sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

MEDICINA FAMILIAR


O texto que fiz sobre os quintais de antigamente mereceu uma grande repercussão, aguçando as recordações e as lembranças da infância de muita gente. Sem desprezar as modernidades, é importante lembrar que muita imaginação e experiência acumuladas produziam um resultado eficaz a ponto de suprir as deficiências naturais da época.
Lembrei-me, então, dos recursos adotados na produção e da sabedoria na aplicação de meizinhas extraordinárias que eram adotadas para todos os males e, até nas farmácias, prevaleciam sempre as manipulações constantes dos formulários farmacêuticos inspirados na experiência transmitida oralmente.
Comecemos pelas ervas inspiradas na plantação dos quintais, em que não faltavam, e ainda hoje são utilizadas na produção de chás: a boa erva cidreira; o capim santo; o boldo; sabugueiro; ipepaconha, chá preto; que resolviam de dor de barriga à febres e resfriados, males do fígado, e etc. e tal.
Quem não lembra a produção por nossas mães dos “lambedores” de hortelã da folha graúda; de jatobá; de figo; de gengibre; que eram morte certa para as tosses, catarros e defluxos de toda a espécie. Lembro ainda minha mãe fazendo a fila dos meninos , com um  frasco e uma colher na mão, distribuindo a cada um sua ração de “lambedor”. Já se vê que a distribuição indiscriminada funcionava, também, como ação preventiva para a ocorrência de possíveis surtos de resfriado e catarreira.
Como suplemento, para a rouquidão não faltavam os chás de romã e de limão sempre acompanhados de uma boa dose de mel de abelha, sobretudo o mel de uruçu.
Ah! e os famosos purgantes receitados para todos os males principiando pelo famoso óleo de rícino aplicado para tudo na vida e, por vezes, acompanhado por uma explosiva mistura das ervas sena e maná. Como se não bastasse ainda era reforçada com uma gemada batida que dava à mistura uma estranha e espumosa coloração amarela! E mais, para evitar as ânsias de vômito, éramos obrigados a apertar com toda força uma simplória chave na mão. Hoje eu entendo a condicionante psicológica usada para disfarçar a ansiedade e o inevitável embrulho no estômago. Terminava todo mundo com um bigode de espuma amarela, derivada da insuportável “gemada”, guardando o detestável aroma que produzia.
Hoje em dia quase todos os vermífugos industrializados e receitados são produzidos à base de “hortelã da folha miúda” e atesto que isso não é descoberta nova. Na minha casa nunca existiu “lombriguento”  e a façanha é atribuída ao fato de que no cardápio de nossa cozinha nunca faltou “hortelã de folha miúda” nas saladas e no tempero verde das chamadas comidas de panela. Ainda hoje funciona e não tem verme que se aguente com essa terapia.
Lembram os emplastros adotados nas pancadas e contusões, à base de breu e arnica? E o álcool misturado com cânfora ? E as compressas de ácido bórico que encontrei, um dia, sendo usadas por minha mãe Maria na bunda de meu filho Zéivan por conta de uma palmada que deu e lhe encheu de remorso!
E nos ferimentos nunca falhou a aplicação do elixir sanativo que era, e é ainda, nada mais que uma mistura fitoterápica de aroeira e quixaba com notáveis efeitos para estancar sangramentos e hemorragias, sem falar na tintura de iodo que era usada em toda a assepsia cirúrgica.
E não falei das extraordinárias “garrafadas”, vendidas nas toldas das feiras, que serviam para tudo, de simples indisposições até às quedas de rede, mordidas de cobra, espinhela caída, dor de cotovelo, amores desprezados e coisas tais....
E me divirto atualmente quando vejo a novidade de uma larga difusão e aplicação de óleo de girassol – até a pouco tempo usado só como óleo de cozinha -  como poderoso cicatrizante.  O diabo é que a indústria farmacêutica está se aproveitando dessa “fantástica descoberta tecnológica” para vender um tubinho de 100 ml desse óleo por um preço em torno de R$20,00 (vinte reais)!
Lembro ainda, e até com uma certa nostalgia, as obrigatórias ocorrências de sarampo,  catapora, papeira ou cachumba que toda a infância tinha que passar. Não existiam vacinas nem remédios específicos e o jeito era suportá-las com paliativos. A única vantagem era de que - após a primeira incidência – resultava uma imunidade que não permitia sua repetição.
A verdade é que, mesmo respeitando os notáveis avanços da medicina, QUANTA SAUDADE da simplicidade dos usos e costumes !   



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