Já pensaram na
permanência teimosa da designação de “barbearia” quando na verdade destina-se
mais ao corte de cabelos e às maravilhosos prosas entretidas pela freguesia e
sempre provocadas pelo “barbeiro”?
Mantenho a
tradição e durante muitos anos persisto em cortar o restinho de minha outrora
cabeleira com o velho amigo Isaque, no seu box da Colunata em plena avenida
Santo Antônio em Garanhuns . Lá a conversa corre solta e os mais variados
assuntos são levantados. Claro que alguns deles são recorrentes, como a crise
nacional, a demência ética e moral do país, a saúde, a educação e, para não
fugir a regra: a insegurança. Esta semana estive lá e a propósito da violência
que se irradia como uma praga no mundo inteiro, tivemos ocasião de referir os
conflitos que dominam os noticiários.
Chacinas e mortandades
em números assustadores, e o que é mais grave, em nome DA FÉ; no futebol –
paixão nacional – as torcidas não mais assistem os jogos e sim duelam
agressivamente em confrontos até mortais, em que surgiu uma nova arma: as
bacias sanitárias; o sistema de saúde está sendo destruído, conforme denúncias
públicas, pelo uso temerário e imprudente do uso de motocicletas que estão destruindo
praticamente toda a disponibilidade dos serviços de emergência médica do país; as
discriminações de toda a espécie que terminam desaguando em acessos articulados
de raivas e odiosidades; a elevada incidência dos chamados crimes de proximidade
(40%) em relação aos crimes de morte que alcançam até as relações de vizinhança;
a degradação das instituições familiares que, em nome da segurança econômica, só
permite a reunião e o encontro dos seus membros quando muito em esporádicos
fins de semana. O linguajar chulo, desabrido e pornográfico que está tomando
conta das redes sociais, em que ninguém se respeita e qualquer dia desses dias
vai obrigar a retirar as crianças da sala para permitir o seu acesso.
Tenho
reclamado muito e escrito bastante que, no fundo, a origem está no corpo social doente e
violento e a insegurança que observamos é em grande parte decorrente da grosseria
que domina toda a sociedade. Façamos uma auto-crítica e reconheçamos que temos
uma sociedade grosseira e mal educada.
As pessoas
já não se cumprimentam. Nas cidades grandes, até nos prédios de apartamentos não
se sabe sequer o nome dos seus vizinhos de porta. Caíram em desuso as expressões:
bom dia, muito obrigado, boa noite, por favor, dá licença, desculpem, e
qualquer acidente bobo no trânsito provocam reações absurdas de agressividade.
Furam qualquer fila com o maior descaramento e reagem com fúria, à qualquer reclamação
(eu mesmo, numa fila de idosos, fui chamado de grosseiro e mal-educado por ter reclamado
de uma madame posuda, furando a fila e sem ter nada de idosa). Reclamam da
limpeza da ruas, ao tempo em que conduzem os seus mimosos cachorrinhos para
cagar nas ruas. Reclamam por ciclovias para proteção dos ciclistas, mas (mesmo
onde existem ciclovias como na Avenida Boa Viagem) desfilam despudoradamente
nos calçadões dos pedestres e ai de quem protestar. Para não parecer
implicância (pasmem!) já asssisti pedestres fazendo cooper nas ciclovias,
atropelando as bicicletas.
Procuro
reagir à minha maneira e, sempre de forma educada e bem humorada, insisto em
demonstrar, de forma respeitosa, uma solitária e talvez infrutífera reação à
essa postura de indiferença das pessoas quanto ao bem estar que as relações
humanas podem causar. No caso da madame, contado acima, consegui a manifesta
solidariedade e o aplauso do restante da fila quando ao ser chamado de mal
educado, respondi-lhe sem levantar a voz:
“Minha senhora, eu tenho certeza de que não
sou um mal educado, mas tenho pena dos seus filhos que devem estar recebendo uma péssima educação doméstica”.
A madame saiu furiosa e foi procurar uma outra fila do super-mercado
Adoto o
sistema e o aplico com regularidade. Ao chegar em qualquer ambiente, de salas
de espera de qualquer tipo, lojas e a elevadores, cumprimento efusivamente com
um esplendoroso bom dia os circunstantes sisudos e ressabiados à qualquer
proximidade dos seres humanos. Quase sempre são surpreendidos pela minha manifestação
e, mesmo surpresos, atarantados respondem ao cumprimento e percebo que ficam
satisfeitos.
Estou chegando
à conclusão que preciso ser um “Seu Lunga” bem humorado para não ser
considerado um velho abusado e de mal com a vida. Não quero ser recebido como um
importuno e trapalhão. Devo manter os meus princípios e meus valores sem
pretender impô-los, pois não sou dono da verdade, e respeitar o pensar alheio.
Estou satisfeito com essa minha postura e, vez em quando, sou recompensado e
alegro-me com a convicção de que não estou errado. Diverti-me muito a uns dias
atrás e vou contar:
Precisei ir
a um escritório localizado na Torre “A” do Empresarial Rio Mar. Deparo-me com
um vestíbulo enorme, comum às três torres, em que caberia com folga uma quadra
coberta de basquete. Sem qualquer indicação visual, dirigi-me a um cidadão,
entre outros, postados naquele espaço vazio e vestidos impecavelmente, como em
nível de segurança presidencial. Interpelei-o sobre a Torre “A” e
atenciosamente fui encaminhado a um balcão de recepção exclusivo onde deveria
ser cadastrado e munido de um cartão magnético que permitiria o acesso aos
elevadores da Torre “A”.
Como de
costume, uma fila formada para se cadastrar composta de pessoas sisudas e
ressabiadas cumprindo aquelas obrigações impostas pelo cotidiano. Esperei
pacientemente até chegar minha vez e uma gentil recepcionista me atende e
solicita minha carteira de identidade. De posse de minha carteira, começa a
digitar no computador todos os dados requeridos para o cadastro até que me
devolve a identidade e antes de me entregar o cartão magnético que me
permitiria ir ao destino requerido, solicita-me:
“O
senhor me permite que tire uma foto sua ?”
Respondi-lhe
na hora:
“Permito,
senhorita. Mas só queria entender o que diabo uma mocinha nova e engraçadinha
como você pode querer com a foto de um velho caindo aos pedaços e que não serve
mais pra nada ?”
Não deu
outra! A descontração foi total, caiu todo mundo na risada, inclusive a
tolerante recepcionista e instalou-se o bom humor e a cordialidade naquele
ambiente frio e impessoal.
Para coroar
o dia benfazejo, no mesmo local e na mesma hora reencontrei um querido amigo e
sua família que a mais de vinte anos não via: O médico e cidadão - dos bons - Dr. Marconi Dantas que trabalhou comigo na
Cosinor. Aleluia...
Meu caro Ivan, lí com muita atenção esta sua postagem / relatos. Não me resta outra alternativa, senão aplaudi-lo por tudo que foi aqui escrito. Costumo dizer que nosso País, de tantas situações esquisitas, só tem mesmo um problema... e ele é a base de tudo: EDUCAÇÃO, pasta ministerial que não tem motivos para aprimorar, pois, em o fazendo, conseguiria politizar o povo, e consequentemente faze-lo saber votar. Quanto as demais situações relatas, até as hilárias, como foi o caso do cadastro no prédio, todas fantásticas. Continue escrevendo e contribuindo para um mundo melhor... ah!!! o que se estranha, é um documento tão importante, deste nível, ter apenas, até agora, o meu comentário... Se me autorizar, publicarei no meu Facebook, se é que vc já não o fez. Grande abs.
ResponderExcluirNa verdade, querido amigo, é que estou usando o blogue como arquivo dos meus escritos e resguardo de fatos históricos de nossas terrinhas, sem a menor preocupação de divulgá-los. Meu desassossego não é a Educação formal e acadêmica, pois o Brasil está se tornando um país de doutores e de analfabetos. Na verdade, a Escola dá instrução e a educação, como relação humana e aperfeiçoamento social, é absoluta responsabilidade da família que dela se exime por conta de uma sociedade de culto às aparências e dos supérfluos. Cheguei a tirar de um colégio (com seis meses de frequencia) um neto que criei porque era uma escola de competição de vaidades, modismos, demonstrações de opulência e disputa de grifes. Nada de cidadania! O que fazer, se as famílias não se reúnem mais sequer na hora das refeições ? Lembra das aulas semanais de civilidade do Pe. Adelmar ? Temos que sobreviver, amigo velho, preservando sobretudo nossos valores
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