“Esse é um tipo de discussão muito
engraçada em que todos têm um pouco de razão, sobretudo ao considerarmos que
vivemos num país extremamente desigual, em que as injustiças afloram à toda
hora, em todos os setores da atividade humana.
Antes de mais nada, confesso minha absoluta incompetência em Direito Penal, que
nunca gostei e tomei conhecimento apenas pela rotina do estudo. Completei 50
anos da formatura em Direito e ostento - discretamente - na parede do meu
gabinete, em casa, um diploma de Prêmio Universitário de “LAUREADO” da Turma,
que me enaltece, mas nunca fez de mim um sábio.
Não mereci galardões, não recebi comendas,
nunca as reivindiquei e cheguei à uma fase da vida que se inventarem qualquer
coisa desse tipo, juro que as recusarei, vez que nunca me seduziram. Servi, com
modesta qualificação e me orgulho disso, aos três governos de Arraes, dois de
Eduardo Campos, um de João Lyra e sirvo atualmente ao de Paulo Câmara. Beiro os
90 anos e sempre vivi modestamente e como Roberto (a quem sou ligado por velha
amizade e laços de contra-parentesco) falou muito nos salários de marajás do
Judiciário e do Ministério Público - que subscrevo desde que acrescidos dos
servidores e titulares do Legislativo e do Executivo e de suas acumulações –
quero dizer que sobrevivo com modestas rendas acumuladas ao longo de uma longa
vida com uma pensão do INSS que só dá - quase que exatamente - para pagar o
seguro de saúde meu e de minha mulher.
Essa história da punição de erros
profissionais é uma das coisas mais estúpidas e inúteis que conheci na vida.
Experimentem - os que militam na advocacia - uma responsabilização médica ou
veterinária por um diagnóstico errado. Experimentem reparação de um engenheiro
ou urbanista por uma concepção equivocada de uma solução ofensiva às mais
elementares regras de mobilidade urbana - aqui em Recife existem dezenas delas !
- e todos os dias somos agredidos por elas.
Para não encompridar muito, o que esse
Parlamento está pretendendo ressuscitar são os ERROS HERMENÊUTICOS ou ERROS DE
INTERPRETAÇÃO combatidos e superados a um século pela retórica e sabedoria de
um Ruy Barbosa, e que flutuavam nas aguas cediças de um Código Napoleônico que
exacerba a forma em detrimento da substância – que deve ser o objetivo precípuo
e final do Direito: A Persecução da Justiça.
Do mesmo jeito, Roberto – essa história de PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA de réus, em
sua grande maioria confessos, é uma grande piada que está servindo para
enriquecer as grandes bancas advocatícias, na maioria das vezes.
E diria para Fernando que você tem toda
razão, mas todos nós erramos – é próprio da natureza humana - e garanto-lhes
que todos teríamos mil histórias pra contar sobre injustiças sofridas, que
afinal acontecem. O que não se pode admitir é o erro doloso, preconcebido, com
objetivo da obtenção de vantagens de qualquer tipo, seja um emprego público
gracioso, uma propina ou permissividade no gabarito de um prédio em Salvador.
Sem esquecer que a movimentação legislativa
foi extremamente inoportuna, sub-reptícia, sem discussão, infiltrada
maliciosamente no seio de uma iniciativa que visava reduzir os instrumentos da
corrupção e aplaudo o Partido que você, Roberto, dirige – o PPS – que votou maciçamente
contra as medidas estranhas ao ninho. Não lhe consola Fernando, mas já assisti
a voz de prisão de um juiz, dentro do Plenário do Tribunal de Justiça de
Pernambuco que vendia sentenças! Divulguei um texto nesta semana que se referia
ao bordão de um velho professor que tive no ginasial em Garanhuns: TEM MUITA
GENTE ABUSANDO DO DIREITO DE SER SEM-VERGONHA.”
Como se vê, esse texto
permanece atual, diante da manobra intentada pelos solertes e atentos
parlamentares ao embalo da revolta dos brasileiros diante da indignidade desse
infamante “foro privilegiado”, montado, artificiosamente, para livrar os
bandidos contumazes do preceito soberano de que “TODOS SOMOS IGUAIS PERANTE A
LEI”.
E como se não bastasse, a
despeito de oito votos favoráveis no plenário do STF consagrando uma forte maioria,
ainda aparece um Ministro que depois de gastar a paciência de todos com uma
fundamentação de duas horas (!), pede vistas e retém os autos durante 120 dias;
outro Ministro, notório petista de carteirinha, depois de uma audiência
reservada na semana anterior com o Presidente Temer (já aderiu ?), conclui com
um novo pedido de vistas que se prolongará até 2018; e ainda falta o sempre
espetacular e estrombótico voto do histriônico empresário da educação,
travestido de Ministro do Tribunal Superior brasileiro.
Mas temos que insistir,
persistir e lutar. O exercício da democracia não é fácil e o Brasil é um país
jovem ainda criança, engatinhando e vulnerável aos ladinos malfeitores de todas
as raças e credos, ao inverso das antigas nações que contam suas vidas em milênios.
Não podemos é entregar o Brasil aos gatunos e aos torturadores, como se fossem
a única solução sobre a terra. Somos todos responsáveis e temos um ano para
construir soluções dignas e decentes para nossa grande Nação !