Moura, quanto a acidentados de motos, sem contar os
que são transferidos para outros centros hospitalares e os que passam direto
para os necrotérios. Conclui-se, na verdade, que o problema de saúde no Brasil
é muito mais complexo do que parece, quando se discute apenas aporte de verbas,
conduta de servidores da saúde, carência de equipamentos, etc. esquecendo a
crescente e assustadora produção de acidentados em escala geométrica (evitáveis,
em parte, por providências preventivas).
Lembraria ao prezado Secretário
Adjunto da Saúde apenas umas pequenas observações de natureza genérica sem
discutir questões de natureza técnica que eu não entendo, a saber:
a)
Quando
ele diz que “a Secretaria de Saúde de Garanhuns está bem estruturada e atende
diariamente, quatro mil pacientes” esquece que esse excepcional atendimento de sua Secretaria representaria
um atendimento mensal em torno de 100.000 pessoas que equivaleríam, na prática,
a cerca de 80 (oitenta por cento) da população do Município. É apenas uma
simples questão aritmética: não acha um
pouco de exagero afirmar que os 36 Postos de Saúde do Município atendem todo
mês cerca de 80 (oitenta por cento) da população de Garanhuns? Mesmo admitindo
a hipótese absurda de toda população de Garanhuns ser ou estar doente, o que restaria
para ser atendido pelos Hospitais Dom Moura, UPAE, Infantil, Perpétuo Socorro e
de outros órgãos que também atendem SUS, além de planos de saúde e
particulares? Pelos índices estatísticos, significa que cada cidadão de
Garanhuns é atendido em rodízio oito vezes por ano nos Postos de Saúde
Municipais ?
b) Quando ele “lembrou que aos sábados as Unidades
Municipais de Saúde estão fechadas”, pode-se
inferir que essas Unidades funcionam apenas durante os dias úteis? Se
verdadeira, essa circunstância faz-me lembrar do meu tempo de Presidente da Cilpe,
quando me defrontei com um problema criado por uma Usina de Leite concorrente
ao recusar o recebimento de leite dos seus fornecedores, nos fins de semana,
sob o pretexto de que não vendiam leite aos consumidores nesse período.
Lembrando a famosa tirada do simplório e genial Garrincha, simplesmente
perguntei: E COMBINARAM ISSO COM AS VACAS ? Por isso ousaria fazer ao caro
Secretario de Saúde Adjunto a mesma pergunta: E COMBINARAM COM OS PACIENTES
PARA NÃO ADOECEREM DURANTE OS FINS DE SEMANA? E COMBINARAM, TAMBÉM, COM OS
MICRÓBIOS, COM OS BACILOS, COM OS VIRUS PARA NÃO ATACAREM E COM OS INFORTÚNIOS
PARA NÃO OCORREREM NESSES PERÍODOS?
Entendo que a
população necessita, ainda, de uma melhor informação, sobre o adiamento da
implantação da UPA prevista para junho de 2016 e que segundo o prezado
Secretário Adjunto Harley Davidson somente ocorrerá em 2017, sem esclarecer as
razões técnicas, financeiras ou operacionais dessa protelação.
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