sábado, 17 de janeiro de 2015

A LÓGICA PERVERSA DA ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES


Frequentemente nos releases oficiais, nas entrevistas, nos            debates sobre preservação do meio-ambiente, nas veementes reivindicações dos ecologistas, nos anunciados programas do Poder Público em todas as esferas, surge sempre a notícia de que serão plantadas milhares de árvores para “enverdecer” as cidades e torná-las mais habitáveis.

Para seguir a regra, a Prefeitura do Recife acaba de anunciar um programa destinado a plantar 100.000 mudas até o fim do ano de 1916  e de repente, percebe-se que realmente estarão sendo plantadas em quantidade razoável que, certamente, contribuirão para voltar o frescor, amenizar as temperaturas elevadas, reduzir a evaporação e preservar as fontes dágua tão importantes para a vida humana. Adiantam, ainda, que serão plantadas mudas de nada menos de 57 espécies de árvores meramente ornamentais, todas elas frondosas e belas e nada a censurá-las.
Entretanto, como é importante para alimentar o contraditório, imaginemos que ao invés das espécies citadas, tivéssemos 100.000 mudas de árvores FRUTÍFERAS como jambeiros, mangueiras, sapotizeiros, frutas-pão, - igualmente frondosas e belas – mas produzindo milhares de toneladas de alimentos para a população, A CUSTO ZERO, na medida em que essa escolha não representaria qualquer aumento de dispêndio para o programa de arborização.

Tomemos como exemplo a maravilhosa fruta-pão: as publicações especializadas referem que um espécime adulto, mesmo sem maiores tratos culturais, produz por ano cerca de 320 quilos de frutos. Uma simples conta aritmética demonstra que teríamos anualmente nada menos que 32.000.000 (trinta e dois milhões) de quilos de alimentos saborosos e de alto valor nutritivo para a população. Antes que os técnicos me contestem, refiro que isso é só um exemplo, pois todo mundo sabe que o sistema radicular da fruta-pão não permite o seu plantio em calçadas.
Do mesmo modo imaginem o jambeiro que, além dos alimentos fornecidos e altamente produtiva, é uma árvore belíssima de formato conífero - desde que não depredado por podas desastrosas - e forma um lindo tapete de cor bonina à cada floração.

Porém, por nunca explicadas razões e não entendo porque, existe um impiedoso preconceito disseminado na sociedade contra a utilização de árvores frutíferas na arborização das cidades e que tomou conta também dos responsáveis pela coisa pública. Sem qualquer argumento razoável, recusam-se cultivar plantas que forneceriam alimentos saudáveis a toda população, a custo zero, desde que o custeio de mudas frutíferas não se altera em relação às simplesmente ornamentais.
E o preconceito é tanto que em recente proposta da Prefeitura, constante de um alentado “Manual de Arborização” com 56 páginas e definição de 57 (!) espécies meramente ornamentais a serem plantadas, faz-se referência apenas em um único, triste e solitário parágrafo, sem quaisquer explicações que:
“O USO DE ESPÉCIES DE ÁRVORES FRUTÍFERAS, COM FRUTOS COMESTÍVEIS PELO HOMEM, DEVE SER OBJETO DE PROJETO ESPECÍFICO.”

Vejam que perversidade discriminatória! Por exclusão, se forem “frutos comestíveis” pelos animais estão aprovados pelo manual em causa. As árvores “com frutos comestíveis pelo homem” não (!), e remete-as à prescrição para as calendas gregas. É possível que de 2017 em diante se permita plantar um pezinho de pitomba!
Se duas dezenas de técnicos conseguiram uma linhagem de 57 espécies ornamentais sem as inconvenientes dificuldades que autorizem o seu plantio, por que não se atribuiu aos mesmos técnicos a prioridade para as espécies frutíferas que, além da sombra, do verdor, da proteção ambiental ainda forneceria alimentos para a população?. E nem podem alegar que não existam, uma vez que falam em “projeto específico” para o futuro.

Mesmo assim, aleluia !, por não cometerem o mesmo erro de administrações passadas quando fizeram o plantio, em grande escala, das infames castanholas que estão por aí a arrebentar as calçadas, dando trabalho à limpeza pública e produzindo frutos horríveis até para os animais.

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