segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A CORRUPÇÃO ENDÊMICA


A Nação inteira assiste, estarrecida, o noticiário sobre a corrupção que toma conta, diariamente, dos meios de comunicação do país. A reincidência é de uma frequência assustadora e a sua difusão reiterada revela uma abrangência enorme, envolvendo a maioria das instituições brasileiras, em todas as esferas e alçadas do poder. Sucedem-se denúncias, indiciamentos e prisões chanceladas pelo Ministério Público e Poder Judiciário, que revelam a existência de instituições ainda não contaminadas pela praga que assola a Nação mas, ao mesmo tempo, indica uma capilaridade preocupante da corrupção.

Após o episódio do chamado “Mensalão” que condenou e prendeu 23 criminosos, na Operação Lava Jato – sem contar com a apuração em curso do ocorrido no Metrô de São Paulo e outras instituições públicas - já foram investigados, denunciados e indiciados mais de trinta figurões das empreiteiras, funcionários, Diretores e Ex-Diretores da Petrobrás e alguns deles presos com habeas-corpus denegado pelo Supremo.

Já se informa que isso é apenas o começo, pois as delações premiadas  devem gerar a denúncia algumas dezenas de suspeitos, inclusive políticos de todas  as origens, e o mais assustador é a generalização da corrupção, quando se desvia o foco do problema para uma desavergonhada discussão sobre quem tenha roubado mais ou menos, quando a GRANDE QUESTÃO é o combate sem tréguas a toda a corrupção, venha de onde vier. Fica muito claro que essa tolerância ante o crime tem raízes profundas na cultura dominante de uma sociedade, que tem como objetivo tirar sempre vantagem em tudo e o consumo desbragado das coisas secundárias.

Revela-se como um corpo social doente, psicopata, com cartolas de clubes capazes de proteger bandos criminosos travestidos de torcida organizada e de pessoas dispostas a exaltar os linchamentos e ainda discutir se seriam justos ou injustos, de acordo com o julgamento de uma turba descontrolada e selvagem.

De pessoas que consideram mais importante cuidar de suas unhas do que zelar pela segurança de crianças que lhes são confiadas e de pais mais preocupados com as suas obrigações profissionais do que a formação dos seus filhos, levando-as à morte. Com uma terrível sedução imposta por todos os meios de comunicação, desde a infância, pelas roupas de “grife” em que não discute a qualidade e sim a marca da etiqueta.

De uma grande parcela da população que esquece os mais comezinhos princípios e valores sadios de ascensão social para dedicar-se a gastos supérfluos para assistir os BBB’s da vida! E o pior, com uma imprensa que pretende ser a formadora de opinião da nação brasileira, anunciando nas suas manchetes em letras garrafais que: “LINCHARAM UMA INOCENTE” como se houvesse diferença no caso de culpa.

A manchete carrega, em si mesma, um pré-julgamento doentio, desumano, anti-cristão que denuncia a existência de uma sociedade seguramente depravada por valores materiais que contrariam qualquer regra de convivência social digna. É por isso que assistimos, a despeito de uma farisaica condenação à corrupção, todo o mundo roubando todo o mundo e chamando os outros de ladrão (vide bancos, supermercados, operadores de telefonia, farmácias, cartões de crédito, etc., etc. etc.).

Percebe-se a generalização da prática de pequenos delitos que são a gênese dos grandes crimes. Ninguém respeita as infrações de trânsito, mas reclamam quando os outros a cometem; condena-se o recebimento de propinas que não existiriam se não fosse a existência dos corruptores; fura-se até as filas preferenciais dos deficientes sob os mais indigentes pretextos; condenam a má limpeza das cidades, mas são os primeiros a jogar lixo nas ruas; abdicando de suas responsabilidades, os pais jogam as crianças nas escolas com uma esfarrapada pretensão de dar-lhes Educação, quando na verdade a Escola dá apenas Instrução e, daí em diante, haja gente grosseira e mal educada.

Tudo isso nos leva à conclusão inarredável de que nunca conseguiremos uma Nação mais justa, solidária, igualitária e decente se não aperfeiçoarmos a sociedade que nós estamos construindo, sobretudo quando considerarmos que qualquer segmento extraído desse corpo social carregará, inevitavelmente, as mesmas mazelas e deformações da sua genetriz. Costumo repetir a comparação grosseira: Ninguém conseguirá extrair um mosteiro de noviças dentro de um bordel!

Sei que é muito difícil, mas observei nos últimos tempos algumas definições que me animam e me levam ainda a acreditar na humanidade, e espero, até morrer. Ninguém nasce mau e depravado. Somos todos responsáveis por toda a miséria que nos cerca!

Li recentemente uma entrevista do grande humanista e Presidente do Uruguai, José (Pepe) Mujica, referindo-se a sua apaixonada militância política na mocidade, afirmou com a singeleza e verdade que lhe caracteriza, que:

“QUANDO A GENTE É JOVEM ACREDITA QUE PODE MUDAR O MUNDO, MAS HOJE ME SATISFAÇO QUANDO CONSIGO DAR UMA MELHORADAZINHA NO MEU BAIRRO”

Gosto muito de aprender com a população e um dia fui surpreendido por um popular que me disse:

“DOTÔ, QUANDO A GENTE QUER LIMPAR NOSSA CIDADE COMEÇA LOGO A VARRER NOSSA CALÇADA”.


Que tal começar fazendo, cada um, a sua parte ?  Seria de bom tamanho e começaria a dar uma melhoradazinha na sociedade em que vivemos e compartilhamos!        

       

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