Legou-nos três filhos
maravilhosos: suas belas Isabela e Gabriela e o talentoso Clavinho, frutos de
sua ligação com nossa querida Tânia. Os seus últimos anos de vida foram muito
difíceis, pela mudança a que foi obrigado a cumprir por prescrições médicas e
ainda bem que teve o desvelo de sua companheira e nossa grande amigo Iane. Tão logo teve uma pequena melhora, conseguiu
um alvará para tomar APENAS duas doses de uísque por dia. Ardilosamente,
deixava para cumprir o preceito no fim do dia e se dava ao direito de tomar
quatro doses, antecipando as duas do dia seguinte.
Mas, sem tergiversar, vamos ao
objetivo principal desse meu texto. Durante um bom tempo, Clávio respeitou o
celibato e na sua solteirice, manteve uma forte amizade com uma criatura que
merecia o respeito de todos os seus amigos, sobretudo pelo apego que
demonstrava ao nosso querido Clávio. Por razões óbvias, vamos chamá-la de
Neide, pois chegou a um nível de intimidade tal que detinha uma cópia da chave
do seu apartamento de solteirão.
Um belo dia, no gozo de uma de
suas prolongadas “happy hours” no Velho Mustang, alí na Av. Conde da Boa Vista,
compartilhou uma mesa com uma conhecida de ocasião e a prosa foi tão boa e
exitosa que a conversa terminou com uma bela visita ao apartamento do
solteirão, onde terminaram dormindo juntos.
O diabo é que Neide, nesse dia,
resolveu ir dormir no apartamento de Clávio e, altas horas, com a sua cópia de
chave abriu o apartamento e deparou-se com o espetáculo de Clávio dormindo
profundamente com uma ilustre desconhecida ao lado. Sua reação foi inusitada. Serenou
a justa revolta, acalmou-se e, sorrateiramente acordou a dona, mandou-a se
vestir e botou pra fora de casa.
Feito isso, trocou de roupa,
vestiu a camisola que tinha sempre guardada junto com outras roupas no armário e
pré-saboreando uma vingança terrível, deitou-se silenciosamente ao lado de
Clavio, com a precaução de não acordá-lo. De manhã cedo Clávio acorda, vira-se
de lado e – surpresa ! - dá com Neide dormindo serenamente ao seu lado.
Esfregou os olhos, se beliscou, olhou os quatro cantos do apartamento, avaliou
o gosto amargo da ressaca, tentou ordenar suas ideias e o raciocínio e resolveu
aguardar aparentando a máxima serenidade para buscar uma explicação razoável.
Foi pior, pois quando acordou,
Neide dá-lhe um beijo de bom dia e como se tudo estivesse absolutamente normal,
marchou para a cozinha e anunciou que ia preparar o café. Clávio aproveitou,
foi tomar banho para esfriar a cabeça, fez a barba, e foi para a cozinha tomar
café. Tudo normal e tão normal que mais aumentava a sua angústia e estranheza
com o episódio e o deixava com a cabeça pegando fogo em busca de uma solução.
Até aí na maior normalidade, e quando sentaram à mesa para o desjejum, Neide não aguentou mais sustentar o
jogo e explodiu:
“CABRA SAFADO, PAPEL BONITO O
SEU, NÉ ?”
Ao que Clávio, em cima da bucha e
até que enfim, suspirou aliviado com o rompante de Neide e exclamou:
“GRAÇAS A DEUS, PENSEI QUE ESTAVA
DOIDO !“
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