sábado, 22 de novembro de 2014

O ENTERRO DE DICA


Meu filho mais velho José Ivan, falecido em 2010, sempre viveu nos limites. Na boemia de que nunca se afastou, nas mulheres que sempre cultuou, nos filhos que amava à sua maneira, nos amigos que fidelizou. Com a sua morte descobri, com muita dor, que existe uma saudade alegre, por conta das pessoas como ele que são sempre lembrados pela vida descontraída,divertida e uma capacidade enorme de fazer amigos. Em qualquer roda de conversa, quando se fala em ZéIvan todos têm uma história dele para contar e, invariavelmente, a lembrança é sempre alegre e a risadaria é geral.E aí vai essa do Enterro de Dica:

Um dos amigos inseparáveis de Zéivan era o nosso querido Valença, filho de João Valença e sua família ainda hoje permanece no rol das minhas queridas amizades. Registre-se, para que não caia na vala comum do esquecimento, o traiçoeiro assassinato de Valença na frente de Zéivan. Triste, muito triste, mas sem tergiversar, vamos lembrar uma das queridas figuras de Garanhuns: o sertanejo oriundo do Pajeú Eudo Bezerra de Moura, conhecido como “Dica”, funcionário aposentado dos Serviços Dágua de Garanhuns, participante ativo na comunidade política, sempre corajoso na oposição (velho MDB), Presidente da Liga Desportiva de Garanhuns, perpetuado hoje por uma honrada família – viúva e filhos - ainda residentes em nossa terra. Ocorre que Zéivan e Valença estavam um dia numa das contumazes rodadas de cerveja quando, à uma certa altura do volume etílico, já por volta das quatro horas da tarde, lembram que o querido amigo Dica falecera e o seu enterro estava marcado para aquela hora. O desespero foi grande, pois seria imperdoável não comparecerem ao adeus do amigo tão estimado. Não tiveram dúvidas, pagaram a conta e correram diretamente para o Cemitério de São Miguel, uma vez que o velório já estava perdido. Quando chegaram no alto do Mundaú – início da Rua Luiz Burgos – avistaram o carro da Funerária chegando no portão do Cemitério. Aleluia! chegaram a tempo e com um certo alívio, apressaram a corrida para entrar juntos no cemitério. Foram chegando e apressaram-se a segurar duas alças do caixão e iniciaram a caminhada, em procissão – até o local da cova. Mesmo desconfiados com a modéstia do público presente, pois Dica era uma pessoa muito estimada na comunidade e titular de muitas amizades, foram em frente. O mais importante era a chegada em tempo para a homenagem ao amigo. Tanto que quando chegaram à beira da cova, insistiram para que o caixão fosse aberto e eles pudessem ter uma última visão do amigo e se despedir. Aí a grande surpresa: o defunto era uma velhinha engelhada, acomodada em uma mortalha e com uma touquinha na cabeça! Não restou outra saída para os retardatários senão soltarem a tampa do caixão e retirarem-se às carreiras do cemitério sem dar uma palavra, desde que não tinham a menor explicação para as suas presenças. Lembraram, então que o enterro poderia ser no Cemitério de São Cristovão e correram pressurosos para lá. Mas aí é outra história porque quando chegaram no segundo cemitério, estavam tão atrasados que o enterro já havia terminado e eles, a despeito de toda a sofreguidão, perderam o enterro do grande amigo!

2 comentários:

  1. kkkkkkk Ivan, a história é triste mas eu não me aguentei! estou me acabando de rir aqui! imagino o que vem por aí ...fiquei aqui imginando toda a cena e a correria dos amigos todos já meio altos e aperreados! kkkkkkkkk

    CORA

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  2. Dr. Ivan, muito boa a história! Imagino que o senhor deva ter inúmeras dessas passagens para publicar... Fico curiosa para ler outros episódios! Rsrsrsrsrs

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