domingo, 12 de julho de 2015

AH! OS LADRÕES DE GALINHA

Diante desse bombardeio constante de notícias sobre mal feitos, roubos, corrupção, alcançando cifras monumentais e dando a ideia de que isso é prática cotidiana, apertou-me uma saudade danada – até com certa nostalgia – dos LADRÕES DE GALINHA de antanho.

O roubo de galinhas na minha Garanhuns, como de resto em todas cidades de antigamente, era o delito mais ocorrente, dando constante trabalho aos policiais e nada mais degradante que a condução em desfile pelas ruas, custodiado por um soldado, até à Cadeia Pública, dos reles ladrões de galinha. A prática era contumaz por força da proliferação dos galinheiros existentes, praticamente, em todas as casas. Toda casa tinha um quintal e todo quintal tinha um imprescindível galinheiro.
Era a condição para manter-se um bom estoque de alimento sadio (naquele tempo não se falava em proteínas e coisas tais e não existia refrigerador para conservar comida) para o consumo da família e sempre à disposição da dona da casa para acudir a emergência de um convidado imprevisto. “Corre, Vicentina, para matar uma galinha pro almoço de Compadre Tonho que acaba de chegar!
Parece que estou vendo o ritual de todos os dias. Começava com o recolhimento dos ovos diretamente nos “ninhos” das galinhas poedeiras e, logo após, as pessoas encarregadas chamavam todo o galinheiro para receber a ração diária de comida, em forma de milho, xerém, alguns restos de comida, e ainda escuto o canto da chamada para atrair as galinhas, em refrão invariável: “titi,titi, titi....”.

Algumas delas eram postas para chocar e, por consequência, garantirem a renovação do plantel. Estavam sempre lá, impassíveis, sem levantar de seus ninhos para cumprir a tarefa designada e naqueles ovos ninguém tocava.
Galinhas gordas, de carne macia e saborosa, sem aditivos hormonais, asseguravam uma alimentação saudável para todos, sem contar a riqueza do paladar de uma galinha guisada com angú, uma galinha de cabidela usando o sangue fresquinho colhido na hora e batido com vinagre para não estragar, o requinte de um sarapatel de miúdos de galinha e a disputa da família, na mesa, pelas partes preferidas de cada um.

O galo reinando majestoso em seu harém e sempre ativo cumprindo o prazeroso ofício de satisfazer as suas odaliscas, complementado com a tarefa, sem erro, pela marcação das horas como se fora um relógio e invariavelmente cantando o alvorecer. Lembro de uma antiga marchinha de carnaval exaltando a eficiência do galo que dizia assim:
O galo quando canta Maria,
É dia Maria, é dia Maria.
Mas quando canta fora de hora
È moça roubada que vai dando o fora!

Como se vê, os galinheiros eram uma atração sedutora - desde que não tivesse cachorros na casa - dada a sua vulnerável localização sempre nos fundos dos quintais, a quantidade enorme de galinheiros que permitiam, até, uma escolha dos melhores plantéis disponíveis e os acessos mais fáceis, venda segura e, na alternativa, bela refeição para a família do larápio.
Aí começava, também, a parte mais difícil: a espreita até altas horas da madrugada no aguardo do momento em que todos estivessem dormindo, cochilando por vezes, mas atento aos menores sinais de movimento na casa. Chegando a hora favorável, pulava o muro e com a máxima rapidez possível, metia uma meia dúzia de galinhas em um saco.

Quando o dia amanhecia, o ladrão também amanhecia na feira para vender as galinhas por qualquer preço e por atacado, para se livrar depressa do objeto do roubo. Danava-se da vida, algumas vezes, pelo surgimento inesperado de outros concorrentes que, pelo excesso da oferta, fazia rebaixar o preço e sua cotação na feira.
O grande azar do ladrão é que frequentemente os donos das galinhas, ao acordar cedo, dava com o roubo no seu galinheiro e corriam pressurosamente à feira, na tentativa de encontrar  suas estimadas “penosas”. E não dava outra: Bingo! Lá estavam elas e muitas vezes ainda acompanhadas pelo autor do terrível delito. Não havia clemência, porradas no ladrão e convocação de um policial para prender e conduzí-lo até à cadeia para sua apresentação ao Delegado.  

Era terrível a humilhação sofrida pelo insignificante ladrão, ao percorrer a pés o longo trajeto desde a Avenida Santo Antônio (local da feira), Rua 13 de Maio, Praça Dom Moura, Rua Afonso Pena, até à Cadeia, no local que hoje abriga o Colégio Estadual, escoltado por um soldado, com a população à beira das calçadas durante todo percurso vaiando o infortunado meliante. Desconfio que a reprovação era muito mais pela mediocridade do roubo do que pela gravidade da infração!. Ladrãozinho vagabundo...
Com a reiteração das ocorrências e a exposição do seu nefando crime perante à população, claro       que tiveram sua atividade refreada e a possibilidade de sucesso reduzida. A liberdade de movimentos contida pela simples identificação já não permitia a sua continuação. O jeito era mudar de cenário e procurar galinheiros de outras cidades. O êxodo era inevitável mas eram logo substituídos por outros!

Falei, no começo deste texto, que lembro até com certa nostalgia dos ladrões de galinha, oriundos da singeleza dos costumes e da cultura dominante naquele tempo dos loucos maravilhosos como Manoel das Estrelas, dos desordeiros como Turrica, dos bêbados como Bode Cheiroso, dos filósofos como Jeitoso, e insiro aqui os anônimos Ladrões de Galinhas quando comparados com os faraônicos ladrões de hoje, como é o melhor exemplo um simples gerente da Petrobrás – executivo de terceiro escalão – que já devolveu a Nação nada menos que 97 (noventa e sete) milhões de dólares de um modesto (!) depósito na Suiça.
Palmas para os desprezíveis ladrões de galinhas.

sábado, 11 de julho de 2015

É MUITA COISA SEM JUÍZO - DINHEIRO FALSO ?

Esse é o terceiro episódio, em que extravaso a minha inquietação pelo que está ocorrendo em nosso Brasil. Lutei muito durante  longa vida para transmitir aos meus descendentes um país melhorzinho do que recebi e, por vezes, acreditei que conseguiria. Mas de uns tempos para cá, parece que fomos tomados por uma loucura epidêmica, eliminando o bom senso e o respeito, a solidariedade e prevalecendo uma cultura dominada pela grosseria, pela intolerância e pelas agressões gratuitas. As coisas estão acontecendo no Brasil, sem a menor razoabilidade e um mínimo de lógica e, por consequência, impossível de justificar de acordo com as mais elementares regras de decência, honradez e convivência.

Dizia esta semana para um amigo que do jeito que as coisas estão evoluindo, logo estaremos tirando as crianças da sala para poder abrir o Facebook, dada a virulência e o despudor da linguagem adotada pelos participantes. Como se não bastasse o fundamentalismo religioso que está massacrando milhares de “infiéis” em nome da FÉ, está se criando um fundamentalismo político-partidário insuportável e um fundamentalismo esportivo em que se mata gente tendo uma latrina como arma. Fica difícil de suportar. As notícias nos surpreendem à cada hora e eu estou com dificuldade de entender. E tudo passa a ser trivial e admissível.

Parece brincadeira, mas não é. Se não fosse notícia dos jornais do país inteiro, ninguém seria capaz de acreditar. Vejo diante de mim e do computador na minha mesa, a manchete da página 1 do Caderno de Economia do Jornal do Comercio de 27 de junho de 2015.

Leio estarrecido. Respiro fundo. Belisco meu braço para comprovar que não estou dormindo e sonhando. Vou à janela para me convencer que estou na minha residência e não noutro país. Consulto o calendário e a data confere. Fato corriqueiro, deve imaginar o povo brasileiro nesse quadro geral de demência ética e moral que impregnou definitivamente a cultura dominante!. Reproduzo a manchete:

“Banco do Brasil vende dólares falsos. Pai e filha estão retidos nos Estados Unidos após tentarem depositar em agência americana dinheiro comprado no banco”

Como é mesmo ?  O Banco oficial de um país civilizado vendendo dinheiro falso ?  O nosso Banco do Brasil S/A, instituição bancária respeitável e secular, aceitando dinheiro falso e servindo de mula para falsários ? Operação somente desmascarada nos Estados Unidos (que vergonha!) mediante a intervenção do FBI que meteu algemas no infeliz casal portador e apreendeu o dinheiro falso. O vexame exigiu a intervenção diplomática da Embaixada Brasileira Será que não existe mais nada sério neste pobre e espoliado país ? Em quem se confiar ? Será, pelo que se observa, que o mal tomou conta do coração e das mentes de todos que só pensam em se aproveitar de tudo e de todos ?

Algumas perguntas são inevitáveis para os leigos como nós, sobretudo diante do silêncio ensurdecedor e sepulcral que cerca o episódio. Parece que instalou-se uma conspiração de omertá uma vez que as autoridades responsáveis não se manifestam e o assunto é conduzido sem nenhuma transparência. Pesquisei a matéria a partir da data da primeira ocorrência e a constatação foi mais triste ainda. A despeito da imperativa intervenção do serviço diplomático em país estrangeiro, o Governo Federal não deu a menor satisfação ao povo brasileiro. O Banco emite apenas, através de uma Superintendência Regional, uma nota anódina e inconvincente sem explicar nada. Todos fazem cara de paisagem como se tudo fosse natural e não estivesse acontecendo nada. Há 15 dias retiraram de pauta e não se fala mais nisso em nosso país !

Sabido que o Banco do Central do Brasil é o órgão de regulação e controle do sistema financeiro nacional que envolve o controle e fiscalização do sistema bancário, não teria a obrigação indeclinável de dar uma satisfação à Nação explicando o ocorrido e justificando, se fosse capaz ?

Dias depois, com a divulgação da existência de 6 (seis) casos já constatados na agência central do Banco do Brasil em Recife de dólares falsos recebidos e passados adiante (?) é que, após ser autuado pelo PROCON-Pernambuco de acordo com a legislação de Defesa do Consumidor, surgiu uma nota da agência do Recife, suspendendo as operações de câmbio com a moeda norte-americana por 30 dias, que se revela um primor de desavisada ingenuidade e um desvio ostensivo do verdadeiro foco da questão.

Essa nota é tão surrealista quanto à circulação de dólares falsos em suas agências e sua autenticidade concorre com a qualidade do dinheiro circulado em seus caixas. Comecemos pela origem da nota que, em se tratando de questão grave e de repercussão internacional, deveria ser iniciativa da Direção Geral do BB e não de uma simples Superintendência Regional. E quem garante que em outras agências pelo país afora não estejam ocorrendo ilícitos iguais que exigiriam idênticas medidas às adotadas em Pernambuco?

Confessa, ainda, que tomou a providência de “suspender o serviço de câmbio em todas as agências do Estado por 30 dias” o que quer dizer: a providência não foi iniciativa própria e somente foi tomada atendendo à autuação do Procon-Pernambuco que tem jurisdição e competência restrita apenas a este Estado. Vamos pelo menos falar com um mínimo de sinceridade. Não fosse a atuação vigilante das autoridade estaduais, através da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, seguramente continuaria a enxurrada de moeda falsa circulando em seus escaninhos, sem qualquer providência.

E aí vem o mais grave da nota. Ao invés de lamentar a ocorrência de tão grave fato e, se possível, justifica-lo prefere explicitar um tendencioso desvio do verdadeiro foco da questão para “lamentar a notificação recebida, sem qualquer pedido de esclarecimento”. Essa atitude corresponde, com todo o respeito, à reação do marido ultrajado vendendo o sofá para que sua mulher não mais prevaricasse nele. Maldito vezo brasileiro de não preocupar-se com o cerne das questões e identificar as cáusas que as estão provocando. Considera-se mais o acessório que o principal. Mais as formalidades que o essencial. O correto não seria apurar o afrouxamento de regras que permitiram tal calamidade ?

É inevitável que se coloquem algumas perguntas ingênuas, à moda de Garrincha na véspera do jogo com os russos na Copa do Mundo, e perdoem minha ignorância. Não existem recursos técnicos e tecnológicos para contagem e aferição da autenticidade de papel moeda ?  O Banco do Brasil já tomou conhecimento da existência de tais equipamentos, se for o caso ? Caso positivo, o Banco do Brasil já equipou suas agências com eles ? Caso positivo, eles são obrigatoriamente utilizados no recebimento do papel moeda ? Caso positivo, como admitir-se a entrada e a saída de dinheiro falso, em qualquer quantidade e em qualquer agência do Banco, depois de aferidos por esses equipamentos ? Confia-se, apenas, na habilidade digital dos caixas ?

É muita irresponsabilidade na prática e na solução das barbaridades, muita indiferença, muita leniência e, sobretudo, MUITA COISA SEM JUÍZO!

 
 

 

domingo, 5 de julho de 2015

É MUITA COISA SEM JUÍZO - Episódio 2


        Em minhas inquietações sobre as esquisitices que estão acontecendo em todas as   atividades     do  país, configurando uma inusitada epidemia de loucura, começo a me deparar com o início       de uma orquestrada movimentação com a finalidade de desqualificar a ordem legal e judiciária    da nação brasileira, a exemplo do que ocorreu na  tramitação do chamado “mensalão”.

No chamado “Petrolão” começam a surgir os jurisconsultos de plantão; os bem-aventurados advogados mais caros do Brasil justificando os honorários da sua atividade profissional (mercado em alta); ilustres professores deitando cátedra e verbalizando as mais fantásticas elocubrações jurídicas; jornalistas reproduzindo contorsivas fundamentações em torno de uma chamada DELAÇÃO PREMIADA, instituto jurídico-processual consagrada no mundo inteiro e que permitiu, como se sabe, que o Magistrado italiano Giovanni Falcone, através de sua aplicação,  conseguisse arrebentar a “Cosa Nostra”, a “Máfia Italiana”, até então a maior estrutura do crime organizado no mundo.

Comecei a pensar: porque no Brasil é moda ou cultura avacalhar tudo que é sério ou que incomode o poder dominante, sobretudo o econômico? Sempre para permitir a manutenção das patifarias? Todo o mundo reclama que cadeia no Brasil é só para preto, pobre e prostituta mas quando acontece como agora meter-se na cadeia, com todas as formalidades legais, os maiores empreiteiros do serviço público e titulares das maiores fortunas, surgem logo os  pressurosos Zorros de plantão , defensores dos oprimidos, pobres vítimas (?) de uma ordem legal absurda.  

Compara-se os comprometidos no regime processual com Joaquim Silvério dos Reis, os torturadores dos Doi-Codis e só faltou incluir Judas Iscariotes na lista. A Presidenta que, em sua posse, jurou a defesa das instituições e da ordem legal, falando no exterior, critica a norma que ela própria sancionou, ofendendo ao juramento de posse como Presidente do Brasil!

A extravagância dessa sórdida posição levou-me a curiosidade de pesquisar a aplicação da norma jurídico-processual que, a despeito de haver sido saudada como grande instrumento de combate à corrupção, como menos de dois anos de vigência, é acusada como inconstitucional, anti-democrática, cerceadora do direito de defesa e favorecedora da iniquidade da delação!

Percorri toda a legislação vigente no Brasil e no exterior. Verifiquei que não é tão nova assim entre nós, porque desde 1990 começou a surgir legislação esparsa prevendo sua aplicação em crimes hediondos e crimes contra a ordem econômica, coroando com a Lei nº 12.850/2013, votada pelo Congresso e sancionada pela Presidência da República que regulamenta de forma definitiva o instituto jurídico-processual (e aí vem a primeira surpresa!) da COLABORAÇÃO (!) PREMIADA. Fiquei espantado com a descoberta e pasmem todos com a constatação!:

NÃO EXISTE NA NORMA LEGAL BRASILEIRA ESSA FIGURA DA DELAÇÃO PREMIADA !

Nenhuma dessas leis fala em DELAÇÃO e, essa última, em seus 27 (vinte e sete) artigos, tem 5 (cinco) referências à palavra  COLABORAÇÃO PREMIADA”; 8 (oito) à palavra “COLABORAÇÃO” e 14 (quatorze) à palavra “COLABORADOR”. Não existe – e desafio quem mostre - qualquer referência às denominações “Delação Premiada”, “Delação” e “Delator”.

Pesquisei no Direito Comparado e verifiquei que, lá como cá, não se consigna essa denominação ultrajante na codificação legal estrangeira. É invenção brasileira, não da lei, mas das artificiosas invenções do mal que tomaram conta desta depredada Nação.!

Na legislação italiana o instituto processual é chamado de “Colaboratori Della Giustizia” (Colaboradores da Justiça) e os colaboradores de “Pentiti” (Arrependidos). Na Espanha, o colaborador é chamado de “Delincuente Arrependido” (Delinquente Arrependido). Nos Estados Unidos adota-se a expressão “Plea Bargaining” (Transação Judicial” e encarada como mais uma transação entre as muitas constante do Direito Positivo no mundo inteiro.

Como se vê, esse apelido pejorativo dado ao instituto processual, disseminado por todos os operadores de Direito, pomposos juristas e jurisconsultos, magistrados, jornalistas, parlamentares faz parte do vezo cultural no Brasil de desmoralizar as instituições sérias do país para manipulá-las em seu benefício. Ao perceber que o instituto processual da COLABORAÇÃO PREMIADA, ou seja, a COLABORATORI DELLA JUSTIZIA foi o instrumento responsável pelo desmoronamento da Máfia Italiana, a Camorra Tupiniquim tratou de acautelar-se e, para começo de uma ação planejada, cuidou logo de apodar a Colaboração como Delação e estabelecer uma relação capciosa com as figuras do Delator, Dedo Duro, Alcagueta para desacreditar os Colaboradores!

E a Nação inteira foi anestesiada e até hoje todo mundo, mas todo o mundo mesmo, permanece ignorando a designação legítima do remédio processual. A operação foi uma manobra tão diversionista, tão competente, que até os policiais, os procuradores, os juízes, os desembargadores e ministros estão adotando o apelido indigno e contribuindo, ingenuamente, para a perpetuação da farsa criminosa!

Pela apelidação ultrajante, difunde-se de modo subliminar e solerte, insinuado nas mentes mediante a utilização do método Goebells para condicionamento da opinião pública, mas, na verdade, em pre-monição somente reservada aos santos, para preparar a salvação dos empresários mais afortunados do país e os corruptos.

Além do ataque à ordem legal, lamentavelmente endossado por um raciocínio no mínimo contraditório e extravagante da Suprema Mandatária da Nação quando – no seu entender - criou por lei a figura do Delator que tanto odeia, busca-se desmoralizar também os magistrados e o Ministério Público que conduzem o processo.

Mas, terminei encontrando a fonte de inspiração de D. Dilma num trabalho do tratadista Carlos Fernando dos Santos Lima, já nos idos de 2005, que transcrevo abaixo:
      “Primeiro ponto a ser superado é o da suposta imoralidade desse acordo, comparado muitas vezes à traição. Amiude seus detratores equiparam os investigados/réus/colaboradores a Juidas Iscariotes ou a Joaquim Silverio dos Reis. Trata-se de imagem forte, mas destituída de qualquer razoabilidade. 
Nenhuma pessoa delatada é Jesus Cristo nem Tiradentes. Não há regra moral na omertá, não se pode admitir como obrigação ética o silêncio entre criminosos. Na verdade, a obrigação é para com a sociedade. O que existe realmente é o dever de colaborar para a elucidação do crime, pois esse é o interesse social”

 Impressionante ou não a coincidência?. Observa-se a infelicidade da declaração da Presidenta, proferida no Exterior (que vergonha!) ao reconhecer em sua comparação a existência de uma ética entre criminosos.

 Graduei-me em Direito em 1966 e continuo um aprendiz em minha modesta sabença e peço perdão aos meus caros colegas pelas barbaridades que estão sendo cometidas por alguns deles em nome dos seus galardões como dirigentes ou ex-dirigentes do nosso órgão máximo. Atingi uma altura da vida em que – como o Mestre Graciliano – não necessito usar reticências desde que não tenho conveniências a respeitar.

 Esta semana li nos jornais declaração do Presidente e da Vice-Presidenta da OAB-Pernambuco. Parabens aos dois pela justeza das observações, mas surgem outros que concordam com as observações judiciosas MAS ( e aí aparecem os malditos “mas” para fazer média) e ressalvam o cuidado de que devemos ter com possíveis excessos dos julgadores e do Ministério Público. Lógica digna do Conselheiro Acácio, magistral criação eciana, para realçar a obviedade das coisas.

 Assusta-me ler uma entrevista de “WADIH DAMOUS” um intitulado ex-Presidente da OAB/RJ que, ora em exercício do cargo de Deputado Federal pelo PT, como suplente convocado,  ataca, de forma deselegante, desrespeitosa e chula o Juiz Moro, condutor dos processos do chamado Lava Jato. Veja as diatribes que comete esquecendo, ele sim, o que é ética, respeito aos magistrados, à ordem legal, às instituições e mais preocupado em defender suas convicções partidárias e, possivelmente, para se credenciar à conquista de belos honorários:

 “O juiz que preside esse inquérito, o Dr. Sérgio Moro, tem traços de paranoia. Porque ele coloca a hipótese acima do fato. Juiz não pode trabalhar com hipóteses. A polícia e talvez Ministério Público, sim. Mas o juiz não. O juiz trabalha com elementos objetivos.”

Como justificar, Dr. Wadih, uma agressão gratuita como essa ao Juiz Moro por estar mandando para cadeia os ricos corruptores, se até agora, nenhum recurso contra as decisões do Juiz Moro foi acatado por qualquer tribunal superior, inclusive o Supremo Tribunal, através do Relator Min. Zavaski, nomeado por sua correligionária Presidenta, portanto, absolutamente isento. Os Ministros e Desembargadores que apreciaram e negaram os recursos para manter as decisões do Juiz Moro, também tem traços de “paranoia”?, Mais adiante ainda pontifica na desastrada entrevista, referindo-se ao Juiz Moro como chantagista e deve estar apreciando sob a ética parlamentar que não existe como todos sabem. Nunca pela Ética da classe dos Advogados:

“Usa a prisão para chantagear, para obter delações. Estabeleceu a delação premiada como algo essencial ao deslinde dos casos que estão sob apreciação dele. Reputo a delação premiada como algo imoral. O delator para mim chegou ao ponto mais baixo da espécie humana. Tenho ojeriza a delatores, a dedo-duro. Quem lutou contra a ditadura sabe o que é ser um dedo-duro, um delator (olha a orquestração ensaiada com um discurso repetitivo e enfadonho). O juiz Sérgio Moro acha isso essencial, mostrando a impotência e a incapacidade de fazer uma investigação mais aprofundada.”

Ops, Dr. Wadih – ato falho -. Desde quando o juiz faz investigações ? Nunca gostei de Direito Penal e sou quase analfabeto na matéria, mas aprendi que a investigação é procedida pela Polícia e o Ministério Público e cabe ao Juiz apurar a veracidade da investigação no âmbito do processo judicial. Esse Moço deveria aproveitar o tempo disponibilizado pelas mordomias do legislativo, para ler mais e se instruir a respeito do que questiona. Se assim procedesse, saberia também que o Juiz do feito NÃO TEM QUALQUER PARTICIPAÇÃO na formação da Colaboração Premiada, conforme preceitua o art. 9º da Lei nº 12.850/13, em seus § 6º e 7º

“Parágrafo 6º: O juiz não participará (GRIFOS NOSSOS) das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de Colaboração. Que ocorrerá entre o delegado de policia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.

 Parágrafo 7º - Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, acompanhado das declarações do Colaborador e da cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o Colaborador, na presença do seu defensor”.

Como se vê, parece que o mundo enlouqueceu. A acusação ao Juiz Moro é mentirosa, falsa e aleivosa. O objetivo é insidioso e abarrotado de má-fé. Quem tiver a paciência de ler integralmente a Lei citada, vai verificar que TODOS OS ATOS (todos mesmo!) DA COLABORAÇÃO PREMIADA são assistidos e certificados pelo Defensor do Colaborador, sem o que caberia ao Juiz, aí sim, anular o ato por irregularidade essencial. E a maior aberração é arguida por grandes mestres da ciência jurídica, digna dos melhores momentos de Chico Anísio quando denunciam o sigilo das investigações como cerceamento de defesa, pelo fato de que os defensores não têm acesso às investigações.

A advocacia brasileira deve ser a única no mundo que se presta a defender tese tão ridícula. Como piada, nem é nova pois conheço desde menino a estória dos agentes secretos portugueses que se obrigavam a ostentar no peito um crachá revelando sua condição funcional.

Entretanto, como se diz: não existe nada de tão ruim que não possa piorar, o moço foi mais longe quando acusa o Juiz Moro e os Procuradores de destruidores da economia brasileira e convoca os “juristas de todo o pais para bradar contra as arbitrariedades da Lava Jato”:

“E o pior: este juiz quer quebrar a economia brasileira? Ele e esses procuradores querem o quê? Desnacionalizar setores estratégicos da economia nacional? Colocar no olho da rua milhares de trabalhadores? É para isso que existe a Operação Lava Jato? Vamos reunir juristas de todo o país para bradar contra as arbitrariedades da Lava Jato. Pretendo organizar um manifesto em defesa da democracia que a operação está ameaçando

Defesa da democracia ? Chega Deputado, pois já não lhe respeito mais como advogado e proíbo-lhe de me representar na indignidade proposta! Já assisti esse filme. A declaração é tão estapafúrdia que nos dá o direito de imaginar que, a exemplo do PROER criado no governo de FHC para socorrer alguns bancos que estavam quebrados, sob o pretexto de risco sistêmico, deve estar em gestação um PROCORRUPT para salvar as empresas milionárias que foram flagradas, sob a desculpa amarela de “Defesa da Democracia”. Libere-se a imoralidade, perdão para os corruptos, locupletemo-nos todos e continua tudo como dantes no Quartel de Abrantes ? Que democracia, Dr.Wadih ? Vade retro !  

“Ao ser questionado se, na opinião dele, o esquema de corrupção em torno da Petrobras ainda não estaria comprovado, responde que não sei o que é fato ou não. Não sei, porque uma atitude arbitrária, como a que caracteriza a conduta dos juízes e procuradores, cria confusão até para quem é do mundo jurídico sobre o que é fato e o que não é.”

O que é que é isso ? Um Deputado Federal com a origem profissional que detém, não lê jornais ? Vive em outra galáxia ? Não tomou conhecimento da deliberação da Petrobrás reconhecendo e reajustando sua contabilidade para conformá-la ao prejuízo sofrido através da corrupção e reconhecido por Deliberação de seu Conselho de Administração, baseado em pareceres de Auditoria Independente ? Providência essa exigida das sociedades de capital aberto pelas Bolsas de Valores e órgãos reguladores de investimentos, inclusive nos Estados Unidos? Duvida da sanidade mental dos brasileiros, imaginando-os um aglomerado de imbecis ? Diante de todas provas e o procedimento da própria Petrobrás reconhecendo a sua existência pela correção procedida em sua contabilidade, é honesto questionar a corrupção reconhecida pela própria Petrobrás? Quer convencer quem ? Os incautos, os idiotas e os simplórios ?

Sou do tempo em que o vestibular de direito exigia prova de conhecimento de latim. Tive que estudar e aprendi muito pouco, mas tenho ainda decorada uma frase das Catilinarias de Cicero:

“QUOUSQUE TANDEM, CATILINA, ABUTERE PATIENTIA MOSTRA”. É muita coisa sem juízo!



sábado, 4 de julho de 2015

É MUITA COISA SEM JUÍZO - EPISÓDIO 1

De algum tempo, tenho me preocupado muito com o que se passa em nossa nação. É possível que se passe também em outras paragens, mas essa é a terra em que vivemos e amamos. Parece que o bom senso, a lógica elementar, os princípios, a solidariedade, a tolerância, o respeito, a sensibilidade e o amor à natureza e às gentes se perderam em alguma galáxia e desapareceram da nossa vida. Estamos vivendo um tempo em que, no sempre sábio dito popular, “até vaca tá desconhecendo seu bezerro”. E isso ocorre assustadoramente em todos os segmentos e escalões da sociedade. Sou um velho beirando os 90 anos muito bem vividos e já assisti muita coisa e muita mudança conceitual, por força mesma da evolução natural, das transformações sociais e movimentos políticos. Todo o pouco que sei, colhi na vida, sem mestrados nem doutorados e continuo vendo e observando os fatos e sua natureza. E as insanidades acontecem em ritmo alucinante, numa sucessão desmensurada de insanidade mental, como se todos estivessem desvairando. Seria um tema inspirador para Saramago escrever um “Ensaio sobre a Loucura”, considerando sua disseminação no país.

Para não ser muito prolixo, vou tentar descrever o desvario por cada setor de atividade neste Brasil e vou tentar exemplificar as coisas a partir da paixão nacional: futebol, em face do que acabei de assistir e acompanhar pela imprensa o resultado da participação do Brasil na Copa América.
1.      A nação Brasileira, detentora de um Penta Campeonato Mundial, sofre em sua casa uma retumbante derrota de 7 a 1 da Alemanha na Copa do Mundo de 2014 e a máquina (ou máfia) oficial do futebol continua imperturbável como se nada tivesse acontecido e somente diante do clamor popular, muda o técnico e prossegue tudo com dantes. Convoca-se uma nova comissão técnica, comandada por especialista em chupar a própria língua que passou quatro anos desempregado e continua sem nunca ter sido técnico de nenhum clube brasileiro ou estrangeiro já que nenhum clube teve coragem de contratá-lo, salvo uma curta passagem pelo Internacional, e um Coordenador cuja conhecida profissão é a de Empresário de Jogadores de Futebol. Não dá para entender.

Essa dupla, depois de convocar, treinar e botar em campo uma seleção medíocre com participação de jogadores que ninguém tinha ouvido falar e alguns jogam em times que ninguém sabe sequer pronunciar os nomes. Poucos reclamaram ou contestarem, sobretudo a crônica esportiva, que em estranho conluio optaram pela leniência e omissão, salvo honrosas exceções. Só depois do desastre, é que surgem monstros sagrados da crônica esportiva, levantando restrições sobre a organização tática e técnica da seleção e convocação imerecida de alguns jogadores. É um contra senso total.

Impressionante é que, conforme a imprensa acaba de noticiar, um dos símbolos do esporte nacional sem o menor deslize profissional ou pessoal, o respeitado Zico, fez referência com justas razões ao evidente conflito de interesses oriundo da dualidade de Coordenador de nossa seleção e Empresário de Jogadores.

Foi suficiente para o Coordenador Gilmar fazer pose de ofendido, levantar dúvidas quanto a honorabilidade de Zico e tentar inverter os fatos ao ameaçá-lo com um processo na Justiça. Esse estilo do moço segue a escola que está se arraigando no Brasil na base da histriônica formulação de Stanislaw Ponte Preta: “Se todos são corruptos, estamos justificados e locupletemo-nos todos”. Lembro com mais precisão daquele personagem criado pelo saudoso Chico Anísio com o bordão de “Sou, mais quem não é ?”. Alegar a generalização da corrupção é honesto ?

Fizeram uma participação bisonha na Copa América ao deixar empatar o jogo com o Paraguai, na forma de um pênalti cometido por um zagueiro de seleção, em lance hilário, que serviu de charges imediatas o figurando como um jogador de volei dando uma cortada em plena grande área. Depois disse que “não me lembro de haver tocado a mão na bola!” Para coroar, na decisão do empate, dois penaltis desperdiçados de forma ridícula e o treinador Dunga declarando em entrevista coletiva de forma ridícula e irresponsável que substituíra Robinho porque estava cansado e àquela altura do jogo não estava pensando em cobrança de pênaltis.

Confissão de irresponsabilidade total de um técnico, sabido que em jogos chamados de mata-mata a decisão por pênaltis é uma inevitabilidade e todos treinam exaustivamente sua cobrança desde antes do jogo. Que estória da carochinha é essa? que jogadores de seleção são esses que não tem forma física para suportar os normais 90 minutos de uma partida ? E se não tinham condição física bastante, porque foram escalados e entraram em campo ? Como admitir que um técnico de uma seleção desconheça coisa tão elementar. É surrealismo puro.

Como se não bastasse, o Sr. Dunga confessou a sua incompetência e absoluto despreparo para a missão, quando completou a declaração à imprensa dizendo que “a experiência foi ótima para a seleção” (pelo visto, não bastaram os 7 a 1, nem o vexame da Copa América).

Pirou de vez e necessita urgente de uma intervenção psiquiátrica ou então considera o povo brasileiro como um aglomerado de imbecis.

Aí fica fácil entender a histórica e fantástica corrupção que há muitos anos domina o futebol brasileiro, tão forte que é protegida por uma notória “Bancada da Bola” no Congresso Nacional, denunciada corajosamente em plenário pelo surpreendente Senador Romário. Lembrem que uma CPI do Futebol foi arquivada por atuação dessa bancada. E para a CBF cair nas páginas policiais, foi precisa a ação do FBI que mantém preso em terras da Suiça o tal de Marin, ex-Presidente da CBF, sede do futebol mundial; fez o atual Presidente Del Nero, voltar às carreiras para o Brasil em pleno transcurso da Assembléia da Fifa; e o outro ex-Presidente Ricardo Teixeira abandonar às pressas os Estados Unidos onde estava residindo. Verdadeira debandada geral, salve-se quem puder.            

A sucessão dos episódios deixa transparecer que, para nossa tristeza e vergonha, a fantástica corrupção da FIFA, teve sua genetriz e também foi institucionalizada por influência da experiência brasileira na CBF, sabido que o brasileiro João Havelange foi Presidente da FIFA durante o curto (!) período de 24 anos até deixar em seu lugar o Joseph Blatter e na Presidência da CBF o seu genro Ricardo Teixeira. Daí começou a bandalheira que tomou conta do mundo inteiro. É muita coisa sem juízo!