Dizia esta semana para um amigo que do jeito
que as coisas estão evoluindo, logo estaremos tirando as crianças da sala para
poder abrir o Facebook, dada a virulência e o despudor da linguagem adotada
pelos participantes. Como se não bastasse o fundamentalismo religioso que está
massacrando milhares de “infiéis” em nome da FÉ, está se criando um
fundamentalismo político-partidário insuportável e um fundamentalismo esportivo
em que se mata gente tendo uma latrina como arma. Fica difícil de suportar. As
notícias nos surpreendem à cada hora e eu estou com dificuldade de entender. E
tudo passa a ser trivial e admissível.
Parece
brincadeira, mas não é. Se não fosse notícia dos jornais do país inteiro,
ninguém seria capaz de acreditar. Vejo diante de mim e do computador na minha
mesa, a manchete da página 1 do Caderno de Economia do Jornal do Comercio de 27
de junho de 2015.
Leio
estarrecido. Respiro fundo. Belisco meu braço para comprovar que não estou
dormindo e sonhando. Vou à janela para me convencer que estou na minha
residência e não noutro país. Consulto o calendário e a data confere. Fato
corriqueiro, deve imaginar o povo brasileiro nesse quadro geral de demência
ética e moral que impregnou definitivamente a cultura dominante!. Reproduzo a
manchete:
“Banco do Brasil vende dólares
falsos. Pai e filha estão retidos nos Estados Unidos após tentarem depositar em
agência americana dinheiro comprado no banco”
Como é mesmo
? O Banco oficial de um país civilizado
vendendo dinheiro falso ? O nosso Banco
do Brasil S/A, instituição bancária respeitável e secular, aceitando dinheiro
falso e servindo de mula para falsários ? Operação somente desmascarada nos
Estados Unidos (que vergonha!) mediante a intervenção do FBI que meteu algemas
no infeliz casal portador e apreendeu o dinheiro falso. O vexame exigiu a
intervenção diplomática da Embaixada Brasileira Será que não existe mais nada
sério neste pobre e espoliado país ? Em quem se confiar ? Será, pelo que se
observa, que o mal tomou conta do coração e das mentes de todos que só pensam
em se aproveitar de tudo e de todos ?
Algumas
perguntas são inevitáveis para os leigos como nós, sobretudo diante do silêncio
ensurdecedor e sepulcral que cerca o episódio. Parece que instalou-se uma
conspiração de omertá uma vez que as
autoridades responsáveis não se manifestam e o assunto é conduzido sem nenhuma
transparência. Pesquisei a matéria a partir da data da primeira ocorrência e a
constatação foi mais triste ainda. A despeito da imperativa intervenção do
serviço diplomático em país estrangeiro, o Governo Federal não deu a menor
satisfação ao povo brasileiro. O Banco emite apenas, através de uma
Superintendência Regional, uma nota anódina e inconvincente sem explicar nada.
Todos fazem cara de paisagem como se tudo fosse natural e não estivesse
acontecendo nada. Há 15 dias retiraram de pauta e não se fala mais nisso em
nosso país !
Sabido que o
Banco do Central do Brasil é o órgão de regulação e controle do sistema
financeiro nacional que envolve o controle e fiscalização do sistema bancário,
não teria a obrigação indeclinável de dar uma satisfação à Nação explicando o
ocorrido e justificando, se fosse capaz ?
Dias depois,
com a divulgação da existência de 6 (seis) casos já constatados na agência
central do Banco do Brasil em Recife de dólares falsos recebidos e passados adiante
(?) é que, após ser autuado pelo
PROCON-Pernambuco de acordo com a legislação de Defesa do Consumidor,
surgiu uma nota da agência do Recife, suspendendo as operações de câmbio com a
moeda norte-americana por 30 dias, que se revela um primor de desavisada
ingenuidade e um desvio ostensivo do verdadeiro foco da questão.
Essa nota é
tão surrealista quanto à circulação de dólares falsos em suas agências e sua
autenticidade concorre com a qualidade do dinheiro circulado em seus caixas.
Comecemos pela origem da nota que, em se tratando de questão grave e de
repercussão internacional, deveria ser iniciativa da Direção Geral do BB e não
de uma simples Superintendência Regional. E quem garante que em outras agências
pelo país afora não estejam ocorrendo ilícitos iguais que exigiriam idênticas
medidas às adotadas em Pernambuco?
Confessa,
ainda, que tomou a providência de “suspender
o serviço de câmbio em todas as agências do Estado por 30 dias” o que quer
dizer: a providência não foi iniciativa
própria e somente foi tomada atendendo à autuação do Procon-Pernambuco que
tem jurisdição e competência restrita apenas a este Estado. Vamos pelo menos
falar com um mínimo de sinceridade. Não fosse a atuação vigilante das
autoridade estaduais, através da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos,
seguramente continuaria a enxurrada de moeda falsa circulando em seus
escaninhos, sem qualquer providência.
E aí vem o
mais grave da nota. Ao invés de lamentar a ocorrência de tão grave fato e, se
possível, justifica-lo prefere explicitar um tendencioso desvio do verdadeiro
foco da questão para “lamentar a
notificação recebida, sem qualquer pedido de esclarecimento”. Essa atitude
corresponde, com todo o respeito, à reação do marido ultrajado vendendo o sofá
para que sua mulher não mais prevaricasse nele. Maldito vezo brasileiro de não
preocupar-se com o cerne das questões e identificar as cáusas que as estão
provocando. Considera-se mais o acessório que o principal. Mais as formalidades
que o essencial. O correto não seria apurar o afrouxamento de regras que
permitiram tal calamidade ?
É inevitável
que se coloquem algumas perguntas ingênuas, à moda de Garrincha na véspera do
jogo com os russos na Copa do Mundo, e perdoem minha ignorância. Não existem
recursos técnicos e tecnológicos para contagem e aferição da autenticidade de
papel moeda ? O Banco do Brasil já tomou
conhecimento da existência de tais equipamentos, se for o caso ? Caso positivo,
o Banco do Brasil já equipou suas agências com eles ? Caso positivo, eles são
obrigatoriamente utilizados no recebimento do papel moeda ? Caso positivo, como
admitir-se a entrada e a saída de dinheiro falso, em qualquer quantidade e em
qualquer agência do Banco, depois de aferidos por esses equipamentos ?
Confia-se, apenas, na habilidade digital dos caixas ?
É muita
irresponsabilidade na prática e na solução das barbaridades, muita indiferença,
muita leniência e, sobretudo, MUITA COISA SEM JUÍZO!
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