sábado, 3 de janeiro de 2015

A ANUNCIADA MORTE DE CÍCERO MOTORISTA

Cícero motorista de profissão, recentemente aposentado, é uma pessoa muito conhecida na cidade de Garanhuns e sempre solicitada por meio mundo de gente para eventual prestação de serviços. Bom profissional, inteligente, esperto, conhece de tudo e de todos e de extrema confiança. Apesar de todo traquejo, tem uma dificuldade enorme para as primeiras letras e até hoje continua analfabeto.Desespera-se mas não consegue ler, nem escrever. Tem uma família organizada, construiu sua casa própria e, com um tirocínio econômico surpreendente, não perde oportunidade para aproveitar todas as situações e ganhar seu dinheirinho honesto. Antes de “tirar” sua carteira de motorista, ganhava sua vida lavando carros e, para isso, fazia ponto na Av. Santo Antônio. Com a sua ascensão profissional, foi substituído nesse trabalho por um outro lavador de carros, também chamado Cícero.

A MORTE DE CÍCERO

Um belo dia corre a notícia na cidade que haviam matado Cícero, lavador de carros na cidade e ele, mesmo socorrido no hospital, não resistira e já estava no necrotério (na pedra) do Hospital D. Moura. A divulgação foi rápida e a primeira pessoa avisada foi exatamente o pai de nosso Cícero que, prontamente e com toda diligência, cuidou logo de passar numa mortuária e comprar um caixão e dirigiu-se ao hospital para tirar o falecido da chamada “pedra”, como ainda se chama o leito mortuário em todos os hospitais.

Somente com a chegada do pai de Cícero no Hospital é que se constatou que se tratava do outro CÍCERO que o substituíra lavando carros na Avenida e não o seu filho Cícero. Voltou com o caixão para devolvê-lo à Mortuária e, como é natural, aliviado com a inexistência da morte do seu filho.

À essa altura, conseguiram avisar o nosso Cícero de sua propalada morte que, desesperado, correu para o Hospital ao encontro do pai e  esclarecer as razões do equívoco. Depois disso resolvido, foi avisado de que, possivelmente, sua esposa , Irene,  já poderia ser ter sabido da história uma vez que a notícia corria rápida na cidade, e aí tratou de correr a pés desesperado, para a sua residência a fim de evitar o dissabor para sua família.

Acontece que a caminhada do Hospital Dom Moura até sua casa no bairro da Liberdade é de uma distância razoável e a notícia infausta de que Cícero estaria morto na “pedra” do hospital já chegara ao conhecimento de Irene que, também desesperada, correu a pés no sentido inverso da Liberdade para o hospital em busca do cadáver do falecido.

Imaginem a ansiedade de Cícero e o desespero de Irene que terminou os levando a um inevitável encontro no meio do trajeto. Irene, ao avistar o “fantasma” de seu marido, perdeu os sentidos e desabou no chão em plena rua e, quando desperta, deu um trabalho danado para ser convencida da realidade dos fatos. Enfim, aleluia !, tudo esclarecido.

Porém o mais inusitado é o desfecho e a referência na vida de Cícero ao longo de todos os anos decorridos. Meu filho Pedro Leonardo, que conhece a reação dele, aproveita qualquer novo auditório para solicitar que ele conte a sua história.

E ele nunca consegue chegar ao fim do relato pois, toda vez que é solicitado, não consegue atingir o desfecho por DESABAR EM CHORO CONVULSIVO! Deve ser a única pessoa no mundo – merecendo um Prêmio Guiness - que consegue prantear a sua própria morte antecipadamente!

Um comentário:

  1. Muito boa esta história, assim como todas deste Blog! Dr. Ivan, se o senhor me permite uma opinião, esses excelentes textos caberiam muito bem em um livro de contos. Pode ter certeza que eu seria um dos primeiros compradores e indubitavelmente iria também prestigiá-lo na noite de autógrafos do lançamento do livro.

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