segunda-feira, 27 de março de 2017

A CARNE É MUITO FORTE. SÓ A PF NÃO ENTENDEU...

Essa “Operação Carne Fraca”, desencadeada pela Polícia Federal nos últimos dias, vem desencadeando notável repercussão no Governo Federal, na economia nacional e nos meios empresariais brasileiros, tamanho são os valores referidos, sem falar nos efeitos danosos provocados no comércio internacional de carnes, sobretudo por sua ressonância na posição exportadora brasileira.

A desastrada espetaculosidade do seu anúncio; a irresponsável indefinição dos responsáveis pelos ilícitos praticados; a ausente qualificação dos ilícitos referidos (não sabiam sequer que acido ascórbico é Vitamina C!); a aparente inadequação do papel dos agentes envolvidos (não se esclarecem os agentes e os ilícitos de cada um); do aparente isolamento do Ministério Público em seu acompanhamento, chama a atenção por algumas especificidades:
1.      – A matéria foi repercutida por rádio, televisão, imprensa falada e escrita, rede social, sem limites e sem identificação das fontes e o seu efeito perante o mercado internacional configura-se de complexa reparação;

2.      – Foi apresentada uma lista de empresas – 21 tidas como “investigadas”, sem qualquer definição da ilicitude praticada por cada uma. Na verdade, não são 21 empresas, são 21 frigoríficos de 21 empresas e no Brasil, existem 4.800 estabelecimentos desses!... Vai de grandes empresas de atuação no mercado internacional a simples “Eireli” (micro-empresa) de pequena cidade do interior do Paraná;

3.      – O Ministério da Agricultura já suspendeu a exportação dos produtos dos 21 estabelecimentos (note-se que a suspensão foi dirigida aos frigoríficos  citados e não às empresas em sua integridade) que estão submetidos à uma inspeção especial para apuração dos fatos;

4.      – Não há clareza quanto aos ilícitos praticados, não relaciona os dirigentes empresariais, nem os agentes públicos envolvidos e, muito menos, a responsabilidade de cada um;

5.      – Muito claro que o Ministério Público foi marginalizado na investigação e não teve qualquer participação que estabelecesse o necessário comedimento e equilíbrio nas apurações;

6.      – A ameaça de dano à exportação é preocupante, pois o setor representa 7,5% (sete e meio por cento) do nosso comércio exterior, com presença permanente em cerca de 150 países, ficando atrás apenas da soja e minério de ferro. Estimam os consultores que uma redução de 10% nas exportações do setor, representaria a perda de 420.000 postos de trabalho;

7.      – A operação (reconhecida como necessária !) se fosse corretamente divulgada, realçando a preocupação adequada dos órgãos oficiais de fiscalização brasileira, poderia ter sido um poderoso instrumento de fortalecimento do conceito do produto nacional perante um melindroso mercado internacional. Ao revés, com a leviandade como foi divulgada, denegriu a credibilidade de nossas exportações;

8.      – Não esqueçam que o mercado internacional de carnes (boi, porco e frango) envolve rigorosas exigências de qualidade que vão da natureza sanitária, embalagens, conservação e até às culturais. Experimentem vender carne de porco aos árabes... Para que se tenha ideia, a luta para o reconhecimento da extinção da febre aftosa no território nacional que permitisse a liberação de nossos produtos para exportação, vem do século passado e exige um esquema de vigilância permanente;

9.      – Atualmente, uma das mega-empresas brasileiras inseriu-se no mercado produtor norte-americano através da compra de uma das maiores empresas americanas manipuladoras de carne e hoje lidera o mercado daquele país;

10.  – Quem trabalha ou já trabalhou no comércio internacional, sabe das rigorosas exigências que todos os países impõem na regulação de importação, ao estabelecer suas normas técnicas de classificação, exigência de performances, testes físico-químicos, sendo de relevar que cada país tem as suas próprias normas técnicas que os exportadores têm que cumprir sob pena de não permitirem sequer o seu descarrego nos portos de destinos;

11.  – É de extrema ignorância imaginar que as empresas importadoras estrangeiras recebam QUALQUER produto, sem procederem os mais severos testes de qualidade dos produtos adquiridos que certifiquem as especificações das normas técnicas de uma linguiça, um vergalhão de aço, um farelo de soja, um punhado de minério ou um avião da Embraer!

12.  – Essas descritas trampolinagens, fruto de procedimentos indecentes e das tenebrosas transações de alguns estabelecimentos frigoríficos com os fiscais de Inspeção dos produtos animais, nunca contornariam as exigências do mercado importador mundial.

Pelo jeito, só a Polícia Federal depois de trabalhar exaustivamente durante dois anos, envolvendo tarefas complicadas em 21 frigoríficos, em trabalho cansativo envolvendo mais de uma centena de agentes, lidando com matérias de alta indagação técnica e numa operação de alta relevância, na ânsia de mostrar serviço estragou o seu trabalho ao fazer uma divulgação apressada e de pouca consistência investigativa.  A leviandade foi tanta que desconheciam que ácido ascórbico é Vitamina “C” e uma inócua discussão sobre embalagens de produtos levou à uma interpretação ridícula de mistura de papelão com carne!
 
Contribuiu, apenas, para proporcionar um tremendo risco de prejuízo aos supremos interesses da Nação que permanece envolvida, atualmente, com sérios problemas econômicos. Que prossigam seu trabalho da forma correta, encaminhando suas conclusões aos órgãos julgadores na forma institucional, no sentido de responsabilizar e condenar os anunciados corruptos e corruptores. Na democracia é assim!
 
Ainda bem que a Carne é Muito Forte e ao que parece, tem suficiente estrutura e respeito para manter a credibilidade conquistada com muita luta durante muitos anos no mercado internacional, como bem demonstram algumas manifestações de alguns países importadores como a Coreia do Sul que levantou o embargo de carnes de frango; os Emirados Árabes, Egito, Arábia Saudita, Chile e a China (maior cliente de carne suína do mundo) mantêm o bloqueio apenas para os frigoríficos investigados (apenas 21 num universo de mais de 4.000); e o que pode remanescer com maior prejuízo é o estardalhaço de sua divulgação e a queda de consumo no mercado interno, em face do desabono geral dos produtos. A conferir!

 

      

 

 

 

 

 

 

 

 

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