Imaginem o
poder e autoridade de um policial militar, investido na condição de Delegado de
Polícia, numa cidade do interior na primeira metade do século XX. Sua atuação
correu fama e ainda hoje, existe quem afirme diante de tanta violência e
malfeitos:
“Ah! que
saudade do tempo do Capitão Pedro Rodrigues. Com toda a segurança podia-se
deixar uma carteira na calçada da Matriz e, garanto, no dia seguinte amanhecia
lá do mesmo jeito!”
A ordem
era imposta por meio de uma repressão constante e muito respeitada, o que não
impedia de, vez em quando, aparecer um desafiante para ludibriar as suas ordens
e por meio de toda a sorte de expedientes ardilosos, ferir a moral reinante.
Nessa
época apareceu um negro chamado Amaral – célebre por nunca haver ganho um
dinheiro honesto – que se aproveitava de tudo inclusive da ingenuidade alheia
para tirar o melhor proveito. Conta-se que nas feiras da região armava uma
tenda, botava um tocador de viola batendo cordas na entrada e uma placa na
frente anunciando: “Gente, venham ver um perú dançarino”. O expediente era
simples de conseguir, fazia um braseiro no chão cavado, botava uma chapa de
ferro em cima para aquecer, e na hora da “dança” soltava um perú em cima da
chapa, que obrigava o pobre perú a pinotar o tempo todo, por não aguentar os
pés pisando na chapa.
Pois não é
que o negro Amaral não se emendava, mesmo diante das constantes prisões e pisas
que o Capitão Pedro Rodrigues lhe dava toda a vez que era apanhado pela
autoridade policial e, para isso, sempre tinha uma desculpa boa para justificar
o ilícito praticado.
Houve um
tempo em que as festas e danças promovidas com muita cachaça - e pouca vergonha
como se dizia então – o brigou o Delegado a exigir que toda festa somente seria
permitida mediante uma prévia autorização sua. No começo funcionou bem, sendo
também cumprida por Amaral, mas sua contumácia era incorrigível.
Um belo
dia avisaram ao Capitão que Amaral estava promovendo uma festa, sem a tal
autorização exigida. Não deu outra, mandou buscar o meliante e para começo de
conversa foi logo dando-lhe uma tapa, dizendo: “Negro safado, você está fazendo
festa sem minha autorização” ao que o negro lhe respondeu de pronto: “Menos a
verdade meu capitão, tenho aqui uma ordem de Vosmicê” e exibiu uma ordem de
seis meses atrás. O resultado foi outra tapa e a advertência: “Moleque, você
quer me fazer de idiota, apresentando essa ordem antiga!”. O negro Amaral aí
foi perfeito:
“QUE É
ISSO MEU CAPITÃO? PALAVRA DE VOSMICÊ PRA MIM VALE POR TODA A VIDA!
De outra
feita, trouxeram ao Capitão uma notícia mais séria, pois o negro Amaral estava
promovendo uma festa, na ladeira do Cego (hoje conhecida como rua da Areia), de
portas fechadas e ao que se informava, todo o mundo nú (já se vê que mesmo
naquela tempo já existia esse tipo de balada!). O Capitão não teve dúvidas,
juntou o destacamento e marchou para o local do crime.
Ali
chegando diante de uma casa modesta, com porta e janelas fechadas e o som de
uma viola dentro da casa. O capitão não vacilou e, de imediato, bateu forte na
porta. A resposta do Negro Amaral lá de dentro foi imediata: "TÁ COMPLETO. O NÚMERO DE DAMA É O MESMO DE CAVALEIRO. NÃO DÁ PRA ENTRAR MAIS NINGUÉM"
Ao ouvir o desaforado recado de Amaral, o Capitão gritou: “Negro safado, abra a porta!” e mandou os praças derrubarem a porta.O negro Amaral, ardiloso como sempre, juntou as roupas debaixo do braço e gritou para os participantes:
“MINHA GENTE, É O CAPITÃO PEDRO RODRIGUES. QUEM SOUBER A ORAÇÃO DA CABRA PRETA QUE SE ENVULTE QUE EU JÁ VOU ME ENVULTAR!”
Prevenido,
depois da primeira peitada dos praças levantou a pinguela da porta o que fez
com que na segunda arremetida os soldados se arrebentassem no chão, Por cima
deles, o negro pulou nú, com as roupas debaixo do braço, correndo no tabuleiro,
tentando escapar da prisão. Imaginem o espetáculo.
Desta vez, conta meu pai, o nego só escapou vivo graças a intervenção de minha avó!
Desta vez, conta meu pai, o nego só escapou vivo graças a intervenção de minha avó!
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