domingo, 1 de março de 2015

BODE CHEIROSO

Quando comecei a comentar as figuras populares de Garanhuns, ressaltando os bêbados e loucos maravilhosos que participaram do nosso universo, a repercussão foi grande e surgiram logo comentários sobre outras figuras que enriqueceram o nosso quotidiano, desde crianças. O maior destaque foi para Bode Cheiroso, que mereceu dezenas de comentários que ajudaram muito a plasmar sua personalidade.  Todos tinham sempre mais uma história para contar sobre ele e só me resta a tarefa de completar o rico informativo:

Nos idos de 1950, aportou em Garanhuns uma figura inconfundível. Altura média, meio galego, olhos azuis (um dos comentários falou em lindos olhos), maltrapilho e desleixado e sobretudo alcoólatra, fazendo bicos, pedindo por vezes comida e muito mais vezes cachaça (Vejam a foto).
Tinha um falar com sotaque arrevesado, empolando sílabas desnecessárias que resultava num sotaque peculiar que marca qualquer descrição dele. Surgiu até uma dúvida sobre uma famosa expressão, em que ele dizia: “Bode não gosta de COLCHICHO. Quem gosta de COLCHICHO é padre”, referindo-se à ouvida nos confessionários.

Aproximou-se de nossa casa e, condoído dava-lhe umas roupas velhas que vestia em seus momentos de sobriedade e nos seus episódios de lucidez tinha um falar correto e uma conversa coerente, revelando um razoável conhecimento.
A sua origem era do entorno de Pesqueira, seu nome verdadeiro era Plínio e dizia ser compadre de meu pai que confirmou a circunstância, a quem chamava de Compadre ZÉBAUTATINHA e Comadre CAUMINHA.

Corria uma história, não confirmada, que a razão de sua derrocada foi a a insuportável traição de sua mulher que o deixou inconformado pelo resto da vida. Abandonou o trabalho e entregou-se à embriaguez e nunca descobri se tinha filhos. Disso não falava e tentei, sem sucesso, algumas vezes indagações a respeito.
Na época, meu filho Pedro Leonardo – hoje psicanalista – era criança e quando ele passava um razoável período de ressaca, tomava banho,  vestia roupas limpas e Dulce o encarregava de vigiar as brincadeiras de Pedro no quintal (e ainda tem quem afirme que eu tenho juízo e doido são os outros), missão que desempenhava com muito zelo, até as reiteradas recaídas. Durante o resto de sua vida, ele não esquecia Pedro e toda a vez que o encontrava gritava logo: “PEUDINHO”! e lhe fazia uma desvanecida recepção.

Pedro Leonardo gostava dele e estendeu essa afeição para outras figuras curiosas da nossa terra o Mudo, João do Ovo, Coentro, etc. Com o Mudo entretinha longas conversas (parece difícil mas é verdade pois  ele dominava todo o gestual do Mudo) e talvez  isso explique a sua obstinada vocação de psicanalista. Mas sem tergiversar, voltemos a Bode Cheiroso.
Uma coisa é certa: Apesar do mau aspecto dele e a repulsa que inspirava à primeira vista, era absolutamente inofensivo e até cordial, a não ser que o provocassem e isso não era raro encontrar. Alguns comentários referem até que era usado para amedrontar as crianças, sem nenhuma razão.

Isso ele não merecia. Viva Bode Cheiroso que, à sua maneira, marcou uma época em Garanhuns.
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