domingo, 3 de maio de 2015

UM CERTO CAPITÃO PEDRO RODRIGUES

Pertencem ao folclore de Garanhuns as histórias do Capitão Pedro Rodrigues, meu avô e oficial da Polícia Militar, nascido na ribeira do Canhoto, de uma família de origem humilde e honrada e, seguramente, para meu orgulho, qualquer casa naquela região abriga, ainda hoje, um parente meu.

Imaginem o poder e autoridade de um policial militar, investido na condição de Delegado de Polícia, numa cidade do interior na primeira metade do século XX. Sua atuação correu fama e ainda hoje, existe quem afirme diante de tanta violência e malfeitos:
“Ah! que saudade do tempo do Capitão Pedro Rodrigues. Com toda a segurança podia-se deixar uma carteira na calçada da Matriz e, garanto, no dia seguinte amanhecia lá do mesmo jeito!”

A ordem era imposta por meio de uma repressão constante e muito respeitada, o que não impedia de, vez em quando, aparecer um desafiante para ludibriar as suas ordens e por meio de toda a sorte de expedientes ardilosos, ferir a moral reinante.
Nessa época apareceu um negro chamado Amaral – célebre por nunca haver ganho um dinheiro honesto – que se aproveitava de tudo inclusive da ingenuidade alheia para tirar o melhor proveito. Conta-se que nas feiras da região armava uma tenda, botava um tocador de viola batendo cordas na entrada e uma placa na frente anunciando: “Gente, venham ver um perú dançarino”. O expediente era simples de conseguir, fazia um braseiro no chão cavado, botava uma chapa de ferro em cima para aquecer, e na hora da “dança” soltava um perú em cima da chapa, que obrigava o pobre perú a pinotar o tempo todo, por não aguentar os pés pisando na chapa.

Pois não é que o negro Amaral não se emendava, mesmo diante das constantes prisões e pisas que o Capitão Pedro Rodrigues lhe dava toda a vez que era apanhado pela autoridade policial e, para isso, sempre tinha uma desculpa boa para justificar o ilícito praticado.
Houve um tempo em que as festas e danças promovidas com muita cachaça - e pouca vergonha como se dizia então – o brigou o Delegado a exigir que toda festa somente seria permitida mediante uma prévia autorização sua. No começo funcionou bem, sendo também cumprida por Amaral, mas sua contumácia era incorrigível.

Um belo dia avisaram ao Capitão que Amaral estava promovendo uma festa, sem a tal autorização exigida. Não deu outra, mandou buscar o meliante e para começo de conversa foi logo dando-lhe uma tapa, dizendo: “Negro safado, você está fazendo festa sem minha autorização” ao que o negro lhe respondeu de pronto: “Menos a verdade meu capitão, tenho aqui uma ordem de Vosmicê” e exibiu uma ordem de seis meses atrás. O resultado foi outra tapa e a advertência: “Moleque, você quer me fazer de idiota, apresentando essa ordem antiga!”. O negro Amaral aí foi perfeito:
“QUE É ISSO MEU CAPITÃO? PALAVRA DE VOSMICÊ PRA MIM VALE POR TODA A VIDA!

De outra feita, trouxeram ao Capitão uma notícia mais séria, pois o negro Amaral estava promovendo uma festa, na ladeira do Cego (hoje conhecida como rua da Areia), de portas fechadas e ao que se informava, todo o mundo nú (já se vê que mesmo naquela tempo já existia esse tipo de balada!). O Capitão não teve dúvidas, juntou o destacamento e marchou para o local do crime.
Ali chegando diante de uma casa modesta, com porta e janelas fechadas e o som de uma viola dentro da casa. O capitão não vacilou e, de imediato, bateu forte na porta. A resposta do Negro Amaral lá de dentro foi imediata: 

"TÁ COMPLETO. O NÚMERO DE DAMA É O MESMO DE CAVALEIRO. NÃO DÁ PRA ENTRAR MAIS NINGUÉM"

Ao ouvir o desaforado recado de Amaral, o Capitão gritou: “Negro safado, abra a porta!” e mandou os praças derrubarem a porta.O negro Amaral, ardiloso como sempre, juntou as roupas debaixo do braço e gritou para os participantes:

“MINHA GENTE, É O CAPITÃO PEDRO RODRIGUES. QUEM SOUBER A ORAÇÃO DA CABRA PRETA QUE SE ENVULTE QUE EU JÁ VOU ME ENVULTAR!”

Prevenido, depois da primeira peitada dos praças levantou a pinguela da porta o que fez com que na segunda arremetida os soldados se arrebentassem no chão, Por cima deles, o negro pulou nú, com as roupas debaixo do braço, correndo no tabuleiro, tentando escapar da prisão. Imaginem o espetáculo.

Desta vez, conta meu pai, o nego só escapou vivo graças a intervenção de minha avó!



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